Programa que identifica pragas no cacau a partir do uso de inteligência artificial no Pará é certificado pelo INPI

A proposta é que sejam identificadas as principais doenças que acometem as plantações de cacau, como a vassoura de bruxa, praga que chegou a devastar quase 100% das plantações em algumas regiões da América Latina.

Um software gratuito que pode auxiliar produtores a identificar pragas em plantações de cacau amazônico, evitando perdas na produção. Tudo isso utilizando inteligência artificial. Essa é função do primeiro programa de computador registrado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), no Pará,  junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão federal responsável pelo registro de marcas e patentes. O registro foi recebido pela universidade dia 13 de novembro e tem proteção intelectual válida por 50 anos.

“As universidade que se destacam no registro de patentes e programas de computador são melhores ranqueadas e, consequentemente, são vistas como uma instituição importante na geração de inovação tecnológica. Neste sentido, uma universidade federal, ao facilitar o processo de obtenção de patentes resultantes de pesquisas financiadas por fundos federais, atrai mais recursos, provenientes da obtenção de notoriedade junto aos parceiros públicos, parceiros privados e fundações de amparo a pesquisa. Em paralelo, podem operacionalizar a comercialização por parte das universidades destas patentes e programas de computador”, explica o professor Fabricio Noura, diretor do Núcleo de Inovação e Transferência Tecnológica (NIT), que é o canal para que sejam realizados os pedidos e os trâmites para a proteção das invenções e produtos originados de ensino, pesquisa e extensão na universidade.

Foto: Divulgação/Arquivo NPCA

O programa, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Computação Aplicada (NPCA), da Ufra campus Paragominas foi consolidado a partir do uso de uma base pública de dados, que agora será refinado especificamente para o cacau da Amazônia. 

“Até o momento, apenas com essa base de dados pública, nós já conseguimos 97% de taxa de acerto. Conforme formos adaptando e treinando a tecnologia para as especificidades da nossa região, o objetivo é que essa acurácia se mantenha ou aumente. Não existe essa base de dados sobre o cacau da Amazônia, nós estamos criando, então quanto mais imagens conseguirmos captar, mais acertos”,

explica o professor Marcus Braga, coordenador do projeto e do NPCA.

O Pará é o maior produtor de cacau do Brasil, com produção de 146.375 toneladas, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2021. “A cadeia produtiva do cacau é fundamental para a economia do estado, é moeda de exportação. Para mantermos esse título e atendermos essa demanda, é fundamental que o estado consiga ter a capacidade de prever pragas na produção, o que gera maior possibilidade de intervenção imediata”, diz o pesquisador.

Até agora o grupo já percorreu produções de cacau em Marituba, Castanhal e Tomé-Açu, registrando imagens de frutos saudáveis e com pragas. A proposta é que sejam identificadas as principais doenças que acometem as plantações de cacau, entre elas a mais conhecida é a vassoura de bruxa, praga que chegou a devastar quase 100% das plantações em algumas regiões da América Latina.

“Assim que finalizarmos o software, o produtor poderá baixar gratuitamente o aplicativo, que também pode ser usado diretamente na web. Lá, ele poderá tirar uma foto do fruto e submeter ao programa, que através da visão computacional e IA, vai utilizar da base de dados que coletamos para fornecer um diagnóstico prévio do que pode ser o problema”, explica o professor Marcus Braga. Segundo ele, além de também fornecer instruções básicas sobre o que aquele produtor pode fazer, isso pode ajudar a identificar de forma mais rápida pragas que podem ser controladas, evitando perdas e prejuízos financeiros ao produtor.

Em janeiro do próximo ano o grupo de pesquisadores deve ir até Medicilândia, município que corresponde a 34,69% da produção paraense, segundo a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap).

Foto: Divulgação/Arquivo NPCA

O projeto é financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e encerra em julho de 2024. A intenção dos grupo é que ele seja estendido a partir de outras propostas de pesquisas, entre elas uma verificação que vai além de imagens, mas de verificação do solo. 

“Nós só temos como ter a visão externa do cacau, não temos como saber como está dentro do fruto. Mas podemos usar a biologia molecular para verificar a qualidade do solo em que aquele cacau está plantado e contaminantes”, afirma. 
Com isso a proposta é desenvolver um selo do cacau, livre de doenças e contaminantes e voltado para a Bioeconomia. Outras propostas também estão sendo desenvolvidas pelo grupo, incluindo a detecção de pragas no milho e ervas daninhas em lavouras de soja.

Além do programa de computador desenvolvido pelo NPCA, a Ufra conta com 14 patentes registradas junto ao INPI. 

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