Localizado na margem direita do rio Guaporé, no município de Costa Marques, em Rondônia, o Real Forte Príncipe da Beira é considerado a maior edificação militar portuguesa construída fora da Europa.
Inaugurado em 20 de agosto de 1783, o Forte foi construído com o objetivo de mostrar a consolidação do domínio português naquela área e batizado em homenagem a Dom José de Bragança, o Príncipe da Beira, filho da Rainha D. Maria I.
Com o acordo do Tratado de Madrid, em 1750, e outro encontrado em Mato Grosso, algumas fortificações foram construídas nas margens do rio das fronteiras, entre elas estaria o Forte Príncipe da Beira.
O Tratado de Madrid foi um acordo diplomático entre Portugal e Espanha, assinado no ano de 1750, no qual deveria por fim as disputas territoriais entre os dois países na região da América. O acordo de certa forma beneficiou Portugal, fazendo com que o seu controle se expandisse consideravelmente.
Na região que abrange Bolívia, Paraguai e Argentina havia muitas missões jesuítas espanholas que circulavam a região e tiveram várias invasões e ataques. Apesar do tratado, os espanhóis tentaram reconquistar a área da antiga missão espanhola de Santa Rosa, na margem direita do Rio Guaporé, onde fica localizado o município de Costa Marques.
Os governadores de Mato Grosso construíram fortificações na área, mas elas foram destruídas pelas incursões espanholas e por uma enchente no Rio, no ano de 1771. Por determinação de Portugal, o Governador do Mato Grosso, Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, com a ajuda do engenheiro Domingos Sambuceti, explorou a região, em 1773, em busca de um local mais seguro, para a construção de uma fortaleza.
Sambuceti era um engenheiro, natural de Gênova (Itália), a serviço de Portugal, que havia participado das construções das fortalezas de Gurupá, Santarém, Almerim e de Macapá. O local foi encontrado, dois quilômetros abaixo, na margem direita do Rio Guaporé.
Em 1775, o Plano do Forte Príncipe da Beira começou a ser elaborado, em estilo Vauban. Dirigida por Sambuceti, a obra começou em 20 de junho de 1776, quando foi colocada a pedra fundamental, e foi inaugurada em 20 de agosto de 1783. Durante a construção, o projeto foi alterado diversas vezes e, de acordo com os livros do historiador Lourismar Barroso, o Forte foi construído com mão de obra de brancos, escravos e indígenas. Centenas de pessoas morreram durante as obras, principalmente de malária.
O Forte era basicamente uma cidade de pedra, onde estima-se que 800 pessoas lá viviam. Ele foi assentado em um terrapleno (terreno em que se encheu uma depressão ou cavidade, tornando-o plano), a cerca de dez metros da barranca do Rio. Suas muralhas eram de sólida cantaria, com 10 metros de altura, com 970 metros de perímetro e 4 baluartes armados com 14 canhoneiras cada.
Os edifícios no interior do Forte abrigavam os quartéis da guarnição, armazéns, hospital, prisão, capela, cisterna e paiol subterrâneo. O acesso era feito por uma ponte levadiça sobre um fosso com águas do Rio. O primeiro comandante do Forte foi o Capitão de Dragões José de Melo de Souza Castro e Vilhena.
Após a Proclamação da República, em 1889, o Forte deixou de receber assistência do governo. Ele foi abandonado e saqueado nos anos seguintes. De acordo com Sílvio do Nascimento, autor de um dos livros que fala sobre o Forte Príncipe da Beira¹, publicado em 2013, conta que o abandono ocorreu em 1895 e que canhões e um grande sino de bronze foram levados. As margens do Rio Guaporé continuaram sendo exploradas por seringueiros, principalmente bolivianos. Equipamentos do Forte foram encontrados na Bolívia.
Sob a guarda do Exército desde a década de 30, só no dia 7 de agosto de 1950, o Real Forte Príncipe da Beira foi tombado como Bem Patrimonial da União, inscrito no Arquivo Noronha Santos, sob o número 281, assentado no Livro Tombo Histórico.
Atualmente, o Real Forte Príncipe da Beira integra a lista dos 19 Fortes, candidatos a Patrimônio Mundial, como Bem Seriado, cujo conjunto “representa as inúmeras construções defensivas implantadas no território nacional, nos pontos que serviram para definir as fronteiras marítimas e fluviais do Brasil”.
¹NASCIMENTO, S. M. . REAL FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA: H istória e estórias do imaginário popular no Vale do Guaporé. Labirinto (UNIR) , v. 13, p. 113-124, 2013.