Considerada a única batalha naval que aconteceu no século XX, antes da Guerra das Malvinas, a batalha aconteceu por conta da Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em São Paulo.
No dia 24 de agosto de 1932, em frente à cidade de Itacoatiara, no Amazonas, os navios Ingá e Baependy dos legalistas da constitucionalista de São Paulo, envolveram-se em uma batalha com os navios Jaguaribe e Andirá.
Considerada a única batalha naval que aconteceu no século XX, antes da Guerra das Malvinas, a batalha aconteceu por conta da chamada Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em São Paulo.
A Revolução Constitucionalista de 1932
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um confronto armado entre forças, em grande maioria, paulistas, que eram contra o governo de Getúlio Vargas. Também conhecida pelos “getulistas” de contrarrevolução, surgiu a partir de uma série de insatisfações, como, por exemplo, a perda do protagonismo político que São Paulo tinha por conta da aliança com Minas Gerais, a “política do café com leite”.
Acontece que a revolução de 1930, com o início da Era Vargas, colocou fim a força do sistema federalista que sustentava o poder paulista. Até a crise de 1929, o café era o principal produto brasileiro exportado, conquistando maior influência política.
Com isso, as elites paulistas buscavam reconquistar o comando político e esperavam o apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Entretanto, nenhum dos dois Estados aderiram à causa. A revolução iniciou no dia 9 de julho e foi liderado pelo interventor do Estado, que ocupava uma vaga equivalente ao de governador, Pedro de Toledo (1860 – 1935).
Os paulistas realizaram uma grande campanha usando jornais e rádios, causando uma grande mobilização. Houve mais de 200 mil voluntários, sendo 60 mil combatentes. Enquanto o movimento ganhava apoio popular, o governo Vargas encaminhou 100 mil soldados para enfrentar os paulistas.
No total, foram 87 dias de combates: de 9 de julho a 4 de outubro de 1932. O saldo oficial foi de 934 mortos. No entanto, estimativas não oficiais apontam até 2.200 vítimas. As tropas paulistas se renderam ao líder da ofensiva no dia 2 de outubro e no dia 3 assinaram oficialmente a rendição.
A Batalha em Itacoatiara
A informação recebida era que os 70 homens do 4º Grupo de Artilharia de Costa que ficavam na fortaleza de Óbidos (PA), haviam se rebelado, em apoio ao movimento. A notícia chegou a Manaus, no Amazonas, no dia 19 de agosto de 1932, e o general Bertoldo Klinger, chefe nacional da rebelião, nomeou o advogado Alderico Pompo de Oliveira para assumir o posto de coronel e comandar a tropa.
Os rebeldes haviam mandado um ultimato ao 27º Batalhão de Caçadores, pedindo que aderissem ao movimento, caso contrário, atacariam Manaus. O medo era dos rebeldes acabarem tomando diversos navios ao navegar pelo Baixo Amazonas.
Os principais navios eram: Ingá, que pertencia ao Lloyd Brasileiro, com 4.431 toneladas, construído em 1900; Baependi, ex-Tijuca, também do Llyod, com mais de 4.000 toneladas; Jaguaribe, da Companhia de Comércio e Navegação, que era um velho cargueiro de 1.120 toneladas, construído na Inglaterra em 1882 que carregava 42 mil sacos de sal e 100 barris de pólvora que iriam para Manaus; e o Andirá II, da Amazon River, com 235 toneladas, construído na Inglaterra em 1906.
No dia 20 de agosto, foi informado que o Ingá estaria retornando de Parintins e o Baependi voltava de Itacoatiara e já estava atracado em Manaus. Mas não se sabia quais eram os destinos dos navios Jaguaribe e Andirá e da lancha Diana, embora já soubessem que os três eram dos rebeldes, desde o dia 19.
Os navios Jaguaribe e Andirá tinham como objetivo tomar o Amazonas, eles já tinham rendido a cidade de Parintins e tinham como próximo alvo Itacoatiara e Manaus. A rebelião se estendeu pela Amazônia, começando com um levante no dia 19 de agosto de 1932, na cidade paraense de Óbidos.
Ainda no dia 20 de agosto, às 16 horas, 100 homens a bordo do Baependi foram despachados para formarem um ponto de resistência em Itacoatiara, sob as ordens do tenente Álvaro Francisco de Souza, e no dia 21, 50 guardas civis e 30 praças da Comissão de Limites foram encaminhados a bordo do navio Rio Curuçá para abastecer Parintins.
No mesmo dia em que o navio Rio Curuçá saiu em destino a Parintins, o Ingá retornava a Manaus, com a notícia da captura das três embarcações e da tomada de Parintins por 16 homens do civil Arquimedes Lalor e estavam embarcados na lancha Diana.
Durante o ataque, os tripulantes da embarcação cortaram as amarras e fugiram para Itacoatiara, trazendo novas notícias sobre o saque e a captura daquela cidade.
Os rebeldes saíram de Óbidos com destino a Manaus e no caminho embarcaram lenha no porto Desaperta, onde acabaram recrutando algumas pessoas que estavam pescando nas margens.
O Jaguaribe estacionou na Ilha das Ciganas, enquanto o Andirá, com as lanchas Remus e Santa Cruz, foi buscar o 2° Tenente Sotero José Pereira, Arquimedes Lalor e seus 16 homens, que estavam em Parintins, após a fuga da lancha Diana, tendo ali recrutado mais seis homens.
Enquanto a frota rebelde se movimentava, o Baependi deixou tropas em Itacoatiara e retornava a Manaus, assim como o Rio Curuçá, após receberem a notícia da ocupação de Parintins. A bordo dos navios estavam 230 homens do Batalhão de Caçadores, e no Ingá haviam 122 soldados e metralhadoras pesadas.
Os rebeldes chegaram no porto atirando contra a cidade. Trincheiras foram construídas às margens do Rio Amazonas para defender o município. Na tentativa de ganhar tempo, o prefeito Major Gonzaga Pinheiro e o Padre Pereira foram conversar a bordo do navio dos rebeldes para fazer uma tentativa falsa de rendição da cidade. O objetivo era ganhar tempo até a chegada dos navios Ingá e Baependi que tirariam os moradores.
Ao chegarem, por volta das 12 horas do dia 24 de agosto de 1932, os navios entraram em confronto, ocasionando a derrota das tropas da revolução, partindo os dois navios (Jaguaribe e Andirá) ao meio. A batalha não durou mais que 45 minutos.
A história da batalha naval na Amazônia e a cena do combate foram retratadas no livro ‘Itacoatiara: Roteiro de uma cidade’, do autor Francisco Gomes da Silva.
*Matéria produzida a partir da leitura do livro ‘Itacoatiara: Roteiro de uma cidade’, de Francisco Gomes da Silva (1965).