Igreja de Sena Madureira busca por pessoas que possam ter vivido algum milagre com a ajuda do padre, que morreu em 2016
Membros da Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Sena Madureira, interior do Acre, buscam pessoas que possam ter vivido algum milagre com ajuda do padre Paolino Baldassari, que morreu aos 90 anos em 8 de abril de 2016, em Rio Branco. Os milagres vão ajudar no processo de beatificação do padre, autorizado pelo Vaticano em 2019.
Para ser declarado beato pela igreja, é necessário cumprir dois milagres, que a ciência, a comissão da causa e científica determinem que não teria outro modo daquilo acontecer se não fosse intervenção divina por meio da intercessão de uma pessoa, no caso, do padre Paolino Baldassari.
Ele pode ser o primeiro religioso da Amazônia a receber o título. A informação foi confirmada pela igreja católica.
“Praticamente temos o período para iniciar a causa, agora para concluir vai depender muito desses dois milagres. A imprensa serve de auxílio para nós porque, talvez, tenha alguém que saiba que recebeu um milagre e precisamos que essa pessoa chegue até nós, que conte seu milagre, que fale o que realmente aconteceu e a gente coloque à disposição da comissão e assim possam avaliar se houve verdadeiramente ou não”, explicou o pároco de Sena Madureira e vice-postulador da causa, frei Moisés de Oliveira Coelho.
Durante anos, padre Paolino, como era carinhosamente chamado pelos fiéis, viajou para aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas no interior do estado para celebrar batismos, casamentos e outros tipos de cerimônias religiosas.
O velório do religioso atraiu centenas de pessoas para Sena Madureira. Alguns fiéis viajaram até 7 horas de barco para prestar homenagens. Em 2017, A Prefeitura de Sena Madureira instituiu o dia 8 de abril, data da morte do padre Paolino, como feriado municipal.
Processo
O processo de beatificação teve início quando o postulado da Ordem Servos de Maria, Frei Franco Azzali, esteve no Acre em 2019 para o lançamento da biografia do vigário, ‘O prego e a Medalha’.
Durante as etapas do processo, será feita uma consulta à Santa Sé para saber se existe algo que pode desclassificar o candidato. Em janeiro deste ano, frei Moisés contou que recebeu uma carta confirmando que não foi achado nenhum argumento ou irregularidade que impedisse a abertura do processo de beatificação do padre.
“Feitas às devidas investigações, tenho o gosto de informar Vossa Excelência Reverendíssima que da parte da Santa Fé nada obsta à instrução das Causas de beatificação do Servo de Deus Paolino Maria Baldassari, respeitando-se as “Normas a observar-se nas Investigações Diocesanas nas Causas dos Santos” que esta congregação emanou em 7 de fevereiro de 1983″, diz parte do documento.
“Chamamos de ‘nulla osta’, quando quer dizer que não tem nada contrário à abertura da causa e assim podemos, o quanto antes, dar procedimento. Ainda tem alguns passos, montar uma comissão que vai ajudar na causa, precisa fazer uma abertura oficial, que planejamos, talvez, para o próximo mês”, explicou.
O frei contou que as buscas por pessoas que possam tem vivido ou presenciado algum milagre se estende pela zona rural e comunidades isoladas do município. “Ainda estamos à procura. Temos muitas graças já, agora milagre ainda não. A graça é, por exemplo, tinha uma dor de cabeça muito forte, rezei e a dor de cabeça passou. O milagre só pode ser comprovado pela ciência”, pontuou.
Ainda segundo o pároco, as visitas às comunidades ribeirinhas foram retomadas este ano por conta da pandemia de Covid-19. É nesses encontros também que os religiosos procuram por fiéis que possam contar algum milagre de padre Paolino.
“Continuamos com as desobrigas, que são momentos que apresentamos que está acontecendo a causa, que se alguém tiver algum relato que nos procure. Aproveitamos essas viagens para ter esse contato com a população ribeirinha”, frisou.
1º beato da Amazônia
Caso sejam comprovados os milagres e padre Paolino venha a ser declarado beato pela igreja, ele será o primeiro pároco da Amazônia a receber o título. Para frei Móises de Oliveira, isso seria a oficialização do sentimento das pessoas que conheceram e conviveram com o religioso.
“A grande importância da figura do frei Paolino como ser beato e depois ser considerado santo pela igreja é, claro, oficializar esse sentimento que já existe no povo, a proximidade de se ter alguém que possa interceder por todos nós, foi conhecido, que as pessoas conviveram e o mais importante ainda seria o 1º beato da região Amazônica.
Na última sexta-feira (8), quando se completou seis anos da morte do vigário, a igreja de Sena Madureira organizou uma missão em memória do padre.
“Teve muita presença do povo, muita emoção porque todos nós ainda nos recordamos muito dele mesmo”, concluiu.
Quem foi padre Paolino?
Nascido na cidade italiana de Bologna, o padre Paolino Baldassari foi o pároco da cidade de Sena Madureira, no Acre, durante aproximadamente 46 anos. Ele era considerado um símbolo no município por causa de seu trabalho com comunidades tradicionais.
Baldassari morreu após 11 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb). O pároco teve uma parada cardíaca e em seguida sofreu falência de outros órgãos, por volta das 14h do dia 8 de abril de 2016.
O padre chegou a completar 90 anos, no dia 2 de abril daquele ano, enquanto estava internado no hospital. Durante todo o tempo de internação a comunidade manteve correntes de orações pela saúde do padre e realizou vigílias no hospital.
Mesmo após sua morte, padre Paolino inspirou as pessoas a fazerem o bem. Em homenagem ao pároco, uma creche que leva o nome do religioso foi inaugurada no Bairro da Pista, em Sena Madureira.
A partida do religioso deixou órfãos não apenas aqueles que o procuravam por conforto religioso, mas também as comunidades carentes na zona rural do município, a quem ele prestava atendimento médico. Para suprir essa necessidade, um grupo de médicos, enfermeiros e estudantes de medicina resolveu se voluntariar para continuar o trabalho do religioso.
*Escrito por Aline Nascimento do Grupo Rede Amazônica