Brigadeiro é o doce mais famoso do Brasil. Imagem mostra a versão de castanha-do-brasil. Foto: Reprodução/Sabores da Amazônia/Amazon Sat
Quando receitas de outras regiões encontram os ingredientes únicos da Amazônia, como castanha-do-brasil, cupuaçu, açaí e tapioca, surgem novas identidades gastronômicas, que respeitam a tradição e ao mesmo tempo refletem a criatividade local.
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Em conversa com a equipe do Portal Amazônia, a chef e empresária Talita Avelino, dona de uma confeitaria na cidade de Manaus (AM), exemplifica três doces que são populares na Amazônia e ganharam versões adaptadas ao paladar regional.
“Esses doces conquistaram o paladar amazônico por serem doces afetivos e festivos. Eles são fáceis de preparar e compartilhar em festas, aniversários e celebrações. Além disso, têm uma identidade afetiva que conecta gerações, assim como os doces tradicionais da Amazônia”, disse a chef ao Portal Amazônia.
Confira os três doces elencados pela chef:
Brigadeiro

De acordo com o artigo ‘O mais popular dos doces brasileiros: História crítica do brigadeiro’ (2019), de Pedro von Mengden Meirelles, o brigadeiro, doce mais famoso do Brasil, tem uma história “nebulosa”.
Uma versão popular sobre a origem do brigadeiro é que ele teria sido criado em meio à campanha do político Brigadeiro Eduardo Gomes, em meados do século XX, e vendido por suas eleitoras para arrecadar fundos ou distribuídos para angariar votos.
A versão conta que uma das senhoras participantes da equipe do candidato teria levado a curiosa sobremesa para uma reunião. Heloisa Nabuco de Oliveira apresentou ao restante do grupo o doce que fez um sucesso imediato e, para homenagear Gomes, deu ao doce o nome de “brigadeiro”.
A receita “original”, é composta por:
1 lata ou caixinha de 395 g de leite condensado
3 colheres (sopa) de chocolate em pó
1 colher (sopa) de manteiga
1 xícara (chá) de chocolate granulado
Junta-se todos os ingredientes em uma panela. Leve a panela ao fogo e mexa sem parar até atingir um ponto em que ele desgruda do fundo da panela. Deixa-se esfriar em recipiente untado e, depois, “enrola” a massa em pequenas bolinhas que devem ser passadas em granulados (da sua preferência) para formar os tradicionais brigadeiros.
Mas, claro, a receita foi sendo adaptada ao longo dos anos e tem ganhado versões diferentes, como a que incorpora um sabor típico da Amazônia: a banana frita. Confira:
Beijinho de coco

Apesar da fama no Brasil, o doce é originário dos conventos de Portugal e, a princípio, a receita levava amêndoas e calda de açúcar. Ele chegou ao Brasil durante o período de colonização, junto com a família real portuguesa e, como o coco era uma fruta abundante aqui, foi incluído ralado na receita, no lugar das amêndoas, mudando o nome para beijinho de coco. Além disso, na calda de açúcar, foi acrescentado o leite.
Tempos depois, em meados do século XX, o doce ganhou mais uma adaptação: o uso do leite condensado, assim como outros doces da época e o popular brigedeiro.
O cravo também foi adicionado na composição visual do doce e o beijinho, já com este nome, espalhou-se por todo o país e continua sendo um dos mais tradicionais até hoje.
Inspirados tanto no brigadeiro quanto no beijinho, outros docinhos com sabores amazônicos já foram criados, como estes:
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Quindim

De acordo com a tese ‘Influência portuguesa no preparo do quindim’, de Ilana Santos, da mesma maneira que outros doces populares no Brasil, o quindim também teve sua origem em Portugal. E foi nos conventos portugueses que este doce surgiu.
As freiras que viviam no convento tinham o hábito de usar claras de ovos para engomar as suas roupas, e com as gemas que sobravam elas faziam doces diversos como o bom-bocado, papo de anjo e brisas do lis.
Antigamente o brisas do lis tinha o nome de “beijinho”, mas como na época não era apropriado pedir um beijinho a uma religiosa o nome precisou ser mudado e esse doce deu origem ao quindim.
O brisas do lis era feito basicamente com açúcar, gemas e amêndoas. Na dificuldade de encontrar amêndoas no Brasil, elas foram substituídas pelo coco, dando origem ao quindim. Essa substituição veio das mulheres africanas que vieram ao Brasil escravizadas.
A popularidade desses doces ocorre porque o paladar amazônico é receptivo a novas experiências, especialmente quando essas receitas podem ser adaptadas aos ingredientes locais, como castanhas, frutas e especiarias. No caso do quindim, uma receita criada por um chef acreano incorporou o açaí:
A fusão entre tradição local e receitas de outras regiões cria uma familiaridade afetiva, tornando-os presentes em festas e encontros familiares. Para Talita, esses doces trouxeram diversidade e inspiraram a criatividade da culinária local.
“Eles convivem com os ingredientes amazônicos, e muitas vezes ganham versões regionais, incorporando frutas, castanhas e sabores típicos da região. Isso não apenas enriquece o repertório de sobremesas, mas também nos inspira a criar novas combinações e releituras que valorizam a cultura amazônica”, conclui a chef.
*Por Karla Ximenes, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
