Juiz que já usou letra de música em sentença lança livro de poesia

Vinícius de Albuquerque faz análise da cena literária de Rondônia.

Quando tinha oito anos de idade, o paulistano Vinícius Bovo de Albuquerque Cabral já era encantado pela literatura. Fez de seu caderno um diário em que ia anotando arremedos do livro que ele nunca publicou. Eram ficções carregadas de aventuras espreitadas pelo olhar infantil.

O tempo passou. O menino escritor descobriu a poesia que o arrebatou. Hoje, aos 52 anos, o juiz de direito atuante em Vilhena (sul de Rondônia), está prestes a publicar “contratempo” — seu segundo livro individual — o primeiro foi “ainda”, título que está na terceira edição; ele já participou também de várias coletâneas.

A sessão de autógrafos será dia 1º de setembro na livraria Café & Letras (Galeria Mirage, centro de Vilhena) das 16h30 às 19h30. Composto de 65 poemas, “contratempo” foi maturado ao longo de uma década. Não significa que o poeta passou todo esse tempo escrevendo-os, mas foram muitas vezes revisados e modificados, tentando alcançar a síntese do que ele conseguiria dizer.

A capa de ‘contratempo’. Foto: Divulgação

O livro “contratempo” (em minúsculas, mesmo) foi concebido como uma obra coesa. A citação inicial — “Creio. Tenho fé na forma que não deixa resto” — de autoria do escultor mineiro Amilcar de Castro (1920/2002) é, de certa forma, desenvolvida ao longo do livro até resultar no último verso do último poema. “Apesar disso, cada poema, lido a esmo, também se resolve em si, é um pequeno e modesto universo, digamos assim”, sublinha Vinícius.

Indagado se ele já usou a pena do poeta na sua atividade como magistrado, o escritor conta que não poetou nada de autoral nas lides do fórum. Mas, uma vez, usou a letra de “Pedaço de mim” (canção de Chico Buarque) numa sentença: “Os versos da música popular bem traduziram o sofrimento de uma família que perdeu um filho e foi algo necessário no contexto de delimitar a indenização por danos morais”.

O juiz-poeta atua em Rondônia. Foto: Divulgação

Vinícius de Albuquerque não vê contrassenso entre ser juiz e poeta. “Ou antes poeta e depois, juiz”, conforme ele enfatiza. “Para mim a poesia é essencial, sem dúvida”. Segundo ele, é algo que permite o uso de uma linguagem significativa, repensada, em busca de descobertas ainda possíveis, a despeito da utilização da nossa Língua Portuguesa de todo dia.

Das referências no universo poético, o autor tem muitos nomes. Mas, com certeza, dentre eles não podem faltar João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Henriques Britto e seu querido amigo Aguinaldo Gonçalves.

Acerca da cena da literatura em Rondônia, Vinícius diz que aqui “produz-se em silêncio”. Avalia que o Estado não carece de bons autores, mas sim de divulgação para se alcançar o público. O que existe em Rondônia, afirma, são basicamente duas linhas principais: a da poesia popular, regional e memorialista e aquela outra, de produção acadêmica universitária.

Para o poeta Vinícius de Albuquerque, as vertentes citadas acima “mereciam encontrar-se com maior frequência em saraus populares e eventos acadêmicos abertos ao público, como o SELL (Seminário de Estudos Linguísticos e Literários), uma preciosidade promovida pela Universidade Federal de Rondônia (campus de Vilhena).  

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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