Foto da capa: Enrico Marone/Greenpeace
Os manguezais são ecossistemas que conectam a terra com ambientes marinhos e são fundamentais para o combate às mudanças climáticas. Com a função de transitar entre o ambiente aquático e terrestre, os manguezais são responsáveis por capturar o carbono lançado pelas indústrias e pela ação humana. Além de deter esse carbono, ele o armazena em sua lama e raízes.
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Essas plantas são denominadas como “berçários”, pois são responsáveis pela reprodução, alimentação e crescimento de 80% das espécies marinhas, segundo Natáli Piccolo, diretora da Conservação Internacional Brasil. “Ter os manguezais é essencial para ter um oceano colorido”, afirma a diretora.
Além de serem berçários, segundo a diretora, os manguezais possuem “superpoderes”.
“Além de ser um espaço de crescimento da biodiversidade marinha, ele também protege a costa dos desastres naturais. É como se tivessem um grande muro natural”, explicou.
Os manguezais também atuam no turismo costeiro e fornecem alimento, através da pesca, reduzindo a insegurança alimentar.
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A situação atual dos manguezais no Brasil
Os manguezais brasileiros possuem extensão de 1,4 milhões de hectares, ficando atrás apenas da Indonésia, país com 4 milhões de hectares de extensão. Na costa amazônica é que está a maior faixa contínua de manguezais do planeta, com mais de 7.500 km² de extensão, segundo o Greenpeace.
Desde o início do século 21, o Brasil perdeu cerca de 25% do hectare de mangue, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Essa perda foi consequência do desmatamento e expansão urbana, principalmente em áreas portuárias e resorts. Os desastres naturais também são fatores que impactam os manguezais”, explica Natáli Piccolo.
Ou seja, o desmatamento do mangue também causa impactos no cotidiano, alerta a especialista: “A gente tem impactos na agricultura, problemas com chuvas, mobilidade urbana e saneamento”.

A diretora afirma que, se os manguezais não são preservados, eles aceleram o aquecimento global.
“Se a gente derruba o manguezal, ao mesmo tempo que ele vai capturar mais carbono da atmosfera, ele vai devolver muito mais. A lama que estava armazenando carbono, ela volta para água e o carbono é mobilizado e solto no ar novamente, acelerando o aquecimento global”, alerta Natáli.
A pesquisadora afirma que é importante preservar o manguezal, por meio de unidades de conservação, chamadas Reservas Extrativistas (Resex) do ambiente aquático e terrestre. Também é possível manejar a conservação através da plataforma “Mapbiomas”, plataforma que monitora a conservação dos manguezais e identifica os ecossistemas que precisam ser restaurados.
Leia também: Conheça os manguezais da Amazônia, o maior cinturão de manguezais do mundo
O Carbono Azul
Além de ser um protetor da natureza, o manguezal é fonte de renda para mais de 500 mil famílias, que são extrativistas, costeiros e marinhos, reconhecidos pelo Governo Federal. Esses trabalhadores possuem propriedade sobre a terra e a gestão das Resex, as unidades de conservação de uso sustentável.
A Conservação Internacional Brasil, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinha (Confren) produziram recomendações de salvaguarda socioambientais para projetos de carbono azul.
Esse material é um guia de recomendações para comunidades originárias que precisam entender a ida de empresas, que trabalham com o projeto de carbono azul, até seus territórios. Esse salvaguarda traz uma linguagem mais acessível, já que o projeto, segundo Natáli é complexo.

O projeto de carbono azul visa restaurar, comprar e comercializar créditos de carbono, um dos principais temas da COP30. Essa iniciativa reuniu mais de 80 extrativistas, que foram capacitados sobre assuntos como créditos de carbono e as pautas que seriam discutidas na COP30 entre demais atividades de capacitação. E com eles, criou-se o salvaguarda.
O Brasil dentro da sua NDC’s Azul, incluiu o projeto “ProManguezais”, que é o Programa de Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais, publicado em 2024. O decreto ressalta a necessidade de considerar os manguezais em sua integralidade, incluindo lavados, bosques de mangue a apicuns.
O projeto inclui o reconhecimento dos serviços ecossistêmicos dos manguezais, articulação interfederativa e entre órgãos públicos e valorização dos saberes tradicionais, entre outras, segundo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
Há seis eixos de implementação, cada um com linhas próprias de ação:
- Conservação e recuperação dos manguezais e da biodiversidade associada;
- Uso sustentável dos recursos naturais e melhoria das condições de produção e comercialização dos recursos dos manguezais pelos povos e comunidades tradicionais;
- Redução de vulnerabilidades socioambientais associadas à mudança do clima nos manguezais;
- Geração, sistematização, e disseminação de conhecimento sobre os manguezais;
- Capacitação e sensibilização sobre os manguezais do Brasil;
- Fortalecimento e sustentabilidade financeira.
Esse decreto tem a estratégia nacional, que contém metas de restauração de áreas costeiras e ajuda nos debates na COP 30. Ele, também, reconhece os manguezais como infraestrutura natural. “O manguezal tem que fazer parte das NDC’s de qualquer país que possua esse ecossistema, porque é muito importante”, enfatizou Natáli.
Especial COP 30
A entrevista com a diretora da Conservação Internacional Brasil, Natáli Piccolo, faz parte de uma sequência especial dedicada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Conferência das Partes (COP30) do programa ‘Bate-papo na CBN’, da rádio CBN Amazônia Belém (102,3 FM ).
Com o olhar de quem vive na região, o programa reuniu informações e entrevistas sobre toda a movimentação da 30ª edição do encontro mundial realizado em Belém (PA), realizado entre os dias 10 e 22 de novembro.
🌱💻 Saiba mais sobre a COP30 aqui

Além de entender a função dos manguezais para as mudanças climáticas, o especial também abordou o trabalho do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) na linha de frente de pesquisas referentes à Amazônia.
A pesquisadora do Imazon, Brenda Brito, destacou a importância de levar conhecimento sobre a Amazônia para o mundo, principalmente na COP30, evento que reúne representantes de diversos países. Ela explicou os levantamentos realizados pelo Imazon, que são referências, sobre o desmatamento na região – de causas às consequências.
Com oito episódios, os programas da rádio, apresentados pela jornalista Brenda Freitas, também ganharam versões especiais no canal Amazon Sat e no Portal Amazônia.
Assista as entrevistas completas no primeiro episódio da edição especial do programa:
Banzeiro da Esperança
A iniciativa Banzeiro da Esperança é uma parceria entre Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Fundação Rede Amazônica (FRAM) e Virada Sustentável, com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA). Esta edição do Banzeiro da Esperança é uma jornada de conexão, troca de saberes e transformação com foco na COP30.
