David Dorman, porta-voz da BAE, afirmou que o avião estava configurado com cadeiras mais espaçosas, para 85 pessoas. A British Aerospace, que se tornou BAE Systems em 1999, lançou o modelo BAE 146 em 1981. A produção da aeronave se encerrou em 2003 por motivações econômicas. O avião que caiu em Medellín foi construído nos anos 90, de acordo com Dorman.
Cerca de 400 aviões deste modelo foram construídos e 220 ainda estão operando no mundo. Seus maiores clientes são a British Airways, que usou a aeronave em rotas do Aeroporto da Cidade de Londres, além do CityJet da Suíça e Irlanda.
Dorman afirmou que a empresa que operava o avião, LaMia, adquiriu quatro aviões da CityJet irlandesa na Venezuela e em países vizinhos, mas a companhia não conseguiu obter as permissões necessárias, então dois dos aviões foram levados para a Bolívia e ficaram disponíveis como charters. “Nem pior nem melhor do que outros”, disse. O modelo já se envolveu em diversos episódios com mortes, mas Dorman diz que nenhum deles foi atribuído a problemas da aeronave.
Capacidade reduzida
A autonomia padrão de voo da aeronave RJ85, da companhia venezuelana LaMia, é menor do que o trajeto previsto para ser percorrido pelo avião que caiu. Informações da consultoria em aviação alemã Jacdec, com base na ficha técnica da fabricante, apontam que a distância máxima padrão do RJ85 que pode ser percorrida pelo modelo é de 1.600 milhas marítimas (equivalente a 2.965 quilômetros). Já a distância direta entre o Aeroporto Internacional Viru-Viru, de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e o Aeroporto Olaya Herrera, em Medellín, na Colômbia, é de 1.605 milhas marítimas, ou 2.975 quilômetros (em linha reta).
Especialistas apontam que a baixa no combustível é possível, mas que há aeronaves do mesmo modelo que possuem tanques auxiliares que aumentam a autonomia do avião. A aeronave foi criada para viagens de curta distância e é usada para pousar em aeroportos de difícil acesso. O modelo é cada vez mais usado em tarefas de combate a incêndios.
O especialista em segurança operacional Miguel Rogeguero, da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA Brasil), diz que é prematuro falar em qualquer causa. “Existe uma versão desse avião com autonomia um pouco maior e ainda nem sabemos qual é o modelo”, disse.
Ele ressalta que um quadro possível é o da soma problemas – combustível próximo do limite e tempo ruim, por exemplo. “É preciso pegar essas informações junto às características no local do acidente, com destroços, informações das caixas pretas e aí sim compor um quadro de causas mais prováveis”, afirmou.
O comandante Dércio Correa, presidente do Fórum Brasileiro para o Desenvolvimento da Aviação Civil, diz que é “provável” que o trajeto feito pelo piloto por causa das condições climáticas no local somado ao combustível limitado tenha relação com o acidente. Ele destaca que a legislação no Brasil prevê que uma aeronave deve ter combustível suficiente para atender um trajeto do aeroporto de saída ao destino, mais duas alternativas e mais 45 minutos de voo de reserva.”O fato de ele não ter explodido com o pouso de emergência já indica que ou ele alijou o combustível ou que realmente estava no limite”, disse. “Outro problema é que a condição meteorológica adversa obrigou ele a fazer muitos desvios, o que significa fazer mais consumo de combustível”, completou.
O especialista em segurança de voo Roberto Peterka disse ao Estado que o avião já estava carregado e que é possível que não estivesse totalmente abastecido. “É difícil afirmar que seja pane seca, mas é uma possibilidade”. Ele destacou que a diferença entre a autonomia do modelo e a distância era “mínima”. Para Peterka, a velocidade baixa registrada no momento em que a aeronave deixa de emitir sinais – cerca de 263 quilômetros por hora – não gera instabilidade. “Começa a ter estabilidade com 180 quilômetros mais ou menos”, comentou.
Teorias
Duas possibilidades já são discutidas entre especialistas – pane elétrica ou pane seca (falta de combustível). A aeronave caiu quando se aproximava do aeroporto na Colômbia. Em momentos finais do voo, a aeronave dá duas voltas ao redor de Medellín. Estava em baixa velocidade, a cerca de 262 quilômetros por hora.
De acordo com o canal BBC, houve outra situação de emergência pouco tempo antes, com um avião da companhia Viva Colombia, que precisou decolar no mesmo local. “É certo que existiu uma emergência com um avião da Viva Colombia – por falta de gasolina – mas esta ocorrência foi atendida antes do primeiro aviso da aeronave que trazia o time de futebol”, disse o coronel Fredy Bonilla, secretário de Segurança da Aeronáutica Civil no País.
‘Modelo do avião era seguro’
Essa é a afirmação do professor da Escola Politécnica da USP, Jorge Eduardo Leal Medeiros. “É um avião seguro. Fez parte do Queen’s Flight, grupo de aviões que atende a família real britânica. Não tem problema de projeto”, disse. Ele ressaltou que o modelo já operou no Brasil.
Medeiros destacou que acidentes de aviões não acontecem por uma causa única e costumam ser classificados em diversos grupos, como de falhas humanas, falha em equipamento e decorrente do ambiente em que o avião está voando. “Nesse caso aparentemente não houve algum fenômeno meteorológico, o tempo estava muito bom. O que chama a atenção é que o avião não pegou fogo. Houve uma declaração de um coronel da força aérea dizendo que não havia combustível. Se somar isso ao fato de que o piloto estava alijando combustível, provavelmente aponta que estavam se preparando para uma descida emergencial”, disse.
“É uma região ruim, montanhosa. Provavelmente não dava para ver muita coisa”, completou.O foco, à princípio, é localizar a caixa preta com as conversas na cabine do avião e também com os dados do voo. “Certamente vai indicar como o avião bateu no chão”, declarou.