Atriz do Festival Amazonas de Ópera. Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat
Enquanto o público se encanta com as vozes potentes e os cenários grandiosos do Festival Amazonas de Ópera (FAO), longe dos holofotes, um outro espetáculo acontece nos bastidores. É lá, entre pincéis, pós e sprays, que o visagismo entra em cena — a arte de traduzir, por meio de penteados e maquiagem, a essência dos personagens.
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No Festival Amazonas de Ópera essa missão está nas mãos do visagista Eugênio Lima, que desde 2018 atua na caracterização dos artistas. “Cada ópera tem suas especificidades. A gente estuda tudo com base no figurino e nas orientações da direção. O visagismo tem que estar muito alinhado com a proposta estética do espetáculo”, explica Eugênio.

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A partir daí, surge um trabalho minucioso: entender que imagem cada personagem deve transmitir, respeitando sua individualidade e contexto narrativo.
Um dos maiores desafios desta edição, segundo Eugênio, foi dar vida aos personagens de ‘As Bodas de Fígaro’, de Mozart, uma das primeiras óperas apresentadas no festival. “A história se passa em um lugar ensolarado, no campo. Precisávamos criar a aparência de um bronzeado, mas respeitando a tonalidade de pele de cada artista, sem jamais recorrer a recursos que pudessem ser interpretados como blackface. É um cuidado ético e estético”, assegura.
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Esse compromisso com a autenticidade e o respeito também se reflete na escolha dos materiais: maquiagens hipoalergênicas, oil free e resistentes ao suor são essenciais para enfrentar o calor de Manaus e as luzes intensas do palco.
Camarim em ritmo acelerado
A preparação dos artistas começa cedo. Segundo o visagista, a equipe recebe, com um dia de antecedência, a ordem do dia (OD) — um cronograma com horários e demandas específicas de cada personagem. “Chegamos por volta das 15h30 para organizar tudo. Às 16h já começamos a preparar quem tem caracterizações mais demoradas”, conta Eugênio sobre a preparação para este ano.

Ele menciona alguns casos específicos, como o de uma cantora que precisa fazer babyliss em todo o cabelo, ou o do cantor Murilo, que a cada duas récitas precisa raspar completamente a cabeça para compor seu personagem. “É um trabalho de entrega mesmo. Tudo é feito com muito cuidado para que a caracterização esteja impecável do início ao fim”, explica o visagista.
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Correções, emergências e improviso
Durante os atos, a equipe permanece alerta. “Descemos ao camarim no segundo ato para conferir tudo. Às vezes, é preciso secar o suor, retocar a maquiagem ou ajustar perucas”, revela.
Apesar do ritmo intenso, Eugênio diz que até agora não houve emergências graves nesta edição. “Já tivemos situações em que uma lace [tipo de peruca que usa uma tela para simular o couro cabeludo de forma mais natural] soltou, mas conseguimos resolver na hora, sem que o público percebesse”, diz.

Ao todo, a equipe de visagismo conta com cerca de 16 profissionais, entre maquiadores e cabeleireiros. Eugênio conduz a execução do trabalho com afinco, mas também com gratidão.
“Ver o resultado no palco, perceber que a construção visual dos personagens funcionou, é a maior recompensa. É saber que a soma de todos os detalhes colaborou para aquele momento mágico”, afirma.
Para Eugênio, o FAO representa não apenas um palco de criação, mas também de transformação pessoal: “Já trabalhei nos bastidores sem assinar nada. Hoje, assino óperas com grandes nomes e isso me levou a outros lugares. Agora, quero investir mais em estudos no exterior para trazer novas técnicas para cá. A ideia é essa: formar mais construtores dessa arte que, muitas vezes, passa despercebida”.
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Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.