Foto: Reprodução/Nakama Aquatics
Quando você pensa em um peixe, é possível que naturalmente lembre de um animal flexível. No entanto, algumas espécies podem surpreender, como o bacu-pedra ou bacu-da-rocha (Lithodoras dorsalis). Espécie de água doce pertencente à família Doradidae, este peixe ocorre na bacia amazônica e apresenta características únicas: aparência robusta e placas ósseas laterais que recobrem o corpo lembrando uma carapaça – daí o nome popular.
As placas, junto com os espinhos dorsais, funcionam como defesa natural contra predadores. E, embora já existam estudos como o do biólogo e ictiólogo Thiago Augusto Pedroso Barbosa – que aborda ecologia alimentar e a distribuição do bacu-pedra – ainda há lacunas no conhecimento sobre seu ciclo de vida completo, reprodução e padrões migratórios.
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A espécie é típica de águas lentas – rios, lagos e canais da Amazônia – e habita o fundo dos rios, onde se alimenta e se abriga. Durante o período de cheia (enchente dos rios), costuma se deslocar para as áreas alagadas, onde encontra alimento em abundância e proteção natural. Na estiagem, retorna para os leitos principais dos rios.
Por isso, o acompanhamento das populações em diferentes pontos da bacia amazônica serve como indicador da saúde ambiental dos rios. Por depender diretamente da vegetação ribeirinha, o declínio do bacu-pedra pode sinalizar desequilíbrios ecológicos mais amplos, relacionados à perda de habitat e à degradação das águas.
No Brasil, pode ser encontrado em Mato Grosso, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima, além de países como a Colômbia, Guiana Francesa e Peru.

Alimentação e função ecológica do bacu-pedra
De acordo com o estudo do biólogo Thiago Barbosa, o bacu-pedra não é apenas um ‘consumidor de fundo’. Em sua fase juvenil, o bacu-pedra apresenta dieta predominantemente herbívora com tendência frugívora, alimentando-se de frutos e sementes provenientes das florestas de várzea.
Essa característica o torna um importante agente de dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração da vegetação ribeirinha.
Com o passar do tempo, a alimentação da espécie pode variar conforme a disponibilidade de recursos. Em períodos de cheia, há maior consumo de frutos e vegetais; na estiagem, aumenta a ingestão de detritos e matéria orgânica acumulada no fundo dos rios. Essa flexibilidade alimentar ajuda o peixe a se adaptar às mudanças sazonais do ambiente amazônico.
“A presença de frutos e sementes na dieta de Lithodoras dorsalis mostra que não se trata apenas de um simples consumidor de fundo, mas de uma espécie que conecta o ambiente ribeirinho terrestre com o aquático. A vegetação das margens fornece suporte alimentar que influencia tanto a nutrição da espécie quanto o funcionamento ecológico mais amplo”, aponta o estudo.
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O bacu-pedra é uma das espécies de bagres comercializadas em feiras e mercados da região amazônica. Apesar de não estar entre os peixes de maior valor econômico, possui relevância na pesca artesanal, sendo consumido localmente e, em algumas áreas, utilizado na culinária regional.

A conservação da espécie depende diretamente da preservação dos habitats de várzea e das matas ciliares. De acordo com a classificação da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), a espécie não está na lista vermelha, sendo considerada “pouco preocupante” no que diz respeito ao seu desaparecimento na natureza.
Porém, o desmatamento das margens, o assoreamento e a poluição dos rios representam ameaças diretas à sua sobrevivência. Alterações no ciclo natural das cheias e secas também podem impactar o comportamento reprodutivo e a oferta de alimento para a sobrevivência desse peixe.
