Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat

No teatro, cada elemento visual carrega uma função essencial para a narrativa. E quando se trata de ópera, a estética ganha camadas ainda mais profundas. O visagismo, arte de criar a imagem de um personagem por meio da maquiagem e do penteado, assume papel central nesse processo.
No Festival Amazonas de Ópera (FAO), criado em 1997, essa técnica tem se tornado protagonista, contribuindo diretamente para a imersão do público e a autenticidade das histórias encenadas.

Em 2025, o responsável por essa arte no FAO é o amazonense Eugênio Lima, visagista que descobriu sua paixão pela caracterização após uma trajetória que já era ligada à arte e à performance.
“Minha primeira formação foi em dança. A partir daí comecei a me interessar por maquiagem, por estar inserida no processo artístico. Acabei investindo nessa área e me vi trabalhando na caracterização de personagens em espetáculos como concertos de Natal”, relembra.
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Da maquiagem à ópera
Bailarino, coreógrafo, maquiador. E visagista. O ponto de virada na carreira de Eugênio aconteceu quando ele foi convidado a assinar sua primeira ópera: ‘Dessana, Dessana’, de Márcio Souza. A partir dali, mergulhou profundamente no universo operístico. “Em 2019, assinei três óperas. Foi quando tive contato com outras áreas como figurino, direção e iluminação”, conta.
Mas afinal, o que é visagismo? Segundo Eugênio, se trata da personificação visual do personagem. “Cada personagem tem uma história, um conteúdo específico, e o visagismo agrega isso. A imagem do personagem – se é bondoso, maldoso, machucado, calvo, se tem um penteado de época – é construída em diálogo com o figurino e a direção. A partir disso, nasce a identidade visual dele”, explica.
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Bastidores de grandes produções
Com anos de experiência e dezenas de produções no currículo, Eugênio coleciona histórias marcantes. Uma delas aconteceu justamente em sua estreia no FAO, quando precisou assumir a caracterização de várias óperas ao mesmo tempo.
“Eu maquiava quase todos os personagens. Na época, cada um se preparava em seu camarim, então eu circulava por todos com uma logística própria, levando os materiais, montando e desmontando a mala de maquiagem”, lembra.

Hoje, o festival conta com um camarim exclusivo para os personagens principais, facilitando o trabalho da equipe de visagismo. Ainda assim, desafios persistem – especialmente os impostos pelo clima amazônico.
“Trabalhar na Amazônia exige pensar em maquiagens com alta durabilidade, oil-free, que resistam até o final do espetáculo”, explica Eugênio. Sua equipe prioriza o conforto dos artistas e a segurança dos produtos utilizados. “Temos que considerar alergias e preferimos produtos veganos, hipoalergênicos. A ideia é que os atores se sintam confortáveis para performar”, completa.

A busca por excelência inclui testes constantes, pesquisas de produtos e atualização contínua. “Estamos sempre estudando e fazendo cursos para trazer o melhor para a ópera”, afirma o visagista.
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Mais que um trabalho, uma missão
O FAO não só impulsionou a carreira de Eugênio, como também abriu caminhos para outras descobertas. Hoje, ele lidera uma equipe integrada, capaz de acompanhar todo o processo criativo e técnico de uma produção teatral.

“Descobrimos profissionais incríveis nos bastidores, que geram uma grande repercussão para o conteúdo artístico do Norte, especialmente aqui na Amazônia”, assegura.
Para ele, a ópera se tornou um campo de estudo e evolução, impulsionando-o a buscar sempre por inovação. “Mais do que me descobrir profissionalmente, a ópera me fez entender o valor de estudar cada processo, cada época, cada personagem. Não é só executar – é viver esse momento e crescer com ele, ano após ano, para oferecer sempre o melhor ao público”, conclui.
Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.
