Nas curvas do tempo com Luiz Antony

Toda nova geração, especialmente aquela que imigra para nosso estado, e, é o caso de Luiz Antony, forja novos padrões, valores e atitudes sobre a vida e a sociedade em que se estabeleceram.

Trecho da rua Luiz Antony, no então Centro de Manaus. Em primeiro lugar, na parte central da foto, o espaço em obras é, hoje, os fundos do Colégio e Faculdade Dom Bosco. Em segundo lugar, mais adiante, vê-se a parte superior do antigo Hotel Cassina e, logo a seguir, o topo do prédio do INPS (IAPETEC). Acervo: Arquivo Público Municipal de Manaus. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Sonhar e acreditar. Dessas duas qualidades resultam as realizações e os afazeres do espírito humano, fatores indispensáveis para a perpetuação das aspirações enobrecedoras e a construção de possibilidades efetivas para a existência humana.

Toda nova geração, especialmente aquela que imigra para nosso estado, e, é o caso de Luiz Antony, forja novos padrões, valores e atitudes sobre a vida e a sociedade em que se estabeleceram. Esses caminhos escolhido por ele se descortinam e na sua época foram o resultado do seu entusiasmo, da fé e da crença por dias melhores em nosso torrão e se construíram com doação e muito trabalho.

A história de um povo, de uma nação, é feita por homens e mulheres. O homem faz a história e a história faz o homem. Luiz Antony compreendeu que era possível construir e perpetuar sua história entre nós. Ele nasceu em Florença, na Itália, ainda muito jovem, em companhia de seu pai, o negociante Henrique Antony, embarcaram para Manaus. Aqui cresceu e se educou ao melhor estilo da época, e muito mais tarde, tornou-se comerciante, como fora no exemplo das atividades e das amplas relações sociais de seu pai. No decorrer do tempo, viajou para o Rio de Janeiro, como destaca Agnello Bittencourt, na sua obra Dicionário Amazonense de Biografias – vultos do passado:

[…] O Brasil vivia tempos difíceis, os dois, pai e filho, se alistaram voluntariamente para Guerra do Paraguai, representando o fronte e a defesa do Brasil. O ardor da luta, assinalou a tempera de verdadeiros heróis. Chegaram ao posto de Tenente Coronel. Mas, o pai, em combate foi atingindo por um estilhaço de granada perdendo a vida”.

Fonte: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1973. Pag,: 333.

Lucano Antony (1897-1946). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Luiz Antony continuou em combate, até o final da guerra, regressando vitorioso e promovido no posto de Coronel.

Já em Manaus casou-se com a senhora Francisca Perdigão, era o início de sua vida familiar na cidade que escolhera para viver. O casal trouxe ao mundo os filhos: Coronel Antônio Guerreiro Antony, que foi destaque na vida política do nosso estado e de grande prestígio local, tornou-se no decorrer do tempo funcionário público ate aposentar-se, Coronel Hidelbrando Luiz Antony, também funcionário público ate aposentar-se, Leandro Perdigão Antony, também funcionário público até aposentar-se e João Carlos Antony Engenheiro Chefe da Prefeitura Municipal de Manaus por cerca de 45 anos. A saga da família Antony são de pessoas notáveis, que marcaram e continuam marcando sua presença em Manaus.

Seu filho João Carlos Antony natural do Amazonas tornou-se umas das figuras mais representativa da ilustre família dos Antony. Sua mãe Senhora Leocádia Antony, era amazonense filha de Antônio José Brandão, um português também ilustre, irmão do celebre Arcebispo de Braga e de Lisboa Dom Frei Caetano Brandão.

Lucano Antony e amigos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Após concluir seus estudos seguiu para Florença na Itália, onde diplomou-se em Arquitetura, logo após regressando ao Brasil para Belém do Pará, no mês de julho de 1876, nesta mesma oportunidade transitava por Belém com destino aos Estados Unidos, o Imperador Dom Pedro II, nesta oportunidade João Carlos Antony integrou-se à Comissão Receptadora dos festejos em homenagens à sua Majestade.

De volta à Manaus iniciou sua vida profissional ao lado do Engenheiro inglês John Moreton tendo organizado a empresa de abastecimento de água em Manaus, em cujo trabalho além da rede de distribuição de água havia também o Reservatório da Castelhana e a Casa de Máquina do Bombeamento, eram um serviço que exigia grande responsabilidade, com a chegada da república, a firma Antony & Moreton encerrou seu contrato com o governo do estado.

João Carlos Antony. Um dos líderes do movimento abolicionista no Amazonas com destacada atuação. Foto:Abrahim Baze/Acervo Pessoal

João Carlos Antony que na verdade assinava seu nome como J. Carlos Antony ingressara na vida política e tendo sido eleito para a Assembleia Legislativa Provincial entre o biênio de 1874 à 1875. Naquele período, nomes importantes da Polícia local estiveram ao lado dele, tais como: Dr. Luiz Carneiro da Rocha, Tenente Coronel Clementino José Pereira Guimarães e outro também de família tradicional Coronel Francisco Antônio Monteiro Tapajós.

No término de seu mandato continuou na vida pública onde fora nomeado Engenheiro Chefe da Prefeitura de Manaus, cuja função permaneceu por 45 anos. Homem simples, de hábitos simples nunca pode construir uma residência para sua família, a aposentar-se cansado e envelhecido procurou comprar uma pequena casa no Bairro do Alto Nazaré, casa esta que jamais pode concluir sua obra na qual residiu até sua morte. Seu trabalho na prefeitura lhe permitiu participar da abertura do Cemitério São João Batista, tendo planejado o traçado o novo cemitério da cidade e participou de sua inauguração.

João Carlos Antony casou-se com professora Maria Lima de Amorim Antony, filha do negociante português Alexandre Paula de Brito Amorim que a esta altura foi o primeiro Cônsul Português, em Manaus e o introdutor da navegação estrangeira inglesa para o Amazonas.

Coronel Antonio Guerreiro Antony, casado com Raimunda de Andrade Antony. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Outro fato interessante que está ligado diretamente ao João Carlos Antony ocorreu no dia 8 de novembro de 1885, quando Comendador José Cláudio Mesquita recebeu a visita do médico Dr. João Machado de Aguiar Melo oferecendo gratuitamente seus serviços médicos, logo que o Hospital dispunha de uma enfermaria que pretendia estabelecer e receber seus doentes, este fato humanitário foi aceito imediatamente. João Carlos Antony foi autor da primeira planta do projeto da construção do primeiro hospital português no Largo da Uruguaiana.

J. Carlos Antony nasceu em Manaus a 19 de março de 1833, tendo falecido no dia 2 de novembro de 1918. A tradicional família Antony escreveu com seus descendentes importantes momentos da história do Amazonas.

Raimunda de Andrade Antony. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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