Hotel Cassina: sucesso e decadência do ícone histórico de Manaus

O prédio viveu o apogeu de hotel luxuoso à um Cabaré no Amazonas.

Uma das fases da capital amazonense, Manaus, de maior destaque sem dúvidas aconteceu durante o apogeu da borracha. Prédios suntuosos, arquitetura europeia e todo glamour europeu “invadiram” a cidade e o Amazonas era visto como um bom lugar para viver. Construído em 1899, na antiga esquina da rua do governador Vitório (Rua dos Armazéns – Rua de Deus Padre) estava um dos locais mais movimentados. Atualmente na Rua Bernardo Ramos n°. 295, o Hotel Cassina levava o nome do empresário italiano Andréa Cassina.

Reflexo do Ciclo da Borracha, o Hotel Cassina recebia comerciantes, atores teatrais famosos, seringalistas e senhores da borracha que estavam de passagem por Manaus naquela época. Mas, com o setor sofrendo queda e a economia na cidade abalada, o prédio transformou-se em pensão e logo após recebeu o nome de ‘Cabaré Chinelo’.

Antigo Hotel Chinelo. Foto: Reprodução/Facebook-

O médico Antônio Loureiro, historiador com 16 livros publicados, conta um pouco sobre a importância do hotel para a cidade. “Era um lugar famoso e hospedou algumas pessoas ilustres, como por exemplo, Luis Gálvez (Luis Gálvez foi um jornalista, diplomata e aventureiro espanhol que proclamou a República do Acre em 1899). O Hotel Cassina podia ser comparado ao Hotel Tropical, pois naquela época só as pessoas ricas podiam se hospedar lá. Imagina o quanto colaborava para a economia local?”, indagou.

Outro motivo para o sucesso do Hotel Cassina era a localização privilegiada. A área era composta pela Sede Provincial do Amazonas, Praça do Palácio, Terceiro Batalhão de Artilharia e uma Fábrica de Redes. “Com o passar dos anos e a queda da borracha a cidade foi sendo esquecida. Então, os lugares que eram atração principal foram falindo e fecharam as portas”, afirmou Loureiro.

Experiência

Na obra de Gonçalves Maia, ‘Livro de Viagem: Norte’ (1904), existe um capítulo especial do Hotel Cassina. No trecho, o autor revela algumas peculiaridades do lugar. Ele cita questões como preço, conforto e entorno do hotel, durante o período em que ficou hospedado. Confira:

O meu quarto no Hotel Cassina dá para o jardim da Praça do Palácio [hoje Praça Dom Pedro]. É o melhor aposento do hotel, como o hotel é o melhor da cidade. É também o quarto mais caro. Pago 20$000 [vinte mil] réis por dia. Já era, portanto, um aposento para ser confortável e até luxuoso. A mobília é, entretanto, humilde. O guarda-roupa não tem portas de espelho. O lavatório é quase um lavatório de estudante. Os tapetes são velhos. Mas a cama é boa, larga, macia e a luz entra em grande jorros (sic), alegrando a vida.

Quando toda a cidade arde abrasada, o meu quarto é fresco. Só isso vale uma fortuna e eu não me queixo. Depois, estou numa cidade onde tudo é caro. Antes assim.

trecho do “Livro de Viagem: Norte”, de Gonçalves Maia.

Revitalização

O local foi fechado em 1960 e, a partir daí, foi tomado pelo abandono, pela vegetação que cresceu com o passar do tempo e pelo vandalismo. Em 2019, um projeto para reativar mais de 70 prédios públicos de Manaus foi posto em prática. As fachadas foram limpas, elementos históricos mantidos e seu interior revitalizado.

O prédio, que foi cuidadosamente revitalizado pelo estúdio Laurent Troost Architecture, agora funciona como um co-working, um local de trabalho compartilhado. As fachadas foram limpas e grande cuidado foi tomado para preservar os elementos originais, como o gesso feito de pigmento de pó de arenito vermelho.

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