A Maçonaria do Amazonas se confraterniza com a Maçonaria de Minas Gerais

A honrosa visita do ilustre maçom Gerson Occhi.

Foto: Gerson Occhi/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

A Instituição Maçônica, cuja origem é motivo, ainda hoje, de paciente perquirição, ensejando as mais diversas opiniões, todas elas, porém demonstrando o caráter universalista da nossa Ordem, sempre se constituiu em tema apaixonante de apreensão da inteligência humana, especialmente quando o ilustre maçom Gerson Occhi chega até nós trazendo a luz dos conhecimentos e da fraternidade.

Difícil, por certo, será a sua conceituação uniforme, uma vez que o seu processo de expansão e evolução acompanha os fatos que se desenrolam entre os homens, gerando as motivações civilizadoras e gentis, quando esta luz é conduzida por um nobre irmão de outras plagas.

E por nossa gratidão ao bom irmão Gerson Occhi é que, na opinião de Alfredo de Paiva, somos uma associação universal filosófica, reflexo sempre de nobres tendências inspiradas na mais perfeita tolerância, humildade e principalmente no intuito de transformar esta visita em momento de aprendizado e de luz.

Sua presença espelhada por seus conhecimentos maçônicos nos serviu de bálsamo para todas as dores e aflições que pudéssemos ter. A Loja Grande Benemérita Rio Negro n.º 4, que ofereceu abrigo e proteção ao nobre irmão, permitiu a construção de fortes alicerces entre as duas instituições, em cuja presença bebemos da sabedoria deste estimado irmão.

As instituições humanas, tenham ou não amplitude de ação, acompanham o evoluir dos tempos e modificam as normas disciplinadoras de seu comportamento e de suas atividades, afim de se adaptarem ao processo de desenvolvimento das sociedades modernas. Não devem, porém, desmantelar o seu alicerce, mas consolidá-lo sempre para o edifício construído não ruir.

A presença do nobre irmão em nosso Templo Maçônico, permitiu ser formada uma unidade entre o Amazonas e Minas Gerais, uma unidade indissolúvel como o fogo, a chama e a centelha que provem da mesma fonte, para provocarem a luz do brilho do referido irmão.

Não podemos negar que nossos registros históricos, sejam em Minas Gerais ou no Amazonas, assinalam a participação de maçons na evolução dos povos. O irmão Gerson Occhi plantou no jardim da esperança da Grande Benemérita Loja Simbólica Rio Negro n.º 4 a semente benfazeja no Amazonas. Ele nada mais fez do que trazer sua pregação de caráter filosófico que aprimorou o caráter humano.

A importante trajetória maçônica de Gerson Occhi – meio século de história

Foto: Gerson Occhi/Acervo pessoal

“[…] Meu primeiro contato com a maçonaria, ocorre, quando estava com 18 anos, na cidade de Leopoldina, Loja 27 de abril, pelas mãos de um primo, Urias Siqueira, então, Venerável da Loja. Em julho, íamos a Leopoldina, por ocasião da famosa Exposição Agropecuária e hospedávamos na casa de nossos familiares, o senhor Urias nos recebia muito bem, juntamente com sua esposa Professora Violeta Mendonça.

Saindo para um passeio, meu anfitrião, conduziu-me para conhecer a Loja. Nesse primeiro contato, fiquei deslumbrado e desde então, residiu em meu âmago o interesse pela surpreendente Maçonaria.

Passaram-se anos, já graduado em Direito e História, ministrando aulas em Colégios de Juiz de Fora, mas natural de Guidoval, próximo a Ubár, recrudesceu o meu interesse pela Maçonaria. Havia um tio meu, Felicio Siqueira, membro da Loja fraternidade Ubaense que, juntamente com José Damato, Jair Dutra Venâncio, Francisco Pinto de Aguiar, José Negueta, maçons de Guidoval e obreiros da referida Loja, iniciaram gestões para minha apresentação àquela Oficina tendo como padrinho o irmão Joaozito Vieira, no ano de 1971. Ocorre que, o processo não prosperou, pois, tendo residência fixa em Juiz de Fora, a legislação do GOB, obstaculizava o procedimento da iniciação. O processo foi então enviado para a Loja Fidelidade Mineira, de Juiz de Fora, que percorreu os tramites legais, sendo iniciado nesta Sesquicentenária Loja, no dia 24 de junho de 1972, dia de São João, nosso patrono.

Era Venerável Necy Alves de Azevedo, o grande maçom, José da Silva Ribas, ex-Grão Mestre do GOMG e Venerável da Loja por 8 mandatos, um exemplo a ser seguido.

