Sede da prefeitura de Rio Branco já foi penitenciária e hotel; entenda o contexto histórico

O prédio do poder executivo municipal já foi a Penitenciária Ministro Vicente Rao, na década de 30 e o Hotel Chuí na década de 40.

A cidade de Rio Branco, no Acre, é repleta de lugares e pontos turísticos que despertam curiosidades que até passam despercebidos, mas, alguns guardam uma extensa carga de história, como é no caso do prédio onde funciona atualmente a Prefeitura de Rio Branco.


Na região central da cidade, o mesmo prédio que hoje abriga a administração municipal já foi um presídio e até um hotel. A sede guarda até hoje muitas histórias. Quem faz o resgate dessas memórias é o historiador Marcos Neves. 

Tudo começa quando Rio Branco ainda não tinha esse nome, era conhecido como o Seringal Volta da Empreza. “Até 1908, 1909, a cidade toda ficava no Segundo Distrito, ou seja, toda do lado de lá do rio. Em 1909, foi desapropriado uma parte do Seringal Empreza do lado de cá e esse pedaço ia da margem do rio até parte da Avenida Ceará e seguia no rumo à baixada”, conta.

Prédio da prefeitura foi presídio hotel e, após reforma, virou sede do poder executivo municipal. Foto: Arte/g1 Acre

Foi a partir daí, que começaram a surgir as ruas e quarteirões e, logo, as primeiras repartições públicas, segundo o historiador. “Primeiro o palácio [Rio Branco] foi feito de madeira e isso durou até a década de 20. Rio Branco era uma cidade de pau, como se dizia antes”, recorda.

Após as primeiras construções, o desafio na imponente capital acreana agora era outro: fazer prédios de alvenaria. Parece simples, mas muitos diziam que em Rio Branco não se faziam obras com concreto.

“Em 1926, com o governo do Hugo Carneiro, começou uma revolução urbana na cidade. Ele fez um grande prédio em alvenaria, que é o ‘Novo Mercado Velho‘, bem na beira do rio e deu certo, o que todo mundo dizia que não ia dar, porque diziam que não se fazia prédio de alvenaria aqui no Acre por causa do solo sem pedra”, justifica.

O prédio, onde hoje fica o quartel da Polícia Militar, foi uma das novas construções e o primeiro presídio da cidade também. Neves conta que os dois edifícios ficavam, na antiga projeção da cidade, na periferia de Rio Branco. “Era a parte mais longe das outras quadras”, completa. 

Atualmente, hoje no prédio funciona a Prefeitura de Rio Branco. Foto: Tácita Muniz/g1 Acre

Prisão e crime 

A ideia de fazer o presídio ao lado do Comando da PM foi ainda de Hugo Carneiro, que não a fez, então, o governador seguinte, Epaminondas Martins, decidiu fazer a penitenciária que foi entregue em 1937.

“Aquele mesmo prédio de dois pavimentos só que com outra configuração de fachada e grades nas janelas. Atrás dela ficava um alambrado onde os presos tomavam banho de sol”, detalha.

O prédio instalado àquela época no limite da cidade recebeu o nome de Penitenciária Ministro Vicente Rao, em homenagem ao ministro da Justiça e Negócios Interiores daquele período.

Quatro anos após a instalação, em 1941, aconteceu o assassinato da professora Rosalina Sousa Silveira. Ela dava aula no antigo Grupo Escolar 7 de Setembro, onde hoje é o Palácio das Secretarias, no Centro da capital, e morava mais ou menos em frente ao atual Colégio de Aplicação, na Avenida Getúlio Vargas.

Para ir para o trabalho, a professora tinha que passar pela penitenciária, onde um preso conhecido apenas por Lázaro cumpria pena e era temido por ser extremamente violento e até era evitado por outros detentos.

Ele desenvolveu uma obsessão pela mulher e acabou matando-a a facadas quando cumpria serviços pela cidade, o que era comum presos fazerem naquela época.

A história indica que isso foi o que motivou a desativação do presídio naquela área. Então, em 1946, o governador Guiomard Santos decidiu fechar a penitenciária. 

Logo após presídio ser desativado, prédio virou hotel Chuí. Foto: Reprodução/Arquivo/Biblioteca IBGE

Hotel Chuí 

Na década de 40, Rio Branco tinha um fluxo grande de pessoas devido ao ciclo da borracha, foi aí que surgiu a ideia de transformar a antiga penitenciária em hotel.

“Dizem que até hoje os fantasmas dos prisioneiros, até do assassino da Rosalina, ainda assombram aquele prédio pelo período em que foi a penitenciária, mesmo que tenha sido menos de 10 anos um presídio. E aí o hotel funcionou ali até o início dos anos 90”, 

diz.

Em seguida, o governo do estado doou o prédio para a prefeitura, que tornou o local a sede da administração municipal atualmente. “E o prédio sofreu uma transformação. As varandas foram isoladas e aí passou a funcionar como prefeitura até os dias de hoje”, pontua.

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