Você sabe quais cuidados deve ter na hora de comprar peixe?

As condições sensoriais são importantes de serem avaliadas no momento da compra, como: cor e odor das guelras (brânquias), aparência dos olhos e aderência das escamas
Um dos alimentos mais consumidos na Amazônia é o peixe. E, de acordo com a professora Rafaela Barata Alves, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos e docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Belém (PA), o consumo de peixes é extremamente benéfico, independente do período do ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o consumo da proteína deve ser de no mínimo 250g, pelo menos duas vezes na semana.

“Os benefícios do consumo de peixes estão no fornecimento de nutrientes importantes como proteínas composta por aminoácidos essenciais, minerais e vitaminas importantes para o melhoramento das funções do organismo. Alguns peixes são fontes de ômega-3 (ácido graxo essencial) importante no funcionamento do corpo e cérebro. O consumo de peixes com esses nutrientes ajuda a prevenir vários tipos de doenças e melhorias como níveis de triglicerídeos, reduz riscos de depressão, ansiedade”, explica a professora.


No entanto, na hora do consumo do peixe é essencial que se tenha segurança desde a compra, preparação e o consumo, já que o pescado é um alimento suscetível à contaminação. “O pescado é um alimento com alta susceptibilidade à degradação por microrganismos por apresentar o pH próximo da neutralidade, o que favorece, desde a captura, sofrer alterações bioquímicas na ação de bactérias. Esse alimento consumido cru pode veicular vários tipos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA’s), como bactérias, vírus e parasitas”, explica Rafaela Alves.
Foto: João Viana/Semcom Manaus

De acordo com levantamentos do sistema de Vigilância Sanitária (Sinan/SVS/MS) a maior incidência dessas DTA’s ocorre nas residências, por causa da manipulação ou preparo inadequado. “A recomendação é que o pescado escolhido seja o tipo fresco, resfriado, congelado ou salgado, e que tenha o preparo de forma higiênica, obedecendo o tempo e temperatura adequados, e da melhor maneira que agrade ao paladar das famílias paraenses, lembrando de garantir o consumo seguro desse alimento”, explica a professora.

A professora recomenda se atentar a alguns detalhes e à condição do pescado na hora da compra, como armazenamento, temperatura e aparência.

“Devem ser observadas se as condições de armazenamento, como a temperatura de refrigeração ou com o uso do gelo em escamas, são as ideais para conservar o pescado fresco e refrigerado em condições próximas de 0 °C. As condições sensoriais também são muito importantes de serem avaliadas no momento da compra, como: cor e odor das guelras (brânquias), aparência dos olhos, aderência das escamas, firmeza da musculatura (carne do pescado) e presença de muco”, 

diz Rafaela.

Ela explica que não é correto fazer esses testes sensoriais sem proteção higiênica das mãos (uso de luvas) pelos consumidores. Sendo importante pedir o auxílio do vendedor no momento da escolha do produto, pois a manipulação inadequada pode favorecer a degradação desse alimento tão perecível. “Dessa forma, também se recomenda a atenção das características dos higiênico-sanitários dos locais de vendas, da exposição de forma correta com o uso de gelo junto aos peixes e das características de qualidade sensorial no momento da escolha”, alerta.

Peixes impróprios para o consumo podem causar doenças variadas, com riscos que vão de moderados a altos. “Os pescados estão envolvidos em vários surtos alimentares em todo o mundo que podem causar desde problemas gastrointestinais, no sistema nervoso e até ao óbito. Esse consumo pode acarretar problemas de envenenamento por toxinas naturais, que são as biotoxinas, ou por produtos químicos que contaminam o alimento, como a presença de metais pesados, entre eles o mercúrio”, diz

E quando o pescado já está infectado antes mesmo da pesca, por parasitas presentes nas águas? Segundo a professora Raquel Soares Casaes Nunes, doutora em Ciência de Alimentos, a qualidade da água está diretamente ligada a essas infecções:

“Os peixes, tanto de água doce quanto de água salgada, têm a facilidade de desenvolver parasitas ou vermes principalmente quando há algum desequilíbrio em relação a temperatura da água, concentração de matéria orgânica, que facilitam o desenvolvimento de diversos tipos de helmintos que são os vermes, e alguns protozoários, ambos parasitas. Essas contaminações por parasitas na região amazônica podem ocorrer em diversos peixes de água doce, como por exemplo tambaqui, tucunaré, podemos ter essa contaminação em vários tipos de ciclídeos também”, 

explica.

Cuidado também durante a pesca

Na hora da pesca também é possível observar outras características que indicam que os pescados estão contaminados por parasitas e vírus. “Às vezes podemos observar também outros indicativos como o nado do peixe, se ele tá nadando corretamente, ou flutuando, ou com algum distúrbio, muitos parasitas afetam esse equilíbrio do nado do animal. Já os camarões, quando são infectados por algum vírus, também tem esse indicativo do nado”, diz.

Para a professora, o controle da qualidade das águas é um dos pontos chaves para evitar que pescados sejam contaminados. “Controlar a qualidade das águas é o ponto chave para você ter a indicação da presença de contaminantes. É necessário fazer uma análise quanto a presença de coliformes, que dá a indicação da presença desses contaminantes, já que muitas vezes não só olhando o peixe a gente vai saber que ele está contaminado ou não”, finaliza.

Uma das sugestões pode ser optar por peixes cultivados, ou seja, peixes criados em cativeiro. Se respeitados todos os protocolos, no cultivo de peixes há monitoramento da água, de ectoparasitas e da alimentação.

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam que, no Brasil, o consumo de peixes pela população é em média 9 kg por habitante ao ano. Mas na região amazônica esse consumo aumenta, com destaque para as comunidades ribeirinhas, onde o consumo se aproxima de 150 kg por pessoa ao ano.

“Devido o Estado do Pará possuir uma abundância na variedade de peixes e uma forte valorização cultural herdada da alimentação dos povos indígenas, isso corrobora para a ingestão contínua e cotidiana de pescado, reforçando essa afirmativa pelo fato de ser um dos estados que mais consome pescados no Brasil, de acordo com levantamentos do MPA e dados de pesquisas”, disse a professora Rafaela Alves.

No Pará as espécies mais consumidas variam de acordo com a região. Em Belém, segundo a Secretaria Municipal de Economia (SECON) as espécies mais consumidas são a pescada, a dourada, a gurijuba e a piramutaba.

*Por Andréia Santana, estagiária de jornalismo na Ascom Ufra

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