A rodovia que ligará os dois países, atravessará o Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre, e contribuirá para aumentar o desmatamento na região.
O projeto de construção de uma rodovia no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Sudoeste do Acre, representa ameaça para a biodiversidade e a qualidade de vida da população indígena. É o que indica estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal do Acre (UFAC) e da University of Richmond publicado na revista “Environmental Conservation” no dia 22 de abril.
Considerado o local com maior biodiversidade da Amazônia, o Parque Nacional da Serra do Divisor atravessa cinco cidades brasileiras, entre elas Cruzeiro do Sul, que faz fronteira internacional com o Peru. Para entender como a região vem sendo explorada, os pesquisadores analisaram por imagens de satélite a dinâmica da mudança do uso do solo por 30 anos, entre 1988 e 2018. Os resultados revelam que o controle do Parque como Unidade de Conservação (UC) tem sido eficaz, pois nesse período o local perdeu apenas 1% da sua cobertura florestal, em comparação aos 10% do entorno.
Porém, o projeto viário do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), que pretende conectar comercialmente o Acre à cidade peruana de Ucayali e aos portos do país vizinho, deverá cortar os Parques Nacionais nos dois países. Além de atravessar terras indígenas e zonas de narcotraficantes no Peru, a rodovia Pucallpa-Cruzeiro do Sul pode aumentar o desmatamento em áreas mais internas da Serra e propiciar a construção de outras vias secundárias. De acordo com a pesquisadora Sonaira Silva, essa via também trará outros prejuízos ambientais.
“O benefício econômico que o Governo justifica para a construção dessa rodovia é questionável, já que existe a Rota Interoceânica Sul (IOS) no leste do Acre, que liga Rio Branco aos portos do Pacífico no Peru desde o final de 2000. A construção dessa nova via pode trazer uma especulação imobiliária a região, criar polos de caças ilegal aos animais, aumentar a vulnerabilidade social da população locais e facilitar o tráfico de drogas na Amazônia”, comenta a professora da UFAC.
Outro ponto levantado no estudo é a reclassificação da Serra do Divisor de Unidade de Conservação (UC) para Área de Proteção Ambiental (APA), o que permitiria a extração de recursos naturais. O projeto de Lei 6024/2019 pretende colaborar com o avanço do trecho da BR-364 para se chegar até o Peru, bem como explorar comercialmente a região.
“Esse projeto precisa levar em conta também a opinião das 400 famílias que vivem na região do Parque e dependem dele para sobreviver. Abrir caminho da mata fechada vai trazer sérios impactos como aumento do desmatamento, a biodiversidade endêmica e todas as demais espécies e no próprio regime climático regional e continental”, alerta Sonaira.