A Maçonaria passou a fazer parte indispensável da minha vida, a empolgação tomou conta de mim. Quanto mais aprendia, tanto mais me apaixonava pela filosofia e história da Sublime Ordem. Nossa Loja era grande em número de membros e com belíssima história. Ela havia participado do movimento da Abolição dos Escravos, alforriando, em 1873, três escravos, quinze anos antes da abolição. Neste mesmo ano, encetou gestão a favor da Proclamação da República, recebendo em seu templo, os lideres Quintino Bocaiuva, Nuno Telmo e Saldanha Marinho, então, Grão-Mestre do Grande Oriente Unido e ex-Governador da Província de Minas Gerais.

Graças ao apoio e instrução dos irmãos, pude fazer progresso na Maçonaria, assim é que, em 1975 fui eleito Orador da Loja e reeleito em 1977, tendo como Venerável, José da Silva Ribas e depois Celso Alves Damasceno, culto, fraterno, estudioso, outra joia rara dentre os maçons. Em 1976, sou indicado, pelo General Braga Mury. Secretário de Cultura do GOB, para ministrar Historia do Brasil, Visão Maçônica, no Seminário para Mestres Maçons, em nossa região.

Em 1978, ainda na turbulência de reflexos das eleições de 1973, quando o ir. Athos Vieira de Andrade, disputando o cargo de Grão-Mestre do GOB, obtendo 7.175 votos, fora derrotado pelo ir. Osmane Vieira de Resende, com 3.820, em uma manobra vexatória do Tribunal Eleitoral Maçônico, anulado 5.046 votos do ir. Athos. A Loja protestou e sofreu retaliação, com a expulsão de toda sua Diretoria pelo GOB, Celso Damasceno, José da Silva Ribas, Américo Duarte Pacheco, José Maria Dutra, Humberto Benedito Filho, Gerson Occhi. Este ato deu motivo a fidelidade Mineira para desligar-se do GOB, o que ocorreu na memorável sessão de 16 de abril de 1978, pela unanimidade dos presentes, migrando para o Grande Orinete de Minas Gerais.

Tive o prazer de ocupar a oratória por 8 mandatos, além de vigilante, Mestre de Cerimonias e membro de várias comissões.

Eleito Venerável para o bienio 1995/1997 e reeleito para novo biênio em 2003/2005, promovemos algumas modificações no Templo e no prédio campestre na da Rua das Arvores, 133. No segundo mandato, fui eleito vice-Presidente do Conselho de Veneráveis das Lojas de Juiz de Fora e Região.

Nos altos Corpos da Fidelidade, fui Aterzata do Capítulo e Presidente da Loja de Perfeição Virgílio Rodrigues Cruzeiro.

Permaneci no grau 30 de 1988 até 2013, quando me filiei ao Supremo Conclave Autônomo do Rito Brasileiro, galgando os graus 31, 32 e 33.

Na Assembleia Legislativa do GOMG, fui Deputado durante 11 anos ocupando a Presidência em 1984, reeleito em 1985. Disputei as eleições com dois saudosos irmãos, com larga folha de serviços em prol da maçonaria, Joaquim Augusto Ramos e José Monteiro Bittencourt, aos quais rendo minhas homenagens póstumas. Encontrei uma Assembleia desmantelada, a ponto de os arquivos e livros se resumirem a uma caixa de papel Chamaex. Reivindiquei, junto ao Grão-Mestre, Athenagoras Café Carvalhaes, melhores condições de trabalho, recebendo uma sala, com armário e máquina de escrever (computador era luxo). Criei uma lista de presenças, para cada encontro.

As reuniões eram realizadas em todo dia 10, o que estava dificultando a vinda de deputados do interior, devido aos seus afazeres, nos seus respectivos orientes. Fizemos gestões junto a eles e passamos a nos reunir no primeiro sábado, o que persiste até hoje. Assim, a frequência aumentou em mais de 50%.

Na condição de Presidente do Poder Legislativo, acompanhei o Grão-Mestre, em 1984, até Caracas, na Venezuela, onde participamos da reunião anual da AIPOMA (Associação Indoiberoamericana de Potências Maçônicas), onde o nosso Grão-Mestre Athenagoras, deixou uma excelente impressão, pelo seu nível cultural, defendendo sua tese em escorreito espanhol.

Na Soberania Assembleia, ainda ocupei a função Orador e membro da Comissão de constituição e Justiça.

Como representante da Loja José Baesso, Or. de Guarani, participei da Constituinte, cujo texto, com algumas modificações, vigora até hoje.

Detenho a Medalha do Mérito Legislativo, 2016.

No ano de 1990, 15 de novembro, foi criada a Academia Maçônica de Letras de Juiz de Fora e Região, por iniciativa dos valorosos irmãos José Soares e Boanerges Barbosa de Castro, este, seu primeiro Presidente. Foram 13 os fundadores. Restam vivos os Acadêmicos José Suarez da Mota e Gerson Occhi.

