Labirinto da Bahia Redonda: a intrigante história dos muros feitos de pedras em Rondônia

As paredes do local são formadas por blocos de pedras sobrepostas com mais de dois metros de altura e extensos corredores. Origem ainda é incerta. 

Em vídeos publicados em canais no Youtube é possível se deparar com algumas imagens intrigantes de paredões na Amazônia feitos apenas com pedras, que se estendem por alguns metros. O que intriga é o conjunto de estruturas em pedras sobrepostas, que formam extensos muros ultrapassando dois metros e meio. E em uma das áreas, existe um tipo de portal, com 1,2 metros de altura, também de pedras. Atualmente, a área é coberta pela mata, o que não permite a captura de imagens aéreas com câmeras comuns.

Essas ruínas são conhecidas como Labirinto da Bahia Redonda e estão localizadas próximo ao Real Forte Príncipe da Beira, no município de Costa Marques, em Rondônia. O Portal Amazônia entrou em contato com o principal guia, Elvis Pessoa, presidente da Associação Quilombola do Forte.

Foto: Reprodução/Youtube-Na estrada

De acordo com Elvis, o labirinto foi descoberto no ano de 1989, onde seu pai passava pela região. Na época, o local era uma velha estrada de um seringal, que também foi encontrado por Francisco Alves, hoje sargento da reserva, amigo do pai de Elvis. A área está localizada a 4 km de distância do monumento histórico, o forte. A estrutura do labirinto tem o tamanho de 1.850 metros de dimensão, entretanto, não se sabe ao certo como surgiram essas ruínas.

Foto: Elvis Pessoa/Cedida

Hipóteses

Segundo Elvis, o historiador Lourismar Barroso acredita que as ruínas poderiam ter sido de uma missão jesuíta espanhola, antes até mesmo da construção do Forte Príncipe da Beira. De acordo com o guia, pesquisadores internacionais acreditam que seja uma estrutura de civilizações incas com mais de 5.000 anos.

Outras especulações apontam uma pedreira ou uma construção de origem Inca, já que existem narrativas que tratam de que eles estiveram na região do Vale do Guaporé.

O Portal Amazônia buscou então o escritor, mestre em história e pesquisador Lourismar Barroso, considerado referência nos processos de pesquisa do Real Forte Príncipe da Beira, para entender mais sobre a construção.

Missão Jesuíta Espanhola

De acordo com Barroso, o termo “labirinto” surgiu depois da visita de um professor chamado Francisco Matias. Barroso conta que uma senhora na cidade de Costa Marques convidou o professor Francisco Matias e mais algumas pessoas para conhecer uma ruína que foi encontrada por caçadores dentro da floresta. Lá eles vistoriaram a ruína, a floresta e durante a saída, quando chegaram próximo a estrada, Francisco Matias disse que o local parecia com um labirinto.

“Nas minhas pesquisas do mestrado, em 2015, quando fui fazer as minhas pesquisas sobre o Forte Príncipe da Beira, onde fui para o Rio de Janeiro e Cuiabá, tive contato com cartas do século XVIII. Na época da construção do forte, durante o verão, havia muitas correspondências, já no inverno eram poucas. Em uma dessas correspondências, eu encontrei as informações que aquela região se chamava Santa Rosa Velha, que foi tomado dos espanhóis pelo primeiro governador do Mato Grosso, o Dom António Rolim de Moura Tavares. Os espanhóis fizeram uma vila, um baluarte onde é hoje o labirinto, então António acabou expulsando os espanhóis daquela área em torno de 1754, fazendo com que esses espanhóis fossem para o outro lado da Bolívia, o lado esquerdo, conforme a correnteza do rio. Então, eles fizeram essa guarda do lado direito, do Brasil, e, após a expulsão feita pelo António, fizeram a Santa Rosa Nova”,

conta Barroso.

Mapa da região do Rio Iténez, também conhecido como Rio Guaporé. Foto: Reprodução/LOC

Nas pesquisas realizadas pelo escritor, constatou-se que era uma guarnição criada pelos espanhóis e tomada pelos portugueses. Inicialmente, era chamada de Missão de Santa Rosa e posteriormente Guarda de Santa Rosa, responsável pela vigilância da fronteira com a Espanha naquela época.

Em seu artigo, Barroso informa que os documentos analisados para a pesquisa sobre o Forte encontram-se no Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), assim como relatos de viajantes como o de Manoel Rodrigues Ferreira. De acordo com o viajante, a Missão de Santa Rosa Velha foi criada pelo Padre Atanásio Teodori XVII em 1743, à margem direita do Rio Guaporé, aldeando dezenas de tribos indígenas do lado espanhol.

Civilização Inca 

Outras hipóteses, como conta o guia Elvis Pessoa, levantam a teoria de que as estruturas possuem conexões com grupos andinos, como o caso de civilizações Incas. A teoria é levantada em questão porque o local onde o labirinto se encontra fica próximo ao Real Forte Príncipe da Beira, com uma área de 23 mil hectares, onde foram catalogados 63 sítios arqueológicos, com vestígios e construções antigas.

Segundo Elvis Pessoa, pesquisadores afirmam que antes da ocupação espanhola, o local era vice-reinado do Peru. O que reforça essa ideia são as figuras rupestres encontradas pelo rio Guaporé, principalmente em pedras no meio dos rios.

Confira algumas imagens:

As figuras desenhadas remetem a estruturas das civilizações incas. Em uma das pedras, é possível visualizar mandalas características dessa civilização:

Foto: Elvis Pessoa/Cedida

Descarte de pedras 

A teoria do descarte das pedras é baseada na construção do Real Forte Príncipe da Beira, onde imagina-se que pedras e materiais de construção foram retiradas do local onde se encontra a estrutura do forte, para justamente iniciarem o processo de construção e deixadas na área do labirinto. Mas o que intriga a todos é a perfeita organização das pedras, sendo empilhadas uma a uma como se fosse um quebra-cabeças.

Pesquisadores de Belém (PA) também identificaram a presença de uma estrutura similar às margens do rio Pedreiras, no Amapá, e que supostamente poderia ter servido à construção do Forte de Macapá, no mesmo período. Nos dois casos, as estruturas se encontram próximas a rios, dando a entender que poderiam constituir um ponto de embarque ou desembarque do material.

Pesquisas no local

Segundo Elvis Pessoa, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem conhecimento do local há cerca de quatro anos, porém ainda não houve um aprofundamento nas pesquisas da área, para de fato descobrir a respeito da origem do labirinto, por falta de recursos. A Universidade Federal de Rondônia (UNIR) esteve recentemente no local para fazer um processo de escoramento do portal, mas ainda não houve um processo de estudo a respeito. Elvis também afirmou que o Exército Brasileiro tem conhecimento dessa descoberta arqueológica, no entanto eles precisam de estudos específicos do local. 

“Eu tenho trabalhado aqui quase que isoladamente, porque não tem recurso para nada. Então assim, a gente faz, porque é a nossa casa, no caso, nasci aqui, todo meu envolvimento é aqui. Graças a Deus a gente recebe apoio do Iphan e do Exército, mas precisamos mostrar ao mundo, para as pessoas, para o Estado, a importância disso para o próprio município. Então estamos trabalhando e sempre com uma pontinha de esperança de uma hora aparecer alguém que nos ajude a alavancar essa nossa história porque com certeza ela é muito rica e tem a oferecer para a população do estado de Rondônia”, declarou Elvis Pessoa.

O Portal Amazônia tentou entrar em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com a Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e a 12ª Região Militar do Exército Brasileiro,  porém não recebemos resposta a respeito do assunto.

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