A publicação foi realizada pela revista Science e os pesquisadores ressaltam a capacidade do bioma de combater o efeito estufa.
O manguezal é um ecossistema único que consiste em uma transição entre o ambiente aquático e terrestre. O solo lamacento característico deste bioma é o berço de uma complexa cadeia alimentar, além de servir como repositório de matéria orgânica e realizar a filtragem de poluentes. O Brasil possui a segunda maior área de manguezal de todo o mundo (e a maior área contínua), e a maior parte desta área fica no Estado do Maranhão, o que possibilitou que vários cientistas realizassem pesquisas que apontassem a importância ecológica deste ecossistema.
Um grupo desses cientistas, composto por integrantes de todas as Universidades do Maranhão (UFMA, UEMA, UEMASul, UniCEUMA e IFMA), além de outras Instituições de Pesquisa de fora do Estado, publicou uma carta em uma das revistas científicas mais renomadas do mundo, a revista Science, sobre os manguezais.
No texto, os pesquisadores ressaltam a capacidade do manguezal em armazenar CO2 (principal gás responsável pelo efeito estufa) e mitigar os efeitos do aquecimento global. Segundo os cientistas, a lama e a vegetação deste bioma tem até dez vezes mais capacidade de “sequestrar” o carbono que iria para a atmosfera, e só a área brasileira é responsável por armazenar até 8% de todo o CO2 do planeta.
Essa capacidade de combater o efeito estufa faz com que a preservação do manguezal seja uma prioridade de interesse público.
Na carta, os pesquisadores também expõem a sua preocupação acerca das mudanças na legislação que garantia a proteção ambiental das vegetações nativas: em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a resolução de 2020 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), reduzindo a proteção legal do ecossistema.
Para o grupo de pesquisadores, é fundamental que exista um programa de proteção governamental dos manguezais, que fiscalize e evite o desmatamento, inclusive com o uso de força policial. Na carta, também é sugerida a implantação de um programa oficial de monitoramento contínuo das áreas de manguezal, semelhante ao que já acontece com a Amazônia e o Cerrado.
“O manguezal é uma área de preservação permanente, isso quer dizer que ele tem que ser deixado intacto para que ele possa prestar todos os seus serviços e bens, não só para a sociedade humana , como também para a região costeira como um todo”, explica o pesquisador titular por trás do documento, Denilson da Silva Bezerra.
Primeiro autor da carta, Denilson é pesquisador do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA e consultor Ad Hoc da Fapema. Ele possui Graduação em Ciências Aquáticas (UFMA-2005), especialização em Recuperação de Áreas Degradadas (UEMA- 2008), Mestrado em Saúde e Ambiente (UFMA-2008) e Doutorado em Ciência do sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).