A cultura em cena construída a partir de memórias

Patrícia Gondim é a diretora de arte do filme “A Nossa Esperança”, realizado pelo Instituto Cultural Vale para o Círio 2021. Com experiência no teatro paraense, ela recorreu às próprias memórias para construir cenários que representem a cultura que envolve os artesãos locais.

O filme publicitário “A Nossa Esperança” – realizado pela Vale, por meio de seu Instituto Cultural – homenageia a cultura que envolve o Círio com cenas do cotidiano dos paraenses nessa época do ano. Para que os cenários do filme fossem mostrados de forma bonita e semelhante aos ambientes reais, o vídeo contou com uma equipe de profissionais do Pará que agregam seu repertório de referências artísticas e culturais para as filmagens.

Uma das profissionais por trás das câmeras é Patrícia Gondim. Com formação em artes visuais e experiência em cenários, iluminação e design de interiores para o teatro, ela foi a diretora de arte do vídeo feito para o Círio 2021.

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Nascida em Belém do Pará, Patrícia conta que sua trajetória na arte inclui trabalhos de cenotecnia, cenografia, artesania e iluminação nos teatros da capital paraense. Com o tempo, essa experiência e a capacidade criativa e de pesquisa abriram oportunidades de trabalho também em filmes publicitários. “As minhas produções em trabalhos de publicidade são no estúdio, ajudo na ambientação cenográfica. Mas como tenho a formação e experiência de iluminadora no teatro, acabo trazendo essas funções para direção de arte dentro dos comerciais. Penso em planos e ambientação cenográfica com objetos dentro de uma artesania”, explica a profissional.

Patrícia Gondim ressalta que estar imersa na cultura do Pará enriquece seu repertório de referências. “A gente é assim, é bem próspero no aspecto cultural. Temos uma multiplicidade de referências e as minhas vão nesse palhar da artesania, que é rica. Temos as comunidades de Abaeté que fazem brinquedos de miriti, as oficinas de madeira que fazem os barcos e móveis pequenos, por exemplo”, destaca.

Com relação ao Círio de Nazaré, Patrícia conta que tem uma relação afetiva enquanto paraense. Observar as cenas que se desenrolam nessa época do ano é uma inspiração para a arte e para os objetos que ela cria em seu próprio ateliê. Um de seus trabalhos anteriores inspirado na época de Círio foi a criação do que ela chamou de objetos luminosos, que eram artigos populares e artesanais, feitos de miriti e madeira e usados em cenas de teatro.

O envolvimento no ambiente de Círio instiga para além do sentido religioso. “Há um encontro da religiosidade com a cultura popular que me dá muito campo para criação. Temos ao mesmo tempo as festas religiosas e as aparelhagens luminosas, com neon, que de certa forma agridem, mas também acolhem. Para quem observa e gosta de produzir a partir disso, somos muito abundantes”, observa a artista.

Durante a pandemia, Patrícia Gondim conta que sente falta do contato presencial que o Círio de Nazaré sempre proporciona. A saída para continuar se inspirando e produzindo arte nesta grande festa é recorrer à memória e à esperança de que, no futuro, as procissões seguindo a Imagem Peregrina retornem a ser o que eram sem o medo do contágio pelo coronavírus. “É o olhar para o outro, o cheiro, a textura, o diálogo, as ações em contexto que acontecem que me alimentam como artista. Nesses dois

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pandemia, meu olhar está indo para fotografias, trabalhos publicitários, coisas que façam a gente buscar a memória. Além disso, há artesãos que ainda estão próximos, mesmo com todos os cuidados. É dessa forma que esse movimento ainda reduzido na cidade vai alimentando a gente e dando algumas medidas de criação”, relata.

Para o seu trabalho no filme “A Nossa Esperança”, Patrícia Gondim criou ambientes como o ateliê cenográfico da artesã de miriti. Para isso, após muito diálogo com a equipe de produção e com artesãos locais, ela trouxe elementos como os móveis desgastados pelo uso, a paleta de cores usadas para pintar os objetos e até mesmo alguns itens construídos em seu próprio ateliê ou alugados de artesãos reais. “Tudo começa com a decupagem do roteiro que recebemos da agência. Depois disso, debatemos sobre as sensações que queremos passar pelo vídeo, então eu desenho os rascunhos e proponho os objetos e as cores que irão entrar em cena. Faço tudo isso ficar harmônico, mas ao mesmo tempo respeitando a identidade dos artesãos”, descreve.

A inspiração para a montagem dos cenários no vídeo do Instituto Cultural Vale para o Círio 2021 vem muito da experiência própria como paraense. “Na hora que sentei para produzir, criar, desenvolver e harmonizar o ateliê da cena, esses elementos todos do Círio estavam lá na minha memória, é só acessar. Em diálogo com os diretores e produtores do filme, pude retratar a construção do ateliê da artesã, ambientando com as varas de miriti fazendo linhas, os objetos a espera de serem pintados e outros já finalizados, essa paleta de cores, com as coisas cruas e outras prontas. É fácil vir essa representação porque eu faço parte disso, moro em Belém, estamos perto dessa zona rural e ribeirinha, eles nos afetam e nós os afetamos”, explica a diretora de arte.

A valorização dos processos de artesania dos ribeirinhos paraenses no vídeo é de grande importância, na visão de Patrícia Gondim. Para ela, a manutenção dessa cultura viva é, também, uma questão de sustentabilidade para além do mero discurso. 

Fico feliz em ver que empresas e agências estão conseguindo trazer essa artesania, do talhar e pintar da madeira, para suas produções. É um processo antigo, mas valiosíssimo que acabamos perdendo um pouco na sociedade contemporânea, e essa perda vai tirando o valor desses artesãos. Então, quando se traz esse conceito como tema de um filme publicitário, com a presença de artesãos reais, essa riqueza cultural está relacionada também com sustentabilidade e responsabilidade ambiental das empresas que decidem trazer o tema de fato e não ficar só no texto”, opina Gondim.

Sobre o Instituto Cultural Vale

A Vale investe há quase duas décadas na valorização e fomento de múltiplas manifestações culturais brasileiras. O Círio de Nazaré, em Belém, é um desses exemplos, sendo patrocinado pela empresa há 19 anos. Com o propósito de potencializar a atuação da Vale na cultura, valorizar patrimônios, democratizar o acesso, e fomentar expressões artísticas, foi criado, em 2020, o Instituto Cultural Vale.

Sua atuação – em museus e centros culturais próprios, na preservação e valorização dos patrimônios material e imaterial e nas múltiplas manifestações artísticas que realiza ou fomenta – é sustentada pela visão de que a cultura é instrumento de transformação social, capaz de gerar impacto positivo na vida das pessoas e construir um legado para futuras gerações.

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