Estive na Presidência da Academia, por um mandato e de vice-Presidente em outro. Atualmente (2022), Diretor de Cerimônias.

Em 2007 foliei-me a Loja Montanheses Livres, Rito Brasileiro, pelas mãos do irmão Ítalo Brasileo Martelli, tendo sido seu Venerável por dois mandatos consecutivos (2012/2015 e 2015/2017). Fizemos com ajuda dos irmãos uma enorme obra modificando pisos (de madeira para frio), altares (de madeira para mármore), teto, porta, colunas. Unimos o prédio da Loja ao apartamento, que também foi todo remodelado, com novo piso e pintura. Criamos a sala do Venerável, Biblioteca, Secretaria, Sala dos Altos Corpos, cozinha, área externa. Hoje, parte do apartamento está locado para as Lojas União e Força e Gonçalves Ledo, com renda para a Loja.

Membro Honorário das Lojas, Fraternidade Rio-branquense, Visconde do Rio Branco, Antenor Ayres Vianna, Santos Dumont, José Baesso, Guarani (GOMG), Fé, Esperança e Caridade, Levi Gasparian (GLMRJ) Fraternidade Ubaense (Ubá), Fraternidade Guidovalense (Guidoval), Manchester Mineira (Juiz de Fora) as três últimas do GOB/MG.

Alcance o grau 33, Servidor da Ordem e da Pátria, através do Supremo Conclave Autônomo para o Rito Brasileiro, em Cataguases, chegando a Grande Orador da Magna Reitoria. Atualmente (2022), sou Bibliotecário da Loja Montanheses Livres e Orador da Loja Fidelidade Mineira.

Recebi todas as honrarias possíveis no GOMG.

Todas esses conquistas, só foram possíveis, com o auxílio, apoio e ensinamentos dos irmãos da Fidelidade Mineira, da Montanheses Livres e das demais Lojas de Juiz de Fora e Região.

Ao meu juízo penso que cumpri com minhas obrigações maçônicas iniciadas há 50 anos.

Deixo ao crivo dos irmãos, o critério julgamento dos meus atos, enquanto maçom.

Continua sendo bom e agravável viverem unidos os irmãos.

Or. De Juiz de Fora, junho de 2022.

Fonte: OCCHI, Gerson. 50 anos de Maçonaria. 24.06.1972 – 24.06.2022.

Wagner Gouvea, (direita) de barba, Delegado do Grão Mestre para a 5a Região. Helder Afonso (esquerda), Venerável Mestre da Loja Joaquim Gonçalves Ledo. Foto: Gerson Occhi/Acervo pessoal

Quem quer que ainda creia nos altos desígnios do homem sobre a face da terra; quem quer que ainda não tenha todo descrito da ação civilizadora nos destinos da humanidade; quem quer que ainda não se tenha tornado em absoluto indiferente ao movimento regenerador que as conquistas do espírito humano vão operando no mundo, limpando-o dos preconceitos religiosos, libertando-o dos prejuízos políticos; quem quer que ainda se sinta agitado pelos superiores ideais de direito e de justiça; quem quer que ainda tenha alma para crer, coração para sentir, não pode deixar de se descobrir reverente e atencioso numa saudação que traduza respeito e consideração, antes a personalidade simpática deste homem que é a mais completa encarnação da bondade.

Seu nome é Gerson Occhi, no que ele contem de mais suave e de mais carinhoso, de mais belo e de mais sublime, de mais meigo e de mais angélico, espargindo luz. Nestes tempos de intensa vida e de desamor em que, por assim dizer, o homem, no conjunto de todas suas faculdades, absorvido no dia a dia pela busca da sobrevivência que o domina por inteiro, não saindo do seu egoísmo se não para se mover na direção que lhe é indicada pelos interesses individuais.

Este é Gerson Occhi, que se constitui em um caso raro digno de menção. Sua passagem por Manaus para rever familiares, tivemos a oportunidade, sob a proteção dos irmãos da Grande Benemérita Loja Simbólica Rio Negro n.º 4, de o recebermos com a convicção profundamente inabalável de que a nossa principal missão no seio da sociedade é partilhar bondade e acolhimento.

Meu bom irmão Gerson Occhi, a Maçonaria lhe consagrou o melhor de sua existência, a seu serviço constante, ininterrupto, todos os dias empregando sua atividade maçônica de forma incansável, crente e fervoroso sem desanimar, mesmo quando o peso da fadiga lhe abatesse, sem jamais, desertar ou abandonar a jornada.

Bem aja Gerson Occhi, viva os irmãos do Oriente de Minas Gerais GOMG!

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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