Galo-da-serra: conheça o pássaro que serviu de inspiração para famosa toada do Boi Garantido

A composição lançada em 2006 cita o pássaro de cores alaranjadas e jeito excêntrico que oferece frutos aos guerreiros indígenas.

Apesar de ser um pássaro difícil de ser avistado, o galo-da-serra (Rupicola rupicola) possui uma plumagem marcante, de coloração alaranjada, o que o destaca na paisagem amazônica. Algo peculiar que envolve a ave é que ela recebeu esse nome devido a crista que cobre toda a cabeça e chega a cobrir o bico. Medindo cerca de 28 centímetros, é considerada ave símbolo do Estado de Roraima.

Com um jeito excêntrico, o galo-da-serra possui um vínculo com a história da colonização na Amazônia. Tudo começou com o pensador Alexandre Rodrigues Ferreira, responsável por chefiar expedições científicas nas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro e Mato Grosso, e que durante a passagem pela Amazônia registrou em desenho o galo-da-serra.

A ave é tão admirada que serviu de inspiração para uma famosa toada do Boi Garantido, no Amazonas, lançada em 2006. A canção cita os galos-da-serra como pássaros que oferecem frutos aos guerreiros indígenas. 

Portal Amazônia conversou com o biólogo Thiago Orsi, que atua no Núcleo de Gestão Integrada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade no Estado de Roraima (ICMBio Roraima), que explicou mais sobre essa curiosa espécie.

Registro feito durante a expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira. Foto: Reprodução/Jorge Macêdo

Voltando um pouco aos primeiros registros, na expedição ‘Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues’, realizada em 1756, o filósofo Alexandre documentou por meio de desenhos tudo que vivenciou durante a viagem e pesquisa na Amazônia. Foi durante as observações que avistou e documentou o galo-da-serra.

Atualmente, a ave pode ser encontrada principalmente em Roraima, mas também no Amapá; nas proximidades de Presidente Figueiredo, no Amazonas; e ainda em outros países da Amazônia Internacional, especialmente nas Guianas, Venezuela e Colômbia. 

O galo-da-serra pertence à família Cotingidae, espécies de pássaros de médio porte e coloridas. O pássaro também tem um parente que pertence ao mesmo gênero, que é o galo-da-serra andino, encontrado na Cordilheira dos Andes e na Bolívia.

“O macho é de cor laranja e inconfundível, já a fêmea é marrom-escura, parecendo preta à distância. O topete do macho, que lhe dá o nome de galo, pode ser movimentado pela ave, como um leque, chegando a cobrir o bico, o que confunde a quem o observa sobre qual o lado que a ave está olhando. E o topete do macho é maior que o da fêmea”, 

explicou o biólogo.

Quando jovem, o pássaro possui uma plumagem escura semelhante a coloração das fêmeas. Conforme eles vão crescendo, quando atingem o terceiro ano de vida assumem o corpo completamente laranja. O galo-da-serra é considerado uma espécie frugívora, ou seja, se alimentam de frutas e sementes de plantas. As frutas mais consumidas pelo animal são o açaí e a bacaba, mas também caçam insetos, lagartixas e rãs.

“Uma curiosidade envolvendo o galo-da-serra é a sua habilidade de fazer ninho em cavernas, em ambientes úmidos. Durante a reprodução eles realizam uma dança nupcial bem pitoresca”, acrescentou Thiago. 

Ainda de acordo com o biólogo, apesar dos hábitos solitários, os machos buscam espaços rochosos para atrair as fêmeas durante o período de reprodução, que vai de novembro a abril. Eles também fazem ninhos de  barro, põe dois ovos manchados que são chocados apenas pelas fêmeas, durante 27 a 28 dias.  

Inspiração musical

O peculiar pássaro, por si só, já é uma atração. E, por conta disso, inspirou um dos símbolos do folclore e cultura da Amazônia: o Boi Garantido. Por sua característica alimentar, a música ‘Deuses Pássaros’ exalta a contribuição dessa espécie como ajudantes dos guerreiros indígenas Waimiri-Atroari, nas batalhas, entregando-lhes frutas. 

“No reino das cachoeiras

Mosaico de rara beleza

Assistiram a dança sagrada

Dos pássaros laranja

Os galos da serra viram gente

Verdadeiros deuses

Oferecem os frutos aos guerreiros”,

Trecho da toada ‘Deuses pássaros’, de Demetrios Haidos, Geandro Pantoja e Jacinto Rebelo.

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