Foto: Reprodução/Youtube – Rui Alves
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
Ouvimos dizer que uma das formas da manutenção e perpetuação da espécie humana é através da escrita biográfica, cuja materialização lhe promove a imortalidade, no olhar de seus leitores. Como artífice de muitos trabalhos, especialmente consertando rádio da Oficina Antena, na época de José Azevedo, José Fonseca Moura tomou para si, a tarefa muitas vezes árdua, porém sensível, de agasalhar nos seus pensamentos, no seu mundo interior, todos os motivos, todos os sonhos, especialmente sua crença em Nossa Senhora de Fátima e muito mais trabalhando duro para seu crescimento financeiro.
Foram ações que ele se dedicou carinhosamente, tudo quanto fez e promoveu na sua passagem entre nós. É neste apostolado de eleitos que o homem José Fonseca Moura trabalhou com a generosidade de seus talentos e ofereceu o labor humanamente inexplicável de toda sua arte de criar e recriar para aproximar amigos do seu convívio social.
Há quem construa na trajetória da vida a sua própria história. José Fonseca de Moura, hoje ausente de nosso convívio pessoal, pôde apresentar-se já a partir de sua inserção no mundo do trabalho e da luta pela sobrevivência, um exemplo de conquista. Feliz o homem que faz de seu existir um testemunho de luta diária para construir sua própria história, são seres desta estirpe que ajudam a vida a ser melhor. Foi essa ação constante, metódica, consciente, heroica algumas vezes e abnegada outras tantas, que forjou seu caráter, sua história, com tantas passagens importantes que ele conseguiu constituir o mútuo e legítimo orgulho de seus familiares.
São tantos os portugueses que dedicaram suas vidas ao Luso Sporting Club e a Sociedade Beneficente Portuguesa que acabaram escrevendo suas narrativas com linhas de ouro e que ficam marcadas nas águas do rio da memória, tão caudalosas são suas vidas que se confundem, com os rios da Amazônia.
Histórias de vidas como se fossem o triângulo que movimenta nossas canoas na batida compassada e rítmica, nos remos que a faz deslizar. José Fonseca Moura é um desses portugueses que em busca de dias melhores, aportou em Manaus trazendo consigo a sua juventude e a saudade dos familiares que ficaram para trás em Portugal. Já se foram anos com a forte lembrança dos sábados à noite e dos domingos pela manhã que ele trabalhava como discotecário nas manhãs ensolaradas do Amazonas no Luso Sporting Clube.
No sábado era a noite do bolero e no domingo as manhãs de sol. José Fonseca Moura colocava toda sua sensibilidade musical trabalhando como discotecário, perlustrava uma verdadeira viagem musical. Outro momento que vale a pena lembrar é a sua participação nas pastorinhas, fato que até hoje é referência neste clube lusitano. Como diretor atuante passou por várias funções, inclusive tendo presidido o Conselho Deliberativo do Clube.
Homem sensível na percepção dos significados humanos, cuja generosidade estava sempre presente na sua melhor tradição na colônia portuguesa. Nasceu lá em além-mar, exatamente em Loriga, Portugal, tendo chegado a Manaus no dia 10 de março de 1963.
Trabalhador e homem simples, teve sua vida construída profissionalmente de início na empresa S. Monteiro, nos períodos de folga e finais de semana ajudava o Rádio Técnico José Azevedo na oficina de sua propriedade, Oficina Rádio Técnica Antena. Manaus foi para ele a descoberta, acredito para tantos outros portugueses, que acreditaram na realização e na vivência seguida do prazer da própria descoberta de um amanhã venturoso. José Fonseca Moura como tantos outros portugueses partilhou da ideia de construir sua trajetória de vida em outra pátria e configurando um modelo aplicável de que trabalhando é possível vencer. Em nenhum momento curvou-se diante dos problemas e das dificuldades, pois, problemas eram sempre comuns especialmente a saudade da família que logo fora superado.
