Teste que identifica sexo de pirarucu e tambaqui é desenvolvido pela Embrapa Amazônia

A tecnologia de sexagem precoce é inédita para peixes nativos do Brasil.

É pouco confiável diferenciar o sexo apenas pela aparência dos animais. A identificação do sexo no tambaqui (Colossoma macropomun) só é possível pela inspeção visual do peixe adulto. No caso específico do pirarucu (Arapaima gigas), os métodos disponíveis são invasivos, limitados ao período reprodutivo, e de alto custo.

A solução tecnológica consiste em testes de sexagem molecular a partir de um pedaço de 0,5 centímetro cauda do peixe. Com a amostra no laboratório, o resultado do sexo é gerado rapidamente.

A solução consiste em testes de sexagem molecular. Foto: Siglia Souza/Embrapa Amazônia Ocidental

O teste de sexagem genética de pirarucu é realizado na Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus (AM) e o teste de sexagem genética de tambaqui será realizado na Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO).

A sexagem molecular tem como vantagens oferecer de forma rápida, precoce e com precisão acima de 90% o resultado. O teste pode ser realizado em qualquer fase de desenvolvimento do peixe, além de não ser invasiva. 

Para desenvolver os testes, os pesquisadores da Embrapa estudaram a fisiologia das espécies, com foco nos aspectos genéticos que levam os indivíduos a se tornarem machos ou fêmeas. A técnica é resultado de pesquisas realizadas em colaboração com o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), na França, a Universidade de Würzburgo, na Alemanha, e a Universidade de Stirling, na Escócia. 

A sexagem pode ser realizada em qualquer fase de desenvolvimento do peixe. Foto: Siglia Souza/Embrapa Amazônia Ocidental

A pesquisadora Fernanda Loureiro de Almeida O’Sullivan, da Embrapa, que trabalhou na coordenação do projeto e na experimentação dos testes, considera que as parcerias com universidades e institutos de pesquisas internacionais foram fundamentais para o desenvolvimento da tecnologia, principalmente porque as pesquisas na área estão bem mais avançadas nos países em que produtos aquícolas já são tratados como commodities, como Noruega, Escócia, China e Canadá. 

Para o pesquisador Mateus Contar Adolfi, pós-doutorando na universidade alemã de Würzburgo, que contribuiu com o desenvolvimento do trabalho, afirma que:

“O Brasil tem uma enorme capacidade técnico-científica, além de uma das maiores costas do mundo e uma rede hidrográfica majestosa. É urgente o desenvolvimento de uma ciência aplicável à produção de peixes, assim como a utilização desse conhecimento na manutenção de espécies ameaçadas de extinção”.

Mateus Contar Adolfi

A nova solução tecnológica consiste em testes de sexagem molecular. Foto: Siglia Souza/Embrapa Amazônia Ocidental

Como funciona 

A tecnologia é baseada em marcadores moleculares do DNA associados ao sexo, utilizando a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês). O’Sullivan explica que essa identificação é fundamental para a reprodução do pirarucu em cativeiro, pois é necessária a formação de casais que devem ficar isolados em tanques menores para se reproduzirem. “A oferta de um teste simplificado e eficiente de sexagem de pirarucu vem finalmente amparar os produtores de alevinos a montarem seus casais corretamente, evitando erros e perdas de produção por identificação equivocada de machos e fêmeas”, comenta.

O pesquisador destaca que o teste permitirá ao piscicultor melhor planejamento em sua atividade: “o produtor vai sair dessa zona da subjetividade para identificar o sexo de cada peixe e poder fazer um planejamento mais objetivo”. A previsão é que os testes permitirá uma redução muito importante de custos e aumento de produtividade. 

De acordo com os pesquisadores, a coleta de amostra para esse teste é fácil e rápida, podendo ser feita pelo próprio produtor durante o manejo dos peixes. Entretanto, eles ressaltam que cada peixe deve ser previamente identificado por meio de microchips.

A tecnologia é baseada em marcadores moleculares do DNA associados ao sexo. Foto: Siglia Souza/Embrapa Amazônia Ocidental

Dificuldades atuais na identificação 

Quem cria peixes como o pirarucu e o tambaqui enfrenta a dificuldade de identificar machos e fêmeas para formação de casais e seleção de reprodutores para formação de plantel. “Isso porque não existem diferenças visuais marcantes ou precisas entre os sexos nestas duas espécies de peixe”, explica O’Sullivan.

Para o tambaqui, a espera para identificar visualmente machos e fêmeas é em torno de três anos até os peixes ficarem adultos e esse longo período para formar ou renovar um plantel de reprodutores gera perdas econômicas e atraso no melhoramento genético; principalmente, quando existe um número bem maior de um sexo em relação ao outro. 

Na prática, produtores costumam observar os padrões de coloração que diferenciam pirarucus adultos machos e fêmeas na época de reprodução, porém, esse procedimento não é totalmente eficiente, podendo ocorrer enganos e gerar falhas na formação de casais, acarretando prejuízos pela perda de tempo na espera de uma reprodução que não ocorre.

Além disso, como são animais grandes em condições de cativeiro (o pirarucu chega a atingir 10 quilos em um ano de cultivo, podendo chegar a 200 quilos na fase adulta), o acondicionamento inadequado de peixes na tentativa de formarem casais pode gerar brigas e acidentes entre os animais, causando danos e prejudicando todo o processo reprodutivo. Além da identificação pela cor, são conhecidos como métodos para identificar o sexo do pirarucu a ultrassonografia, a laparoscopia, a canulação em fêmeas, a dosagem de hormônios reprodutivos e a dosagem da proteína vitelogenina. 

O testes é feito a partir de um pedaço de 0,5 centímetro cauda do peixe. Foto: Siglia Souza/Embrapa Amazônia Ocidental

Como adquirir 

Podem ser usuários do serviço de sexagem molecular tanto os produtores de alevinos de pirarucu e de tambaqui, quanto as instituições de ensino e pesquisa que trabalham com melhoramento genético dessas espécies, além de empresas e laboratórios especializados em agropecuária.

Para adquirir o serviço de sexagem molecular para identificação individual do sexo dos peixes, é necessário entrar em contato com as seguintes Unidades da Embrapa: com a Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus (AM), para o serviço de sexagem de pirarucu, pelo telefone (92) 3303-7800; com a Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), para o serviço de sexagem de tambaqui, pelo telefone (63) 3229-7800.

Interessados em mais informações técnicas ou em esclarecer dúvidas sobre esse serviço podem entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Embrapa.

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