Foto: Bruna Martins/FAS
Iniciativas educacionais que, mesmo enfrentando uma série de desafios, estão mudando a realidade das comunidades amazônicas, além de proporcionar valorização aos professores e um ensino diferenciado que respeita as características das populações locais. Essas são as características do projeto ‘Práticas Pedagógicas Inovadoras para a melhoria do Ensino Fundamental e Médio na Amazônia profunda’, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
Trata-se de uma iniciativa que tem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Movimento Bem Maior (MBM) e teve início em 2023, com objetivo de fortalecer o sistema de formação continuada para profissionais de educação em 11 redes municipais do Amazonas, durante três anos. Até o momento, mais de 516 professores já foram beneficiados pelas atividades do projeto.
“Nós saímos daquela prática rotineira diária com as disciplinas e incorporamos práticas inovadoras, que é exatamente o que esse livro [Bases do Aprendizado], possibilita para inovarmos em sala de aula. As atividades se tornam mais prazerosas, divertidas e, principalmente, debatidas. Porque os alunos podem participar de maneira integral, falando a respeito do que eles entenderam, enquanto nós adequamos para implementar o que está descrito na obra”, diz Jadina Vieira, que leciona na Escola Municipal Maria Almeida do Nascimento, da comunidade Divino Espírito Santo do Isidoro, no município de Coari (a 363 de distância de Manaus).
As atividades são replicadas a partir da obra Bases do Aprendizado, com 60 práticas divididas entre 10 temas. Dessa forma, o professor planeja as atividades e as desenvolve junto com os estudantes. A publicação ajuda a levar um pouco do dia a dia das comunidades ribeirinhas para dentro da sala de aula, promovendo a integração e potencializando o aprendizado de estudantes em classes multisseriadas de forma mais lúdica e efetiva.
Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para a Sustentabilidade (PES) da FAS, explica que a proposta nasceu a partir de relatos entre professores e demais atores sociais.
“As escolas da zona rural, áreas ribeirinhas e de comunidades tradicionais requerem um ambiente pedagógico em contato com a natureza, além de um calendário especial, em virtude da vazante anual dos rios. Os eventos de seca extrema, por exemplo, impedem que os alunos frequentem as aulas presenciais e, muitas vezes, nem remotamente, pois muitos não têm acesso à internet de qualidade. Pensando nesses e em outros fatores, como educação inclusiva, construímos um projeto focado na formação continuada dos professores, para que eles continuem transformando a vida de tantos alunos que anseiam por uma educação de qualidade”, destaca.
A professora Jadina avalia que o projeto é fundamental para a melhora da qualidade de ensino, principalmente em comunidades distantes da capital.
“Faz toda a diferença para os alunos, porque eles gostam. Possibilita que eles saiam da sala de aula, conversem, criem algo em grupo. Eles dividem as tarefas e um grupo para apresentar um trabalho melhor que o outro. Não para mostrar que esse aluno ou essa aluna seja melhor, mas para provar que eles são capazes de dar o seu melhor. Tem atividades que a gente elabora não apenas para os alunos, mas para a comunidade em geral. A sala só tem a ganhar, os alunos, a escola e a comunidade também”, complementa Jadina.
Outro exemplo de mudança pedagógica inovadora é o “Alfabetário Ilustrado”, um alfabeto adaptado para as culturas ribeirinhas amazônicas, em que os estudantes aprendem a partir de informações sobre animais, comidas típicas, objetos, entre outros vocabulários, que dizem respeito à vivência ribeirinha amazônica.
Bernardo Lira é professor na zona rural do município de Maraã (a 640 quilômetros de Manaus) e exalta as mudanças com a implantação do projeto. “A Amazônia é uma região onde há muita desigualdade social. Logo, trabalhar com os métodos da FAS é ter muita qualidade com pouco gasto em materiais, visto que aprendemos a utilizar os próprios recursos da natureza para ensinar as disciplinas. Trabalhamos junto à comunidade vários temas, como consciência ambiental. Isso dá mais autonomia e segurança ao professor”, explica.
“Tradicionalmente, os métodos de ensino [usados] eram muito ideológicos, pois eram tendenciosos e procuravam mais a elite do Sul e Sudeste. Hoje, esse novo projeto vem quebrando esse protocolo da desigualdade. Começamos a utilizá-los trabalhando com materiais da própria região mesmo, em que os alunos já têm experiência ao longo de suas vidas. Isso é democrático para o aluno e o professor”, destaca Lira.