Lutadora trans do Amazonas desafia oponente masculino no MMA

Esqueça as saias, sapatilhas, batons e maquiagem. Apesar de vaidosa, no ambiente de trabalho Anne usa luvas, quimonos e tatames. Até aí, nada de incomum para uma lutadora de MMA, a não ser por um detalhe: Anne nasceu homem.

De acordo com reportagem publicada pelo Globo Esporte Amazonas, o amor de Anne pelas lutas começou ainda na infância. Ao GE, a atleta contou que, quando criança, ela costumava esperar o pai chegar do trabalho para “brincar de porrada” com ele.

Foto:Reprodução/Rede Amazônica

Foi nessa fase também que ela iniciou o tratamento hormonal para diminuir os níveis de testosterona no corpo. Nesta época a paixão pelas lutas já havia se transformado em profissão e a pequena atleta decidiu se dedicar ao jiu-jítsu. Para a surpresa de todos, Anne vencia com facilidade qualquer oponente – incluindo os do sexo masculino.

“A luta sempre foi uma paixão. Sempre brinquei com luta, não havia outra brincadeira. É uma opção minha, porque não passa pela minha cabeça lutar no feminino. Na minha carreira toda lutei com homens. Quero ficar assim até o dia que eu parar de lutar”, confessa.

Hoje, aos 21 anos, Anne surpreende mais uma vez e está treinando para estrear no MMA contra um desafiante masculino. Ao GE, ela explica o motivo de ter desafiado um lutador e não uma lutadora.

“Logicamente que é injusto (lutar contra mulher). O ritmo do meus treinos é mais pesado. Quando eu treino contra meninos, é de igual para igual. Se eu, do nada, for lutar contra mulheres, logicamente vou ganhar mais fácil. Contra homens é diferente. Vou ter que me dedicar cada vez mais. Não passa pela minha cabeça lutar no feminino. Na minha carreira toda lutei com homens. Quero ficar assim até o dia que eu parar de lutar”, disse.

Foto:Reprodução/Rede Amazônica

Para Anne, o sucesso na carreira do MMA poderá ajudá-la a realizar um sonho: conseguir dinheiro para realizar a cirurgia de mudança de sexo. No mundo das artes marciais, reconhecidamente dominado por homens, ela afirma que sofre preconceito por ser uma lutadora trans.

“Quando chego nas competições, ninguém gosta de perder para mim. Sempre pedem meus documentos, perguntam se eu estava na categoria certa. Mas um dia eu vou longe. Quem luta MMA e não sonha em chegar no UFC? Assim como o Mr. Cage abriu as portas para mim, quem sabe um dia o UFC também não abra. Com certeza venceria outros homens”, acrescentou.

Anne subirá pela primeira vez no octógono de forma profisisonal no próximo dia 10 de março. com a proximidade do combate, a atleta interrompeu os medicamentos. De acordo com o médico ouvido pelo Globo Esporte Amazonas, o endocrinologista e metabologista Lucas Mitoso, os anos de tratamento com hormônios deixaram Anne em desvantagem diante do oponente nos quesitos força e agressividade.

“Ela é biologicamente homem, fez tratamento hormonal feminino e luta com homem. Entra em desvantagem porque ela não foi exposta aos hormônios masculinos na puberdade, por isso entra em desvantagem quando luta com homens. Ela perde força, estatura, massa óssea, resistência, agressividade e massa muscular”, ponderou.

Foto:Reprodução/Rede Amazônica

Já o adversário de Anne, o coariense Raílson Paixão, não vê problema nenhum em enfrentar uma mulher no ringue, e trata a oponente como outra qualquer.

“Ela treina com homem fortes e está sempre nas melhores colocações. Para ela, isso é normal. Para mim também vai ser normal. Quando eu entrar no octógono, não vou ver ele como uma menina, mas como um homem. Só o que muda é a aparência dele. Sinto que vai ser uma luta normal, pois tem uma força de homem. Se eu perder, pode até ser vergonhoso, mas se Deus quiser eu vou ganhar. Vai ser de igual para igual, vou cair para cima com tudo”, disse.

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