Potencial arqueológico em Maués “pode representar uma chave para compreender a história cultural”, indica estudo

Um relatório publicado em 2011 apontou que existem 31 sítios arqueológicos no município amazonense que podem ajudar a entender os movimentos de migração na região.

Conhecida como a “cidade do guaraná”, o município amazonense de Maués também possui outras características que chamam atenção, principalmente de pesquisadores e cientistas. Isso porque, de acordo com um relatório publicado em 2011 na plataforma Academia, intitulado ‘Diagnóstico Arqueológico na Unidade de Conservação de Maués, Amazonas, há descobertas arqueológicas na região.

No diagnóstico realizado na Estação Ecológica Alto Maués (Unidade de Conservação), de autoria do professor do curso de Arqueologia da Escuela Superior Politécnica del Litoral (ESPOL), Guilherme Mongeló, e de Anne Rapp Py-Daniel, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), foi constatado um total de 31 sítios arqueológicos, todos encontrados na margem ou nas proximidades dos rios Parauari, Apocuitaua, Pacoval e do Igarapé Cican, além de três áreas com Terra Mulata (sedimento escuro, mas com baixa quantidade de material cerâmico) e sete áreas com Ocorrências Arqueológicas (áreas com baixa presença de material e sem a presença de sedimento escuro).

A unidade, banhada por três grandes rios (Paraconi, Parauari e Apocuitaua), foi criada no dia 16 de outubro de 2014. A unidade de conservação possuí 668.160,00 de hectares, com o maior número de primatas brasileiros – 13 espécies, sendo três delas endêmicas, ou seja, que só ocorrem na região. Também habitam o local, 624 espécies de aves, sendo 28 migrantes do hemisfério norte e duas do hemisfério sul, além de três espécies ameaçadas de extinção. 

De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), o habitat da região também é adequado à sobrevivência e reprodução da onça pintada.

Foto: Fernando Ozório de Almeida

O que favorece a arqueologia na região é que a cidade de Maués foi criada ao redor (rio acima) do povoamento da Luséa, denominação dada a partir dos nomes dos fundadores – os portugueses Luiz Pereira da Cruz e José Rodrigues Preto, datado a partir de 1798. 

Segundo o relatório, o registro mostra que a vila de Luséa foi atacada pelos indígenas Maués em 1832. Eles acreditavam que os colonos planejavam escravizá-los e mataram 30 soldados que estavam no local, assim como todos os brancos que não conseguiram fugir. 

Luséa foi também palco de intensos conflitos durante o período da Guerra da Cabanagem, sendo tomada pelos cabanos em 1835, Luséa se tornou um dos principais redutos de defesa dos cabanos, que ali só se renderam em 1840.

Durante os estudos, entre os objetos arqueológicos encontrados, está um cachimbo de argila, coletado por morador da comunidade Monte Sinai.

Em grande maioria dos sítios foram encontrados fragmentos cerâmicos de urnas funerárias, pedaços de lâminas polidas, polidores, vasilhas, e até mesmo pulseiras encontradas dentro de um vaso cerâmico.

“Dentre o material encontrado no levantamento arqueológico na Floresta de Maués foi notada uma nítida diferença entre dois tipos cerâmicos. Uma primeira cerâmica, encontrada ao longo de quase toda a extensão visitada dos rios Parauarí e Apocuitaua, possuía pasta clara (bem queimada), paredes finas, decorações incisas, ponteadas e, principalmente, apliques modelados, muitos deles com formato globular. Segundo informações coletadas, muitos dos sítios possuidores dessa cerâmica (sítios Maringá 1 e Mucajás 1) possuíam espessa camada de Terra Preta, o que pode indicar longas ocupações por parte desses grupos. Essa cerâmica possui grande semelhança com a da fase Paredão, encontrada na Amazônia Central, e pode representar uma chave para compreender a história cultural, e os movimentos de migração/expansão desses grupos”. 

Trecho do Diagnóstico Arqueológico na Unidade de Conservação de Maués- AM

Foto: Reprodução /Anne Rapp Py-Daniel

De acordo com o estudo, apesar de pouco conhecido e divulgado, o material histórico proveniente da região de Maués possui imenso potencial para ser explorado, já que em diversos sítios ou ocorrências arqueológicas havia a presença de material cerâmico recente, provavelmente relacionada a grupos de um período intermediário entre a ocupação indígena e dos atuais comunitários ribeirinhos.

Confira algumas imagens dos objetos arqueológicos encontrados na região:

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