O potencial é tamanho que há destaque ainda nos mercado de cosmético e de biocombustível, além de alimento.
“Buscamos conhecer o valor nutricional e potencial antioxidante do coproduto do tucumã agroindustrial, no intuito de reaproveitá-lo para a obtenção de novos produtos. Seria uma forma de minimizar os impactos ambientais causados pelo descarte inadequado desse coproduto e contribuir com a sustentabilidade, bioeconomia e valorização das espécies da nossa região amazônica”,
defende a pesquisadora.
Partículas produzidas compõem alimento funcional
“A microencapsulação por spray drying promove a retirada do solvente e a transformação dos extratos líquidos em sólidos, conservando as propriedades bioativas e possibilitando uma maior estabilidade destes”, justifica a pesquisadora. O processo também favorece a incorporação de componentes bioativos em diversos produtos alimentícios, enriquecendo e conferindo propriedades funcionais.
Para a pesquisa, Lindalva contou com o apoio da Indústria Amazon Oil, responsável por ceder o coproduto. O primeiro passo do trabalho foi realizar o tratamento do material obtido e efetuar um controle de qualidade.
Nessa fase, foi avaliada a composição nutricional, envolvendo aspectos como umidade, cinzas, proteína, fibras, lipídeos e carboidratos. Na sequência, foi obtido o extrato hidroetanólico bruto e microencapsulado. O extrato também passou por um controle de qualidade e teve avaliada sua composição química e atividade antioxidante. Por fim, foram obtidas as micropartículas secas por spray dryer, usando maltodextrina para o extrato hidroetanólico e maltodextrina e goma arábica para o extrato oleoso.
“Os resultados da pesquisa mostram que o coproduto do tucumã é rico em macronutrientes como proteínas, lipídeos, carboidratos e fibra alimentar. O extrato hidroetanólico é rico em ácidos fenólicos (cafeico e gálico). O extrato oleoso é rico em carotenoides e as micropartículas obtidas por spray dryer são ricas em ácidos fenólicos e carotenoides. Todos com potencial antioxidante”, descreve Lindalva Maria de Meneses Costa Ferreira. “Desta forma, as micropartículas contendo o extrato do coproduto do tucumã, ricas em antioxidantes, podem ser utilizadas como alimento funcional”, aponta.
Pães e biscoitos vão abastecer escolas ribeirinhas
“Serão desenvolvidos pães e biscoitos contendo as micropartículas utilizadas como alimento funcional. Os pães e biscoitos serão oferecidos na merenda escolar de crianças das comunidades ribeirinhas do estado do Pará”,
comemora a pesquisadora.
O projeto vai receber apoio financeiro do Banco da Amazônia, sob coordenação da professora Roseane Maria Ribeiro Costa, do Laboratório de Síntese e Nanotecnologia Farmacêutica (PPGQ³/UFPA). A nova pesquisa também conta com orientação do professor José Otavio Carréra Júnior, do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento Farmacêutico e Cosmético (Faculdade de Farmácia/UFPA). Atualmente, a pesquisa aguarda aprovação no Comitê de Ética.
“Foi de grande importância realizar a pesquisa e mostrar que um produto geralmente desprezado possui potencial promissor para ser reaproveitado e gerar novos produtos. Deixei minha contribuição para a ciência e sustentabilidade, com foco na valorização da região amazônica”, orgulha-se a farmacêutica.
O poder do tucumã
O tucumã é um fruto alaranjado, quando maduro, que apresenta 3 a 5 cm de comprimento. Trata-se de um alimento bastante nutritivo. A polpa é considerada uma fonte alimentícia rica em compostos pró- vitamina A, macronutrientes e ácidos graxos, principalmente ácidos oleicos, esteáricos e linoleicos. Apresenta quantidades relevantes de fibras e vitamina E e possui boas quantidades de vitamina B1, vitamina C, compostos fenólicos, fi toesteróis e tocoferóis, o que torna o fruto uma excelente alternativa ao combate da hipovitaminose A.
Pelo elevado teor de carotenoides, é utilizado para o tratamento de problemas nos olhos e na pele. A título de comparação, o fruto possui um teor vitamínico três vezes superior ao da cenoura e 90 vezes maior que o do abacate, superando três vezes a necessidade diária de vitamina A recomendada para um homem adulto, característica esta que lhe confere elevada capacidade antioxidante, anti-inflamatória e anticarcinogênica. O fruto pode ser consumido in natura ou na forma de sucos, licores, doces, massas, picolés, geleias, mingaus, sorvetes, tortas, sanduíches e farinhas.
Da polpa, é extraído um óleo de cor alaranjada, cujo uso na culinária se assemelha ao do azeite de dendê, com alto teor de ácidos graxos e consistência de vaselina em temperatura inferior a 27°C. Pode-se utilizar a casca do caroço in natura, mas também se pode extrair um óleo da amêndoa, o qual contém ácidos graxos 90% saturados.
Sobre a pesquisa
A dissertação ‘Obtenção, caracterização e microencapsulação de extratos ricos em antioxidantes naturais a partir do coproduto das amêndoas do tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.)’ foi defendida por Lindalva Maria de Meneses Costa Ferreira, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF/ICS), da Universidade Federal do Pará, em 2019, com orientação do professor José Otavio Carréra Júnior.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio/UFPA, edição 167, escrito por Edmê Gomes