Logo o coração buscou companhia e encontrou abrigo no calor humano da jovem Benvinda. Mulher, companheira, amiga que o recebeu em matrimônio e logo Deus lhe ofereceu as filhas: Ida Paula, Maria dos Anjos e Cinthia. Filhas que completaram argumentação de que se pode ser feliz em qualquer lugar deste mundo de meu Deus. Ela nasceu no dia 3 de maio de 1946 e faleceu no dia 11 de outubro de 2023.
Ida Paula Brandão, esposa de Ronaldo Tafuri Brandão, com quem teve os filhos Guilherme Moura Brandão e Leonardo Moura Brandão. Maria dos Anjos da Silva, casou-se com Hamilton Pereira da Silva Júnior, ficou viúva. Teve os filhos: Gabriella Duanne da Silva Moura e Hamilton José Pereira da Silva. E Cinthia da Silva Moura dos Reis, casada com Victor Pereira dos Reis, com quem teve as filhas Beatriz Moura dos Reis e Isabella Moura dos Reis.
Loriga, a cidade de nascimento de José Fonseca Moura
Fundada originalmente no alto de uma colina entre ribeiras onde hoje existe o Centro Histórico da Vila. Loriga foi escolhida a mais de 2 mil anos devido à facilidade de defesa (uma colina entre ribeiras), a abundância de água e de pastos, bem como ao fato de as terras mais baixas providenciarem alguma caça e condições mínimas para a prática da agricultura. Desta forma estavam garantidas as condições mínimas de sobrevivência para uma população e povoação com alguma importância.
Quando os romanos chegaram, a povoação estava dividida em dois núcleos. O maior, mais antigo e principal, situava-se na área onde hoje existem a Igreja Matriz e parte da Rua de Viriato e estava fortificado com muralhas e paliçada. No local do atual Bairro de São Guinés, existiam já algumas habitações encostadas ao promontório rochoso, em cima do qual os Visigodos constituíram mais tarde uma ermida dedicada aquele santo.
Loriga era uma paróquia pertencente a Vigararia do Padroado Real e a Igreja Matriz foi mandada construir em 1233, pelo Rei Dom Sancho II. Esta Igreja, cujo orago (padroeiro) era já o de Santa Maria Maior e que se mantêm. De estilo romântico, com três naves e traça exterior lembrando a Sé Velha de Coimbra, esta Igreja foi construída pelo sismo de 1755, dela restando apenas partes das paredes laterais.
O sismo (terremoto) de 1755 provocou enormes estragos na vila, tendo arruinado também a residência paroquial e aberto algumas fendas nas robustas e espessas paredes do edifício da Câmara Municipal construído no século XII. Um emissário do Marquês de Pombal esteve em Loriga a avaliar os estragos, mas ao contrário do que aconteceu com a Covilhã (outra localidade serrana muito afetada em Portugal), não chegou do governo de Lisboa qualquer auxílio.
Após o século XVIII
Loriga é uma vila industrial (têxtil) desde a segunda metade do século XIX. Chegou a ser uma das localidades mais industrializadas da Beira Interior e a atual sede de conselho só conseguiu suplantá-la quase em meados do século XX. Tempos houve em que só a Covilhã ultrapassava Loriga no número de empresas.
Nomes de empresas, tais como: Regato, Redondinha, Fonte dos Amores, Tapadas, Fandega, Leitão & Irmãos, Augusto Luís Mendes, Lamas, Nunes Brito, Moura Cabral, Lorimalhas, etc, fazem parte da rica história industrial desta vila. A principal e maior avenida de Loriga tem o nome de Augusto Luís Mendes, o mais destacado dos antigos industriais loriguenses, apesar dos maus acessos, que se resumiam a velhinha estrada romana de Loriga numa vila industrial.
