Cerâmica marajoara contemporânea ganha exposição em Nova Iorque

O projeto valoriza coletivos e artistas que abordam heranças milenares indígenas em arte cerâmica marajoara. Apresentado na biblioteca e arquivos da Americas Society (NY), a exposição iniciou dia 25 de janeiro e fica até 20 de maio.

‘Arte Mangue Marajó‘, ‘Mãos Caruanas’ e ‘Replicando o Passado’: estes são os três coletivos de artistas exibidos, a partir de 25 de janeiro, na exposição ‘Deep Marajó: Contemporary Marajoara Ceramics’ no Americas Society (AS), em Nova Iorque (EUA), em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

A exposição apresenta cerâmicas produzidas a partir de técnicas características encontradas no maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo, o arquipélago do Marajó, abordando mitos e histórias orais de grupos amazônicos. Além disso, também são exibidas fotografias da artista e pesquisadora Anita Ekman, cuja obra tem por temática o povo marajoara.

Foto: Divulgação

Helena Pinto Lima, pesquisadora titular na área de Arqueologia do Museu Goeldi e uma das responsáveis pela exposição, explica a proposta: a ideia que quisemos passar foi a de diversidade, e mostrar as raízes profundas que as artes marajoaras têm desde os primórdios da ocupação do arquipélago. 

“Mas o mais importante é enfatizar que esta arte, milenar, está muito viva nas mãos dos artistas locais. Trazemos réplicas, leituras e releituras contemporâneas da cerâmica arqueológica marajoara, e também criações escultóricas sensíveis inspiradas na relação que as pessoas possuem com os mangues”, pontua Helena, que é a curadora da Coleção Arqueológica do Goeldi e coordena o projeto Replicando o Passado.

Iniciado em 2017, o projeto estimula a pesquisa e produção das cerâmicas feitas por artesãos da comunidade oleira de Icoaraci (Belém/PA), preservando as tradições artísticas da região. São reproduções de peças que fazem parte da Coleção Arqueológica do MPEG, portanto os artesãos participantes estão envolvidos na divulgação da herança e diversidade de povos originários que há milênios viveram na Região Amazônica. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Coleção Arqueológica do Museu Goeldi reúne cerca de 120 mil objetos e 2 milhões de fragmentos procedentes de diversas regiões da Amazônia, mostrando as características das tradições ceramistas ao longo do tempo e em diferentes territórios.

‘Replicando o Passado’ dá sequência na investida do Museu Goeldi em colaborar na qualificação da produção artesanal e de design no Pará através do compartilhamento de conhecimento. Além de socializar o acervo do Museu Goeldi, o projeto Replicando também contribui para ampliar a visibilidade do trabalho dos ceramistas de Icoaraci, polo que possui uma tradição artístico-cultural conhecida pela referência às artes indígenas amazônicas na região. 

“A exposição coloca em evidência a diversidade das artes marajoaras e a potência dos artistas que vivem e interagem com o arquipélago marajoara. Além de mostrar para Nova Iorque sobre a cultura marajoara e amazônica, que ainda é muito pouco conhecida por eles”, destaca Helena Pinto. 

Foto: Divulgação

Arte Mangue Marajó 

É um ateliê situado na principal cidade do arquipélago marajoara – Soure – e que funciona como um espaço coletivo no qual ceramistas têm a oportunidade de pesquisar e experimentar as técnicas tradicionais da artes cerâmicas da região. Fundado pelos artistas Ronaldo Guedes e Cilene Andrade, o ateliê Arte Mangue Marajó está localizado no bairro Pacoval (Soure – PA), onde oficinas realizam também um papel educativo de disseminar a produção artística marajoara e assim trazer a tona a cultura e história da região para uma comunidade com pouco acesso a essas informações. 

Mãos Caruanas 

Também localizado na cidade de Soure, no Marajó, é um projeto criado pela educadora Josie Lima com o objetivo de propagar tanto a história quanto as práticas artesanais de comunidades indígenas que viveram na região por meio da cerâmica marajoara. Atualmente, o projeto já se expandiu e atua também em diversas escolas locais, ensinando técnicas para crianças e professores.

Anita Ekman 

Fotógrafa e pesquisadora, que, através do trabalho fotográfico e de vídeo, identifica povos indígenas como protagonistas históricos, aliados aos membros da diáspora africana na Amazônia e na Mata Atlântica.

Sua pesquisa nos campos da arqueologia e da escravidão indígena e africana na Amazônia e na Mata Atlântica (refletida em suas obras) foi reconhecida por instituições como Harvard, Tufts e Indiana University por seu pioneirismo.

Em suas fotografias, Ekman interage com objetos cerâmicos arqueológicos marajoaras dos acervos de museus (MPEG e também o Museu Etnológico de Berlim). Justapondo o corpo feminino com esses objetos, a artista cria uma ligação entre o passado e o presente, dando destaque para o papel da forma feminina e funções biológicas como gravidez e amamentação nessas esculturas antigas. 

Americas Society 

A Americas Society é o principal fórum que se dedica à educação, debate e diálogo nas Américas. Busca promover a compreensão das questões políticas, sociais e econômicas contemporâneas que confrontam a América Latina, o Caribe e o Canadá. Tem como um dos objetivos mais importantes dar mais valorização para a herança cultural diversificada das Américas. 

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