Seu reconhecimento internacional é por conta das dezenas de denúncias de violações de direitos indígenas que já fez na ONU e na COP.
Sônia Guajajara, ativista indígena maranhense, está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo, de acordo com a lista divulgada pela revista norte-americana Time. Dividida em categorias – Artistas, Inovadores, Titãs, Líderes, Ícones e Pioneiros -, a publicação divulgou a lista de 2022 no dia 23 de maio. E Sônia Guajajara é uma das escolhidas na categoria Pioneiros.
Ela é destaque por estar na linha de frente na luta contra vários projetos que ameaçam os direitos dos povos indígenas e também o meio ambiente. Seu reconhecimento internacional é por conta das dezenas de denúncias de violações de direitos indígenas que já fez na Organização das Nações Unidas (ONU) e nas Conferências Mundiais do Clima (COP).
O texto de apresentação de Sônia foi escrito por Guilherme Boulos, como coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Brasil, com quem tentou ingressar na política em 2018, quando foi a primeira indígena a compor uma chapa presidencial, na posição de candidata à vice-presidência.
Leia a tradução do texto de apresentação na íntegra:
“Os pais de Sônia Guajajara não sabiam ler e ela teve que sair de casa aos 10 anos para trabalhar. Apesar disso, ela desafiou as estatísticas e conseguiu se formar na universidade. Desde tenra idade, ela lutou contra forças que tentam exterminar as raízes de sua comunidade há mais de 500 anos. Sônia resistiu e continua resistindo até hoje: contra o machismo, como mulher e feminista; contra o massacre de povos indígenas, como ativista; e contra o neoliberalismo, como socialista.
Em 2018, ela se tornou a primeira mulher indígena a concorrer a uma chapa presidencial no Brasil. Hoje, como coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara está na linha de frente da luta contra a tentativa do governo Bolsonaro de destruir as terras indígenas, junto com a floresta amazônica.
Seu trabalho vai desde a participação na COP26 – que criou um fundo de US$ 1,7 bilhão para povos indígenas e comunidades locais, reconhecendo seu trabalho essencial protegendo terras e florestas da degradação – até os últimos meses, quando ela liderou protestos de milhares de pessoas, reunindo centenas de grupos étnicos indígenas, que ajudaram a travar um ‘pacote de morte’ de legislação anti-indígena.
Ela também chamou a atenção nacional para o atropelamento dos direitos indígenas durante a pandemia do COVID-19. Sônia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que salda suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro”.
Boulos é coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Brasil.
A luta de Sônia Guajajara
Ela nasceu na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, em 1974, e é do povo Guajajara/Tentehar. Com pais analfabetos, foi convidada para cursar o ensino médio em Minas Gerais aos 15 anos e depois voltou para o Maranhão. Já em 1991, formou-se em Letras e, em 2003, em Enfermagem, ambas pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Em 2009, Sônia Guajajara foi eleita vice coordenadora das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). Em 2013 foi eleita coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), onde está terminando o seu segundo mandato (2017/2022).
A ativista já recebeu prêmios como a ‘Medalha Honra ao Mérito do Governo do Estado do Maranhão, pela grande articulação com os órgãos governamentais no período das queimadas na Terra Indígena Araribóia’, em 2015, e o ‘Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e da Liberdade, pela Organização Movimento Humanos Direitos,’ em 2019.