Farinha de Bragança, no Pará, conquista selo de indicação geográfica

Indicação de Procedência concedida pelo Inpi atesta a reputação e qualidades do produto vinculadas ao local

Um dia histórico para os produtores da farinha de Bragança. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) publicou nesta terça-feira (18), na Revista de Propriedade Industrial, o registro Indicação de Procedência (IP), referente ao produto paraense. A Indicação Geográfica (IG) Farinha de Mandioca de Bragança está delimitada nos municípios paraenses de Augusto Corrêa, Bragança, Santa Luzia do Pará, Tracuateua e Viseu.

O registro é o reconhecimento do trabalho do agricultor e do produtor rural dando visibilidade do seu produto e do Estado. O Pará possui quatro IG: da Farinha de Bragança; do Cacau de Tomé-Açu, do Queijo do Marajó e do Guaraná da Terra Indígena Andirá Marau que pertence ao Amazonas e ao Pará.

Apreciada na mesa dos paraenses por sua crocância, a farinha de Bragança eleva sua qualidade com o reconhecimento do registro. A representante da Secretária de Estado e Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), Marcia Tagore, ajudou a coordenar o grupo de trabalho que elaborou a proposta de Instrução Normativa, e afirma como é recompensador trabalhar as cadeias produtivas com esse olhar de Indicação Geográfica para o Estado e Amazônia.

Foto: Márcio Ferreira/Agência Pará

“É muito gratificante porque o IG da visibilidade não destaca só o Estado, mas o Brasil, mas o mundo. As pessoas no mundo conhecem a indicação geográfica e procuram por produtos que tenham esse diferencial”, afirma.

Maria de Jesus Pereira do Carmo, é agricultora familiar desde os 16 anos. Ela faz parte da comunidade do Urupiuna, uma das poucas mulheres que trabalham com a agricultura. “Estamos tentando mudar isso, buscar valorizar a mulher, para que ela se sinta bem”, conta. “Eu nunca saí de Bragança, então é muito bom falar de uma farinha que chama tanto a atenção. Queria até ir a outros lugares ver se consigo fazer uma farinha igual a de Bragança”, confessa.

O torramento, segundo Maria de Jesus, é o que diferencia a farinha do município. “Eu faço como a pessoa pede, mais fina, mais grossa, como meus pais, meus avós me ensinaram. Aprendi a torrar a farinha com eles, vendo o processo, ouvia ‘olha, não vai esquecer que é assim que faz!'”, recorda. “Acho que esse selo vai destacar nosso valor”, avalia.

Ter esse registro é um diferencial para a região, e possibilita abrir novos mercados, atraindo visitantes e compradores. A Sedap reafirma esse compromisso apoiando as indicações geográficas em parceria com a Cooperativa Mista de Agricultores Familiares do Caeté (Coomac), instrumento que vai possibilitar melhorar as condições de boas praticas e de infraestrutura, já que uma indicação geográfica atrai o olhar de outras pessoas de outros locais para aquela região. Por isso o IG é um instrumento de desenvolvimento do território.

Manoel Gonzaga de Souza Reis também é agricultor familiar, e um dos fundadores da Coomac, além de morador da comunidade do Cearazinho. A produção da farinha é um processo que ele conhece desde criança. “Toda uma cultura, tradição, história. Somos incentivados a não deixar as nossas terras”, reforça. Ele atua com cinco famílias em uma casa de farinha, que vivem basicamente dessa produção. “Muitos tentam fazer uma farinha como a nossa, mas ainda não conseguiram. Nossos pais foram nossos professores, com a inteligência deles passaram esse conhecimento para nós. Sempre com um cuidado imenso, lembrando que é alimentação, que é preciso uma higiene. Já passei isso aos meus filhos, sobrinhos”, revela.

O Fórum Técnico de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Estado do Pará é formado por 32 instituições-membro, das quais fazem parte pelo Governo do Estado a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap),a Secretaria de Estado de Turismo (Setur),a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).

 Origem

A relação entre Bragança e a produção de farinha de mandioca é antiga e muito tradicional. Bragança é a maior referência na produção de farinha. Técnicas tradicionais, desde a colheita da mandioca à torra, fazem da farinha de Bragança um patrimônio da gastronomia, crocante, leve e saborosa.

De acordo com documentação apresentada ao Inpi, Bragança produz entre 800 e 850 toneladas de farinha de mandioca por mês e possui cerca de nove mil produtores locais. A produção tradicional feita por famílias nativas da região, acrescenta valor e reconhecimento nacional e internacional. 

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