A figurinista do Festival Amazonas de Ópera. Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat

Os figurinos são elementos que auxiliam na construção dos personagens e do contexto histórico da ópera, como por exemplo a época em que se passa a obra ou o status social dos personagens, promovendo uma imersão na narrativa.
Neste ano, o Festival Amazonas de Ópera (FAO) apresenta ‘As bodas de Fígaro’, ópera em quatro atos composta por Mozart, que estreou em 1º de maio de 1786. A ópera-bufa (comédia) se inspira em eventos e locais de Sevilha, na Espanha, e satiriza hábitos da nobreza.
Para representar o que se vestia nessa época na ambientação da história, a responsável por assinar os figurinos do festival é a amazonense Melissa Maia, que atua há 15 anos como figurinista.
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Trajetória
“A minha história com o festival, na verdade, é muito interessante, porque eu cresci no festival. Eu assisto o festival desde 2001, então eu tinha 11 anos e hoje em dia eu trabalho já há 15 anos como figurinista”, revela.

Melissa conta que a primeira ópera que assistiu no festival a fez descobrir que “queria realmente ser figurinista”. E foi assim, desde a infância, que construiu sua carreira, “crescendo ao mesmo tempo” com o FAO. “Para mim é um privilégio poder estar trabalhando aqui”, celebra.
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Processo de aprendizado e muito estudo
Para desenvolver os figurinos de uma ópera exige tempo, estudo e muita parceria. Melissa explica que o processo de criação começa com uma profunda pesquisa histórica e dramatúrgica: “A gente faz a decupagem da ópera, lê o libreto, estuda os personagens. Tudo isso em sintonia com o cenário e a direção”.
A ópera no geral exige um cuidado mais especial com tecidos, acabamento e até o contexto. Contudo, na montagem de ‘As bodas de Fígaro’ este ano, Melissa utilizou uma abordagem mais contemporânea, ainda que preservasse o espírito do século XVIII, época da composição original.

“Nessa montagem a gente tem uma licença poética de ser uma montagem mais contemporânea. Então são roupas mais próximas do dia a dia, mas que eu brinco que a gente tem um perfume do século XVIII, que foi o ano que foi composta essa ópera”, descreve.
Isso trouxe desafios específicos, especialmente na escolha dos tecidos. “Figurino de época costuma ser quente e aqui temos que considerar o clima. Pensamos em tecidos mais leves, mas que ainda entreguem a estética necessária”.
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Nos bastidores
O glamour do palco esconde uma coreografia de bastidores igualmente impressionante. Melissa ressalta que o figurino não é obra de uma só pessoa: “Tem produtor, costureiras, camareiras, aderecistas, contrarregras… É uma grande engrenagem”.
Com oito camareiras atuando nesta produção, as trocas rápidas de roupa são cronometradas.
“A gente tem uma equipe que faz toda essa logística de troca. Obviamente temos ensaios para fazer esses testes e ver o que funciona mais. Mas, no geral, tudo depende da equipe e do momento do espetáculo. Tem o stage manager [gerente de palco] que dá o sinal e sabemos quanto tempo a troca terá: dois, cinco minutos. A gente sabe mais ou menos o tempo e faz uma coreografia nos bastidores para organizar essa montagem”, revela.
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Detalhes que fazem a diferença
Um dos diferenciais é a atenção aos detalhes técnicos. No Teatro Amazonas, um dos maiores desafios é adaptar o figurino à iluminação intensa e ao calor, segundo a estilista. Ela conta que o figurino de cena precisa ter textura, volume e camadas. “A luz exige acabamento, senão a gente perde toda a riqueza visual”, conta.

Mesmo com a experiência acumulada, os imprevistos fazem parte da rotina. “Perrengue sempre tem. A ópera é uma obra viva, em constante transformação. Até a pré-estreia, ajustes acontecem. Durante os ensaios, fico na plateia anotando tudo que ainda podemos melhorar”, expõe.
Para Melissa, o figurino mais marcante é sempre o mais recente. “Os figurinos do Conde e da Condessa têm um lugar especial. Me dediquei muito a eles”, revela.
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Reconhecimento
Antes de assinar como figurinista oficial do festival — o que já faz há cinco anos — Melissa trilhou um caminho longo e dedicado. Ela começou fazendo figuração, depois estágio em figurino, e hoje assina como figurinista. Por isso ela diz que foi “crescendo dentro do próprio festival”.
Seu trabalho no evento a projetou para outros palcos. Um dos pontos altos da carreira foi quando um de seus figurinos apareceu no programa ‘Fantástico’, da TV Globo. Na época, Melissa havia ganhado prêmios, mas ali teve projeção nacional. Depois disso, ela contou que teve novas oportunidades, além de reconhecimento no meio artístico.
Melissa carrega com orgulho o fato de representar sua terra em um festival de alcance internacional. “Ser daqui e conquistar esse espaço é uma realização. Mas também exige constante aperfeiçoamento, porque disputamos com profissionais do Brasil todo e de fora também”, diz.
Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.