O Dia Mundial do Livro, celebrado em 23 de abril, busca ressaltar a importância do incentivo à leitura. O Portal Amazônia convidou jovens autores amazonenses para contar suas trajetórias na literatura.
Instituído em 1995 em Paris, durante o 28º Congresso Geral da Unesco, o ‘Dia Mundial do Livro’ surgiu com o objetivo de incentivar e conscientizar as pessoas para a importância da leitura e da literatura como um todo. A escolha do dia 23 de abril foi devido a data ser o dia da morte de três grandes escritores da história mundial: William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Inca Garcilaso de La Vega.
No Amazonas, a produção literária ganhou destaque com o ‘Clube da Madrugada’, em 1954, inspirado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Após 100 anos, ainda há marcas da influência deste movimento em autores de novas gerações amazonenses, mas também novas visões sobre o que representa o livro.
O Portal Amazônia entrevistou dois autores amazonenses que ressaltam a importância do incentivo à escrita e leitura. Confira:
Visibilidade
Um dos momentos marcantes para a literatura amazonense é a criação do ‘Clube da Madrugada’, que surgiu na primeira metade da década de 50 e revelou autores como Márcio Souza, Aldísio Filgueiras, Zemaria Pinto e Milton Hatoum, sendo este último conhecido nacionalmente pela relevância de suas obras.
Esse movimento estabeleceu novos parâmetros na literatura regional, uma vez que abriram as portas para outros autores e formaram uma identidade literária para Estados que até então não tinham visibilidade nacional.
Leia também: Conheça leituras indispensáveis de autores amazonenses que fazem sucesso dentro e fora da região
O clube se reunia debaixo de uma árvore na Praça da Polícia e chegou até sua segunda geração, divulgando eventos artísticos e culturais, além de obras literárias e visuais.
Novos escritores
Com o crescimento das redes sociais e a necessidade imediatista de estar “antenado” o tempo todo às notícias e acontecimentos, muitos adultos perderam o hábito regular da leitura e alguns jovens, conhecidos por serem da “geração Z”, nunca chegaram a ter este hábito.
Os brasileiros estão no segundo lugar na posição global entre os países que mais gastam tempo na internet, de acordo com dados de 2021 da Hootsuite e WeAreSocial.
“A literatura sempre ofereceu uma alternativa para lidarmos com as aflições do mundo, pois ler é um ritual: precisamos sentar, colocar a mente em um estado de concentração que nos obriga a parar e pensar, processar devagarinho, sem a pressa das telas. A literatura ainda pode ser um refúgio, uma pausa na dinâmica louca do mundo, e se tem algo que precisamos é realmente desacelerar pra ver a vida com mais calma”,
relatou Jan Santos.
Jan conta que seu interesse pela literatura começou com histórias em quadrinhos que ficavam perto dos caixas de supermercado e diz que seus pais tiveram papel fundamental no cultivo do hábito da leitura e o incentivaram nesse processo. “Sempre batalhamos muito e eu fico bem feliz de dizer que priorizaram minha educação nessas batalhas. Graças a isso eu não sou só um leitor, mas enquanto escritor e educador, também quero que mais pessoas desfrutem do universo literário”, assegura.
Jan é autor dos livros ‘Evangeline – Relatos de um mundo sem luz’ (2013), ‘A Rainha de Maio’ (2016), ‘O Dia em que Enterrei Miguel Arcanjo e outros contos de fadas’ (2019) e ‘O livro do rio: Iguaraguá’ (2021).
Assim como Jan, o jornalista, escritor e fundador do grupo editorial Lendari, Mário Bentes teve sua iniciação literária ainda na infância. Ele recorda que passou parte da infância em uma biblioteca, pois esperava sua mãe na escola em que ela era professora. “Senti vontade de escrever a primeira vez depois de ler ‘Entre a espada e a rosa’, de Marina Colasanti, e tive a oportunidade de dizer isso à escritora em seu aniversário de 80 anos”, lembra.
Mário também descreve a importância da literatura:
“A literatura sempre teve e sempre terá importância na construção da curiosidade, criatividade e habilidades de interpretação e abstração. Leitores falam melhor, escrevem melhor e têm mais eloquência”,
garante o escritor.
Mário escreve profissionalmente há 12 anos, mas conta que “seu primeiro livro de fato” foi escrito em um caderno e intitulado como ‘As aventuras de Dakar’.
Ele é autor de ‘A terra por onde caminho’ (2013), ‘Minhas conversas com o diabo’ (2016), ‘EXO’ (2017), ‘Noite de festa’ (2018) e ‘A mulher na máscara de látex’ (2022). Seus principais gêneros de escrita são fantasia sobrenatural, realismo mágico e terror melancólico.
Dificuldades
No dia 23 de abril também se comemora o ‘Dia dos Direitos de Autor’. Apesar da emergência de muitos escritores, principalmente durante a pandemia e com a possibilidade de publicação em plataformas digitais, a publicação do livro físico ainda representa um desafio para quem deseja se inserir no universo literário.
“O processo de publicação foi um desafio, uma vez que não tive orientação sobre o que estava fazendo. Foi uma longa jornada de acertos e erros, e hoje inclusive ministro oficinas sobre como fazer isso, especialmente no acesso aos editais públicos que financiam o lançamento de livros, na esperança de que outros autores tenham menos problemas do que eu ao publicar”,
comenta Jan Santos.
E foi por essas dificuldades no processo de publicação de livros que Mário Bentes criou sua própria editora em 2014, a Lendari. A marca surgiu como selo editorial especializado em ficção fantástica, ficção científica, terror e horror. Mas logo se expandiu e abraçou outros gêneros, como thriller e policial.
Mário Bentes acredita que o cenário literário amazonense tem capacidade de expansão, devido a grande diversidade de nichos e possibilidades de publicações. Jan também segue a mesma linha de pensamento: “Eu imagino que toda uma nova geração vai se consolidar, uma vez que tem muito jovem publicando ao mesmo tempo que abraça a identidade nortista, que se reconhece como um artista amazonense. Isso é bonito de ver, e tenho certeza que em menos de dez anos o Amazonas terá uma boa quantidade de escritores ocupando muitas estantes por aí”.