Foto: William Milliken/Royal Botanic Gardens Kew
O cajuaçu (Anacardium giganteum) é um fruto menos popular que o caju e a árvore é nativa da região amazônica, conhecida por ser uma árvore que faz muita sombra e fica perto de rios e igapós. Porém, é um fruto muito consumido no estado do Pará e se tornou identidade cultural para o município de Bragança.
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O fruto também é chamado de caju-bravo, caju-da-mata, cajueiro-da-mata, cajuí e cajuí-da-mata. Ele pertence à família Anacardiaceae, sua árvore é de estrutura muito densa e de grande porte, chegando a atingir cerca de 40 metros de altura, com frutificação entre os meses de novembro e fevereiro, segundo dados a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O fruto, no entanto, é menor e com sabor mais doce que o caju comum.
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Sua popularidade surge também por ser muito apreciado e comercializado entre as comunidades no carnaval em Bragança. Seu suco tem reputação de ser muito saboroso e agradavelmente doce.
A bebida alcoólica cajuaçu
Mas o principal uso do cajuaçu na comunidade, principalmente durante o período festivo, é o destilado feito com a fruta. A tradição de sua produção é totalmente artesanal e transmitida de forma geracional para permanência do consumo local.
Segundo Heloíza Verema, uma das autoras do artigo “Elaboração e caracterização físico-química de uma bebida fermentada de cajuaçu (Anacardium giganteum)”, não existe período de dezembro a março sem cajuaçu para a população bragantina. Mesmo quando a safra é pequena, a população tenta fazer o possível para manter a tradição.
O pesquisador e professor Josinaldo Reis, dirigente do Bloco Urubu Cheiroso em Bragança, é uma das referências sobre a cultura local.
Segundo Reis, a bebida é de baixo custo e sazonal, e “fica melhor ainda quando misturada com mel e açúcar”. Segundo ele: “o ‘porre’ de cajuaçu vem rápido, devido ao consumo exagerado dos cidadãos e por ser de fácil acesso”.
Mas para ele a melhor parte do cajuaçu “é beber entre os amigos e ver a fermentação acontecer”.
O destilado produzido a partir desse fruto, é suave, adocicado e bem aceito, marca registrada do seu sucesso durante o carnaval e sua importância dentro da região bragantina.
Josinaldo Reis afirma que, em algum momento da história, não se sabe exatamente quando, alguém decidiu fermentar a bebida e viu que tinha um teor alcoólico considerado. Mesmo quando a bebida não fermenta, costuma-se misturá-la com outras, como cachaça e destilado de cana.
“Quando mistura com cachaça ou outras bebidas alcoólicas, não tem a mesma graça, não é o mesmo sabor e não é o mesmo porre”, explica Josinaldo.
Seu consumo em forma de bebida tornou-se muito apreciado pelos moradores locais e pelos turistas que frequentam a região do Caeté no carnaval.

Impacto cultural do fruto adocicado
A pesquisa de Heloíza Verema confirma que o cajuaçu tem um significado simbólico e cultural para os povos da região e está presente nas tradições paraenses. “Seu significado advém de suas características físicas, cajuaçu recebe esse nome por conta de sua característica ácida. É presente em épocas festivas, como o carnaval e esporadicamente no período junino”, afirma a pesquisadora.
No Pará, o fruto do cajuaçu é profundamente enraizado nas comunidades especialmente em Bragança e Augusto Corrêa.
“Ao estudar o cajuaçu, eu não analiso apenas um fruto, mas uma expressão viva da identidade amazônica, um patrimônio que une biodiversidade, tradição e potencial de desenvolvimento”, afirma Heloíza.
*Por Karla Ximenes, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