Porém, a partir da segunda metade do século XIX, como já foi mencionado, tornou-se um dos principais polos da Beira Alta, com a implantação, da indústria dos lanifícios (produtos de lã), que entrou em declínio durante a última década do século XX, o que está a levar a desertificação da Vila. Atualmente, a economia loriguense baseia-se nas indústrias metalúrgica e de panificação, no comércio, na agricultura e pastorícia.
Loriga e a sua região possuem enormes potencialidades turísticas e as únicas pistas e estância de esqui existentes em Portugal estão localizadas na Serra da Estrela, dentro da área da freguesia de Loriga.
Em termos de patrimônio histórico, destacam-se a ponte e a estrada romanas (século I a. C.), uma sepultura antropomórfica (século VI a. C.) chamada popularmente de caixão da moura, a Igreja Matriz (século XIII, reconstruída), o Pelorinho (século XIII, reconstruído), o bairro de São Ginês, a Rua de Viriato e a Rua da Oliveira.
A estrada romana e uma das duas pontes (a outra ruiu no século XVI após uma grande cheia na Ribeira de São Bento), com as quais os romanos ligaram Loriga, na Lusitânia, ao restante do império.
A Rua da Oliveira é uma rua situada no centro histórico da vila. A sua escadaria tem cerca de 80 degraus em granito, o que lhe dá características peculiares. Esta rua recorda muitas das características urbanas medievais. O Bairro de São Ginês, histórico de Loriga, tem características que o tornam um dos bairros mais típicos da vila. Curioso é o fato de este bairro dever o nome a São Gens, um santo de origem céltica martirizado em Arles, na Gália, no tempo do imperador Diocleciano. Com o passar dos séculos os loriguenses mudaram o nome do santo para São Ginês.
Vale ressaltar a importância dos imigrantes portugueses oriundos de Loriga ao Amazonas. Eram comerciantes importantes na praça de Manaus e no dia 5 de junho de 1909 fizeram publicar um jornal em número único que retratava a importância desses portugueses longe de sua pátria mãe.
Foram muitos recursos enviados a partir de Manaus contabilizados pelos loriguenses. Entre os melhoramentos levados a efeito em Loriga, destaca-se até uma canalização de água para abastecimento público (foto de destaque na matéria). Foi enviado para Loriga, importâncias em 1 mil reis, especialmente para implantação das fontes e pela necessidade da ausência de água encanada seus moradores se abasteciam nas fontes. Muito foi feito também para implantação da iluminação pública.
Outro fato interessante da contribuição dos Loriguenses residentes em Manaus, foi quando chegou as notícias do grande terremoto que sofreu Portugal. Logo começaram enviar recursos para país natal.
Crescia dia a dia o grande entusiasmo da Colônia Loriguense residentes em Manaus. Notícias chegadas de Loriga informavam sobre as quatro fontes que jorravam água cristalina. Vale lembrar que os loriguenses residentes em Belém do Pará também se uniram em prol de enviar recursos para atender a necessidade de Loriga, no entanto, Manaus se destacou, com número expressivo.
Os contribuintes de Manaus foram: Jeremias Pina, João Marques da Fonseca, Pedro d’Almeida, Emília Augusta, Dr. Manoel da Mota Veiga, estes sócios honorários.
Sócios contribuintes de Manaus: Emygdio Alves Nunes de Pina, Antônio Ambrósio de Pina, José Ambrósio de Pina, Abílio Diogo Gouveia, Albino Pinto Martins, Joaquim de Pina Monteiro, Antônio Duarte dos Santos, Alfredo de Moura Frade, João de Moura Pina, José Martins de Pina, Albano de Mello, José Pinto Matheus, Emílio Freire Mendes de Reis.
Sócios contribuintes em Belém do Pará: Manoel Nunes Ferreira, Antônio Diogo Gouveia, José Fernandes Maurício, Augusto Simões Carril, Antônio Apáricio Martins, Alexandre de Moura Galvão, Antônio de Moura Lemos, Manoel dos Santos Silva, Antônio Duarte Pina, João de Moura Pina.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista