Os demais passageiros vão atualizando a rota para também ajudar os demais usuários do transporte. Atualmente, a capital acreana não conta com um aplicativo que informa os horários dos coletivos.
“Atenção, senhores passageiros, acadêmicos, universitários, fiquem ligados para mais uma largada da nave! São 12h02, marcando agora no meu relógio, confira na sua escala. Linha 707, a nave já está pronta, as turbinas já estão ligadas. Nesse exato momento, estou saindo do Terminal da Ufac, dentro de 3 minutos vou estar passando dentro da Ufac a 60 km/h, a todo vapor. Partiu! Venha para a parada para você não perder a nave. Fui!”
Vanderlei Fernandes
É assim que o motorista de ônibus acreano Vanderlei Fernandes, de 47 anos, costuma informar aos seus passageiros a localização exata do ônibus que ele dirige, inclusive, uma das linhas mais movimentadas, já que o carro 707 atende alunos do Instituto Federal do Acre (Ifac) e universidades de Rio Branco, incluindo a Ufac.
Em Rio Branco, atualmente não há um aplicativo que mostre em tempo real a movimentação dos carros do transporte público. A capital acreana até chegou a ter, há alguns anos, um aplicativo para isso, mas hoje a ferramenta não funciona mais.
Mas, já que não há um aplicativo específico para o transporte público, pelo menos nessa linha encabeçada por Vanderlei, criou-se uma verdadeira corrente de gentileza e generosidade aliada à tecnologia.
Vendo a dificuldade de muitos passageiros, que perdiam o ônibus ou ficavam muito tempo esperando os coletivos nas paradas, os próprios passageiros decidiram criar um grupo onde tivesse essa comunicação e precisavam de um motorista disposto a se comunicar com o grupo.
E foi aí que entrou Vanderlei. Dos seus 47 anos de vida, há sete ele se dedica ao transporte público e é simplesmente amado pelos passageiros que topam com ele entre 5h às 15h, horário em que ele pilota o ônibus, ou melhor, a “nave”, como ele se refere, e que conduz, em sua maioria, estudantes.
Devido à pandemia e as aulas presenciais terem ficado suspensas por dois anos, o grupo andava meio parado, mas com a volta da rotina, o grupo do “Ifac/universidades” voltou com força total e conta com o acompanhamento da rota em tempo real.
“Comunicação importante”
Ele completa ainda que, para quem pega essa linha, Vanderlei é mais do que um trabalhador – como muitos que fazem uso do serviço – mas também formou laços de amizade. “Ele é um grande amigo, se tornou amigo de muitos alunos e trabalhadores que fazem uso da linha”, completa.
“Me formei graças a ele”
Parceiro de quem ainda faz uso da linha e reconhecido também por quem precisou correr atrás de ônibus, literalmente, durante mais de quatro anos. Como é no caso da Wiliane Gondim, de 25 anos, que se formou em saúde coletiva na Ufac
“O Vanderlei já me salvou muitas vezes. Às vezes estava na esquina da rua da minha casa e aí o ônibus passava, ele me via, parava o ônibus e eu saía correndo para não perder. Ele tem esse lado sensível, não só como motorista, mas também como ser humano. Ele ajuda muito e, por isso, fomos criando essa amizade e intimidade com ele”, conta.
Ela mesmo explica que já foi vítima de assalto duas vezes, uma enquanto estava na parada esperando o ônibus e outra dentro do coletivo. “Como ele faz esse caminho de comunicação para que os estudantes fiquem atentos, isso nos ajudou também em relação a assaltos, porque a gente ficava muito tempo esperando, então acabava ocorrendo muitos assaltos e a ideia do grupo foi justamente para isso, para facilitar essa comunicação”, pontua.
Comunicativo, gentil, empático, um bom ouvinte e incentivador, estes são alguns adjetivos que Wiliane usa para definir o motorista que faz parte de sua história e de centenas de estudantes que topam com ele.
“Outros que já passaram pela linha faziam isso também, mas o Vanderlei está com a gente há mais tempo. Posso até dizer que me formei graças a ele, porque muitas vezes ele me via ainda na esquina de casa, parava o ônibus e eu saía correndo. Isso não é motivo de vergonha para mim, porque ele me esperava. Ele é muito gente boa e as pessoas amam ele justamente por esse carisma”, finaliza.
*Por Tácita Muniz, do Grupo Rede Amazônica Acre