Foto: Ceci Sales/Acervo pessoal
Um estudo coordenado pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Ceci Sales da Gama Campos, espera compreender sobre a síntese de compostos bioativos específicos pelos cogumelos, e verificar possíveis potenciais de aplicações na área farmacológica ou nutricional.
Amparada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Universal – Edital Nº 006/2019, a pesquisa avança com resultados importantes. Segundo as primeiras análises já é possível dizer como cultivar os fungos para que produzam a massa desejada, assim como, obter esses ativos e a identidade química deles.
Ela adianta que quanto aos resultados práticos sobre tumores ou células de câncer, já foram feitos testes em poucas linhagens celulares, mas é preciso ampliar os testes em diferentes tipos de células de câncer. Futuramente, o estudo tem intenção de desenvolver um suplemento de cogumelo 100% nacional, mas, para isso, todo o processo de ampliar a escala de cultivo tem que estar bem desenhado e funcionando.
“Positivamente sabemos quais são as proteínas de defesa que estes compostos estimulam o sistema imune a produzir”, disse Ceci Campos, acrescentando que os ativos dos cogumelos podem ajudar a eliminar os radicais livres, impedindo que eles danifiquem as células do corpo, prevenindo o aparecimento de doenças.
Até o momento pesquisa já produziu, em escala piloto, cogumelos comestíveis de importância nutricional, com elevado teor de proteína, fibra e baixo teor de lipídeos, importantes para a saúde humana.
Os bioativos obtidos (frações polissacarídicas) de duas linhagens de cogumelos estudadas apresentaram potencial imunomodulador, a partir da redução de moléculas inflamatórias, um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento do câncer.
“Testamos esses bioativos em ratas prenhes e observamos a redução de triglicerídeos e colesterol, quando estas foram alimentadas com uma linhagem de cogumelo regional”, disse Ceci.
De acordo com a pesquisadora, os compostos naturais fortalecem as defesas do corpo, podendo contribuir significativamente no tratamento do câncer, mas alguns desses ativos, como os polissacarídeos podem atuar matando as células tumorais. Porém, ainda são necessários mais estudos para compreender melhor a forma de ação dessas biomoléculas.
“Futuramente podemos usar esses ativos como um complemento, uma ajuda para melhorar a condição do paciente como um todo. Dessa forma, esses medicamentos podem ajudar a imunidade do paciente e, assim, o próprio sistema de defesa do organismo ajuda no combate à doença”, observou a coordenadora, explicando que os ativos podem fazer com que as células do sistema imunológicos produzam proteínas que vão até as células tumorais e fazem uma espécie de marcação e, essas células tumorais marcadas são identificadas pelo corpo e eliminadas.
Processo
Ceci Sales disse que para chegar aos primeiros resultados a um possível potencial dos cogumelos na prevenção e tratamento de células tumorais cancerígenas, foram utilizados os cogumelos nativos da Amazônia, que inicialmente foram coletados, isolados e mantidos em meio de cultura para a produção em escala.
Depois foram submetidos a dois processos de cultivo: cultivo em meio sólido (fermentação em estado sólido), em câmaras especiais com controle de temperatura, umidade e luminosidade para a obtenção dos cogumelos, os quais foram coletados, processados e submetidos às diferentes análises e, o cultivo em meio líquido, também conhecido como fermentação em estado líquido, sendo este último, conduzido em equipamento especial conhecido como biorreator, até obter uma massa denominada micélio, a qual também foi coletada, processada e seguiu para as análises.
*Com informações da Fapeam