Miranda Corrêa: uma história que marcou época

Formada de intelectuais, a família viveu um período importante da vida econômica da cidade de Manaus.

Da esquerda para a direita: governador Ephigênio Salles e primeira dama senhora Alice no casamento de sua filha Arlete de Miranda Corrêa, oficializado por Dom Basílio e seu monsenhor-secretário Oliveira. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Hoje, indagando a esquina das lembranças da minha cidade, voltei a pensar na fábrica de cerveja lá no final do antigo Bairro dos Tocos, hoje Aparecida, em Manaus. Imagina com seria tomar um suco de fruta tropical sem que a água estivesse gelada. Pois era exatamente assim que nós amazonenses tomávamos sucos.

Tudo mudou a partir do surgimento fábrica de Gelo Cristal em 1903, que trouxe não somente a novidade do gelo para os amazonenses como também inaugurou um período de prosperidade econômica para a região através do pioneirismo da Família Miranda Corrêa. Os ventos sopravam favoráveis para aquela família que imigrava do vizinho Estado do Pará, mais precisamente de Santarém, e assim era dado o pontapé inicial para que o Amazonas entrassem no circuito da era industrial.

Altino Flávio de Miranda Corrêa. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Essas e outras tantas curiosidades históricas fazem parte do meu livro ‘Miranda Corrêa – Histórias e Memórias‘, uma história que não se perdeu no tempo. A família Miranda Corrêa que participou do processo de desenvolvimento socioeconômico de Manaus com a implantação da indústria no Amazonas, logo amplia seus negócios com a fábrica de cerveja. Esta importante família de empresários oriunda de Santarém, transferiu-se para Manaus com seu clã.

A empresa Miranda Corrêa & Cia iniciou seu empreendimento com 1600 contos de reis, naturalmente uma importância expressiva na época, com a inauguração da fábrica de Gelo Cristal e logo em seguida a Cervejaria Miranda Corrêa, inaugurada em 1910. Além da primeira fábrica de gelo no Amazonas, a família Miranda Corrêa abre a primeira fábrica de cerveja no Norte do país, a famosa XPTO, cuja produção abastecia nos navios estrangeiros que aportavam em Manaus com retorno para Europa.

A família Miranda Corrêa é tradicionalmente uma família ilustre do Pará. Foram seus irmãos os engenheiros Antônio Miranda Corrêa e Altino Corrêa da Costa Miranda, todos industriais progressistas que deram muitas provas em sua terra natal e no Amazonas. Tiveram sérios problemas depois das duas grandes guerras mundiais, pois financeiramente se abateram.

Deoclécio C. de Miranda Corrêa. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Formada de intelectuais, a família viveu um período importante da vida econômica da cidade de Manaus. Acostumados ao luxo e à pompa, dos bem-sucedidos empresários do início do século em nossa cidade, eram atração da intelectualidade da cidade, vivendo em seu belo palacete na esquina da Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua Monsenhor Coutinho.

Aficionados por sarau, festas de Carnaval, os Miranda Corrêa promoveram verdadeiros desfiles de carros alegóricos quando este evento era realizado na Avenida Eduardo Ribeiro, fato este que não passava despercebido da população manauara que se aglomerava nas calçadas da avenida ou nas esquinas para observar a folia do momo.

Outro fato interessante era o estudo e o interesse do empresário Luiz Maximino de Miranda Corrêa na pesquisa da cultura e reprodução do bicho-da-seda que poderia proporcionar a criação de uma indústria de tecido o que possibilitaria forte elevação da economia do estado.

Antonino C. de Miranda Corrêa. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Maximino Corrêa deixou escrito o seu artigo ‘A Cultura do Bicho da Seda no Amazonas’, cujo trabalho comprova por argumentação científica a produção do bicho-da-seda mostrando o desenvolvimento das árvores de amora e o desenvolvimento do bicho-da-seda, pois nosso clima era extremamente favorável.

Maximino de Miranda Corrêa era um homem de larga visão econômica, tendo tentado inclusive estabelecer em terras nas proximidades de Manaus uma usina de açúcar, pois o produto faltava com frequência. Precisava de um empréstimo relativamente pequeno, fornecido pelo governo do estado, sob a responsabilidade de pagamento da Cervejaria Miranda Corrêa, cujo prédio valia a época pelo menos cinquenta vezes mais que o empréstimo solicitado.

Referente a este assunto, o Procurador-Geral do Estado, Dr. Marcionilo Lessa, foi quem deu parecer que o erário somente deveria ser atendido no caso do estado reservar o direito de regular a tabela de preço do açúcar. Diante do exposto, a família Miranda Corrêa desistiu do empréstimo.

Luiz Maximino era um visionário, tinha sua formação como engenheiro e possuía uma variada cultura, inclusive o domínio das artes. Apesar de um tanto atingido pela surdez, tocava excelentemente bem piano interpretando os grandes clássicos. Entre os grandes serviços prestados ao Amazonas, pois o mesmo era generoso, destaca-se o acabamento das obras do Grupo Escolar Ribeiro da Cunha, quando presidia o Governo do Estado, o Dr. Alfredo Sá, no ano de 1925.

Luiz Maximino de Miranda Corrêa. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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