Vinícius de Albuquerque faz análise da cena literária de Rondônia.
O tempo passou. O menino escritor descobriu a poesia que o arrebatou. Hoje, aos 52 anos, o juiz de direito atuante em Vilhena (sul de Rondônia), está prestes a publicar “contratempo” — seu segundo livro individual — o primeiro foi “ainda”, título que está na terceira edição; ele já participou também de várias coletâneas.
A sessão de autógrafos será dia 1º de setembro na livraria Café & Letras (Galeria Mirage, centro de Vilhena) das 16h30 às 19h30. Composto de 65 poemas, “contratempo” foi maturado ao longo de uma década. Não significa que o poeta passou todo esse tempo escrevendo-os, mas foram muitas vezes revisados e modificados, tentando alcançar a síntese do que ele conseguiria dizer.
O livro “contratempo” (em minúsculas, mesmo) foi concebido como uma obra coesa. A citação inicial — “Creio. Tenho fé na forma que não deixa resto” — de autoria do escultor mineiro Amilcar de Castro (1920/2002) é, de certa forma, desenvolvida ao longo do livro até resultar no último verso do último poema. “Apesar disso, cada poema, lido a esmo, também se resolve em si, é um pequeno e modesto universo, digamos assim”, sublinha Vinícius.
Indagado se ele já usou a pena do poeta na sua atividade como magistrado, o escritor conta que não poetou nada de autoral nas lides do fórum. Mas, uma vez, usou a letra de “Pedaço de mim” (canção de Chico Buarque) numa sentença: “Os versos da música popular bem traduziram o sofrimento de uma família que perdeu um filho e foi algo necessário no contexto de delimitar a indenização por danos morais”.
Vinícius de Albuquerque não vê contrassenso entre ser juiz e poeta. “Ou antes poeta e depois, juiz”, conforme ele enfatiza. “Para mim a poesia é essencial, sem dúvida”. Segundo ele, é algo que permite o uso de uma linguagem significativa, repensada, em busca de descobertas ainda possíveis, a despeito da utilização da nossa Língua Portuguesa de todo dia.
Das referências no universo poético, o autor tem muitos nomes. Mas, com certeza, dentre eles não podem faltar João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Henriques Britto e seu querido amigo Aguinaldo Gonçalves.
Acerca da cena da literatura em Rondônia, Vinícius diz que aqui “produz-se em silêncio”. Avalia que o Estado não carece de bons autores, mas sim de divulgação para se alcançar o público. O que existe em Rondônia, afirma, são basicamente duas linhas principais: a da poesia popular, regional e memorialista e aquela outra, de produção acadêmica universitária.
Para o poeta Vinícius de Albuquerque, as vertentes citadas acima “mereciam encontrar-se com maior frequência em saraus populares e eventos acadêmicos abertos ao público, como o SELL (Seminário de Estudos Linguísticos e Literários), uma preciosidade promovida pela Universidade Federal de Rondônia (campus de Vilhena).
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