Doce é feito com caroço de cupuaçu. Foto: Divulgação/Kupulatte
Uma inovação surgida dentro da Universidade do Estado do Amapá (Ueap) está ganhando destaque nacional. A Kupulatte, startup criada por estudantes do curso de engenharia química, foi escolhida para representar o Amapá na etapa final da Expo Favela Innovation 2025, evento que reúne iniciativas de impacto social e econômico vindas de diferentes regiões do Brasil. O projeto transforma caroços de cupuaçu, geralmente descartados, em um doce semelhante ao chocolate, e foi selecionado entre 40 expositores da etapa regional.
A proposta nasceu a partir de pesquisas realizadas em sala de aula. Os testes iniciais envolveram sementes de cacau e de cupuaçu, mas foi este último fruto amazônico que chamou mais atenção das alunas. “Desde 2022 essa ideia ficou nas nossas mentes, e em 2024 apareceu um edital, que era justamente para tirar uma ideia do papel e montar um negócio”, explicou Evelyn Silveira, CEO da Kupulatte.
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Origem do doce e processo de produção
O nome da startup combina elementos do tupi e do italiano. “Kupu” significa “parecido com cacau”, enquanto “latte” remete ao leite. A concepção do produto se baseia no reaproveitamento sustentável dos caroços do cupuaçu, parte da fruta que geralmente não tem utilidade comercial.
O processo de fabricação segue etapas semelhantes às usadas na produção de chocolate tradicional. Primeiro, as sementes são separadas da polpa. Depois, passam por fermentação natural, secagem em estufa e torra em forno a temperatura controlada.
Da torra, surgem os nibs de cupuaçu, semelhantes aos nibs de cacau. Em seguida, os nibs são triturados e refinados até formarem uma pasta homogênea, que passa por temperagem e moldagem.
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Segundo Evelyn, o objetivo é diversificar ainda mais os produtos: “Uma das nossas ideias futuras é fazer o kupulatte ao leite, com leite de origem vegetal e animal”. Atualmente, a startup produz bombons, nibs e barras em diferentes concentrações — 50%, 70% e 100%.
Reconhecimento em eventos
A presença da Kupulatte em feiras e encontros de inovação tem reforçado a visibilidade da iniciativa. Em julho de 2025, a startup participou da Bioeconomy Amazon Summit, realizada em Manaus. O evento reuniu 150 startups que apresentaram soluções para a bioeconomia da Amazônia, funcionando como vitrine para produtos inovadores baseados em recursos da floresta.
De acordo com a equipe, a aceitação do público tem sido positiva. A utilização do cupuaçu como alternativa ao cacau desperta interesse por unir tradição amazônica, sustentabilidade e potencial de mercado.
“O que antes era descartado pelos produtores hoje pode gerar renda e oportunidades”, comentou Evelyn durante a feira em Manaus.
Expo Favela Innovation 2025
A Expo Favela Innovation é considerada uma das principais vitrines para negócios criados em comunidades e periferias do Brasil. A fase nacional do evento acontece em São Paulo e reúne empreendedores de diferentes estados. O destaque da Kupulatte entre os selecionados da região Norte reforça a presença do Amapá no cenário da inovação e da bioeconomia.
Na avaliação da organização, o potencial de reaproveitamento de resíduos é um dos pontos mais valorizados pelos jurados.
“Trata-se de um produto que alia inovação, tradição cultural e viabilidade de mercado”, destacou um dos avaliadores durante a divulgação dos resultados da etapa regional.
Perspectivas futuras
Com a final nacional da Expo Favela Innovation marcada para o segundo semestre, as estudantes e empreendedoras do Amapá buscam apoio para ampliar a produção e atender novas demandas. A equipe planeja parcerias com cooperativas de produtores de cupuaçu, o que deve garantir fornecimento contínuo das sementes e maior alcance de mercado.
A CEO da startup reforça que a proposta nasceu de uma inquietação acadêmica, mas hoje já ultrapassa os limites da universidade. “O que a gente quer é mostrar que o Amapá tem capacidade de gerar inovação a partir dos seus recursos naturais. O cupuaçu é só o começo de um projeto que pode crescer muito mais”, afirmou Evelyn.
Além da possibilidade de expansão comercial, a Kupulatte se apresenta como uma alternativa sustentável em um setor dominado pelo cacau. A utilização do cupuaçu pode contribuir para diversificar a cadeia produtiva de doces e chocolates, fortalecendo a bioeconomia amazônica e gerando oportunidades para pequenos produtores locais.
Com a presença confirmada na final da Expo Favela Innovation, a Kupulatte leva o Amapá ao centro das atenções e reforça o papel da região na criação de soluções inovadoras com base nos recursos da Amazônia.
*Por Luan Coutinho, da Rede Amazônica AP
