Professora dá orientações para evitar a infestação de alimentos por carunchos

Caruncho, gorgulho, bicho-da-farinha são insetos que aparecem em feijão, milho, arroz e outros grãos e cereais

Caruncho, gorgulho, broca…não importa o nome. Para quem já se deparou com um, ou melhor, com dezenas deles, pode não ter sido tão agradável. Isso porque esse inseto faz parte de um complexo de besouros que gosta de alguns alimentos que nós também gostamos.

“Eles são fitófagos, ou seja, se alimentam de material vegetal. O grande problema ocorre devido a alimentação de grão armazenados, por isso aparecem em feijão, milho, arroz, outros grãos e cereais, e tendo a oportunidade também podem se alimentar de macarrão, que tem como matéria prima a farinhas de trigo”, explica o entomologista Ivan Martins, professor na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) campus Capanema.

Carucho no arroz. (Foto:Divulgação)

E as condições climáticas também contribuem para que esses insetos se multipliquem. “Eles apresentam elevada capacidade de reprodução, tempo de vida longo, considerando que são insetos e são adaptados a viver em ambientes com condições extremas, como ambientes com baixa umidade. Isso faz com que as populações aumentem rapidamente e se alimentem dos grãos armazenados”, diz.

Porém, é na fase imatura (larva) que esses insetos causam prejuízos. “Após a fêmea colocar os ovos sobre ou dentro dos grãos, dependendo da espécie, as larvas se alimentam da parte interna dos grãos deixando galerias e, muitas vezes, dependendo da quantidade de larvas, não sobra quase nada. Os adultos podem também se alimentar dos grãos, mas também se alimentam de pólen e néctar de flores, e algumas espécies adultas podem ficar até sem se alimentar”. Segundo o pesquisador, o ciclo de vida vai depender muito da espécie, mas podem chegar a 200 dias o ciclo completo (sendo maior parte fase larval). Um besouro adulto pode viver em média 40 dias e a fêmea pode ovipositar centenas de ovos durante o ciclo.

Entre os insetos mais comuns que são encontrados “brocando’ esses alimentos estão os besouros das famílias Chrysomelidae, Dryophthoridae, Curculionidae e Tenebrionidae. Espécies comuns são: Zabrotes subfasciatus (Coleoptera: Chrysomelidae) Sitophilus granarius (Coleoptera: Dryophthoridae) Sitophilus oryzae (Coleoptera: Dryophthoridae) Tribolium castaneum (Coleoptera: Tenebrionidae).

De acordo com o pesquisador, os produtos a granel acabam tendo mais chances de serem infestados. E essa contaminação também pode ocorrer no transporte ou armazenamento do produto.

“Ao perceber furos nos pacotes ou besouros andando nos grãos, evitar comprar este alimento. Se a detecção já for em casa e for descartar o alimento, recomenda-se congelar os produtos por mínimo 24 horas antes de jogar fora, com isso evita disseminação”, orienta. Uma das dicas para evitar essa proliferação vem das plantas, que podem ser usadas como repelentes naturais. “Muitas plantas apresentam óleos essenciais que repelem estes insetos então pode se colocar estes de forma seca nos frascos ou até mesmo no ambiente que se armazena os produtos. Podemos citar como exemplos de repelentes ou inseticidas naturais os grãos de pimenta-do-reino, folhas de louro, folhas de neem, cravo-da-índia. Não se recomenda usar inseticidas químicos porque pode causar toxicidade e inviabilizar o alimento”.

Outra dica é observar o prazo de validade, como explica a engenheira de alimentos Rafaela Cristina Alves Barata, docente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Ufra, campus Belém.

“Desde o supermercado esses insetos podem ser carregados para o armário doméstico, por isso o ideal é observar as embalagens desses grãos suscetíveis a essa praga, sempre antes da compra, observando se existem buracos na embalagem . Os gêneros secos também possuem validade e os alimentos que já estão próximos do vencimento podem conter mais umidade, o que pode facilitar a atração desses insetos para o alimento. Por isso, é importante sempre organizar a dispensa de forma que alimento mais antigo seja o primeiro a sair para o consumo, o que é válido até mesmo para os gêneros secos. Além do cuidado na hora da compra, em casa os recipientes devem sempre estar limpos, ou seja, toda vez que acabar um alimento, higienizar os potes de armazenamento antes de reabastecer com novos alimentos. É importante lembrar que além da higiene dos potes herméticos de armazenamento também é necessário limpar os armários, pois qualquer acúmulo de restos de alimentos pode atrair novos insetos e até roedores”, explica.

E dá pra consumir o alimento após a infestação?

Segundo o pesquisador Ivan Martins, as larvas nascem e crescem dentro dos grãos e assim como adultos recém emergedidos e que não tiveram contato fora, não costumam causar problemas. Mas os insetos que vem de fora e que podem ter tido contato com contaminantes, podem carregar em suas pernas fungos e bactérias.

Para a professora Rafaela Barata, os carunchos não apresentem danos à saúde do ser humano, mas o recomendável é evitar o consumo desses alimentos com infestação, por não sabermos sobre essas contaminações.

“A priori dizemos que não é bom reaproveitar, pois visivelmente nós até podemos perceber a infestação dos carunchos ou a quantidade deles presentes no alimento, mas não podemos ver a olho nu se o alimento já está contaminado também com outros microorganismos, principalmente pensando que esses insetos podem ter tido contato com contaminantes e serem veiculadores de bactérias e fungos toxigênicos, que podem transmitir para os alimentos toxinas que fazem mal ao organismo humano”, explica.

Segundo a professora Luiza Helena Martins, também docente no curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Ufra, embora seja possível separar os alimentos visivelmente bons se a infestação for pequena, principalmente de alimentos que vão passar por um processo de cozimento, o consumo não pode ser considerado totalmente seguro.

“Existem toxinas que são resistentes ao calor, então isso dependeria do tempo de cocção do alimento, não sendo considerado um consumo seguro. E não tem como garantir que os cereais infestados serão consumidos em preparações quentes”, explica. De acordo com a pesquisadora, esses insetos podem inutilizar lotes inteiros, causando prejuízo também ao comerciante.

Gorgullho no milho. (Foto:Divulgação/Ento)

“É importante lembrar que o controle é feito no campo, entretanto há ocasiões que o inseto consegue sobreviver ao processamento, beneficiamento e a embalagem. Fazer um armazenamento adequado e limpeza do ambiente de armazenamento é o recomendável, de modo que não haja condições para propagação”, explica.

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