Perereca-macaco (Pithecopus nordestinus) em processo de tanatose. Foto: Willianilson Pessoa
Você já viu algum bichinho “fingindo de morto” para fugir de uma situação de perigo? Esse comportamento tem nome: tanatose. Trata-se de uma reação utilizada por diversos animais como estratégia de defesa, que quando ameaçados, assumem a postura de um corpo sem vida para enganar predadores.
A estratégia permite com que esses animais, ao serem vistos, encurralados ou tocados, fiquem completamente imóveis, relaxem os músculos e a respiração, “fingindo” que estão mortos.
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Pesquisas publicadas nas revistas Behavioral Ecology e Animal Behaviour mostram que essa imobilidade extrema funciona como uma última tentativa de escapar, já que muitos predadores preferem presas vivas e rejeitam o que parece doente ou morto. E muitos animais da Amazônia usam esse recurso de sobrevivência.
“A tanatose é uma resposta comportamental na qual o animal entra em imobilidade extrema, muitas vezes com o corpo relaxado ou membros dobrados, simulando rigorosamente um animal morto. No entanto, permanecer imóvel pode salvar a vida, mas torna a presa vulnerável se o predador insistir”, explicou o biólogo João Pedro Costa Gomes ao Portal Amazônia.
Segundo o pesquisador, essa reação não é aleatória e geralmente ocorre de forma automática quando estratégias como a fuga ou a camuflagem falham. Estudos publicados na Biological Reviews indicam que a tanatose possui uma base evolutiva, em que alguns indivíduos e espécies são mais propensos a usá-la, conforme o equilíbrio entre riscos e benefícios.
A tanatose, também chamada de imobilidade tônica ou mimetismo de morte, é mais comum do que se imagina, sendo realizada por besouros, gafanhotos, aranhas, rãs, lagartos, aves e até mamíferos como o gambá.
“Na Amazônia, há registros em aranhas-caranguejeiras, gorgulhos, pequenos hílideos (família de animais da classe dos anfíbios), cobras terrestres e filhotes de tinamídeos (aves), cada grupo usando a tática à sua maneira. Ainda assim, todos se beneficiam da mesma lógica: enganar o predador para ganhar tempo e escapar”, afirmou Gomes.
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De acordo com o biólogo, a estratégia é parte de um jogo evolutivo constante entre os predadores e as presas.
“A corrida de adaptações e contra-adaptações da tanatose parece estranha aos nossos olhos, mas essa estratégia simples continua garantindo a sobrevivência de inúmeras espécies nas florestas, campos e rios do mundo, inclusive no coração da Amazônia”, explicou o pesquisador.
Confira sete animais encontrados na Amazônia que praticam a tanatose:
Aranha-caranguejeira

A aranha-caranguejeira (Paratropis sp.) pode praticar a tanatose quando ameaçada por predadores como pássaros, lagartixas, sapos, rãs e até mesmo outras aranhas.
Gambá-comum

O gambá-comum (Didelphis marsupialis), também conhecido como mucura, quando ameaçada, realiza a prática diante de predadores como aves de rapina e carnívoros de médio porte, felinos como o gato-do-mato e a onça-pintada e também o ser humano.
Inhambu-pixuna

O inhambu-pixuna (Crypturellus cinereus) pode realizar a tanatose diante de predadores como corujas, gaviões, onças, jaguatiricas, jiboias e pequenos mamíferos como quatis e iraras.
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Lagarto de olhos elegantes

O lagarto de olhos elegantes (Cercosaura argulus) realiza a tanatose diante de predadores como aves, serpentes e pequenos mamíferos insetívoros.
Cobra-de-terra-de-colar

A cobra-de-terra-de-colar (Atractus torquatus) pode realizar a prática diante de predadores como aves de rapina, outras serpentes e mamíferos carnívoros.
Perereca Mapinguari

A perereca mapinguari (Dendropsophus mapinguari) realiza a prática quando se sente ameaçada diante de diversos animais da floresta amazônica, incluindo aves, répteis e mamíferos.
Gorgulho-de-bico-curto

O gorgulho-de-bico-curto(Platyomus marmoratus) pratica a tanatose, quando ameaçado por animais como aves, pequenos mamíferos, répteis e aranhas.
*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
