Foto: Christian Braga
A primeira remessa da safra 2024/2025 de borracha nativa gerou mais 31,5 toneladas e R$ 441 mil de renda para famílias e associações de seringueiros dos municípios de Manicoré (a 347 quilômetros de Manaus) e Itacoatiara (a 270 quilômetros da capital), mesmo diante da grande estiagem que vem isolando comunidades e causando grandes prejuízos no Amazonas.
Desse total, mais de R$ 378 mil foram destinados aos seringueiros e mais de R$ 63 mil para as associações. Essa produção faz parte do projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha” que incentiva a retomada da cadeia da borracha amazônica. É uma iniciativa do WWF-Brasil, em parceria com o Memorial Chico Mendes, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), WWF-França, Michelin, Fundação Michelin e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).
As organizações de Manicoré que atuaram na coleta dessa borracha são: Associação dos produtores Agro-Extrativistas do Igarapezinho (APAIGA), Associação dos Moradores Agro-Extrativistas do Lago do Capanã-Grande (AMALCG), Associação de Moradores Agro-Extrativistas da Comunidade de Bom Suspiro, Associação de Moradores Agroextrativistas Nossa Senhora de Nazaré da Barreira do Matupiri. Já de Itacoatiara é a Associação dos Produtores e Criadores Extrativistas do Amazonas (APROCRIA).
“Sempre acreditamos e viabilizamos condições para que as comunidades extrativistas da Amazônia tivessem a garantia de seus territórios para viver com dignidade na floresta. Essa iniciativa, com os resultados que têm gerado, é uma demonstração de que isso é possível. Vamos continuar lutando e viabilizando as condições para que mais extrativistas tenham oportunidade de viver com dignidade em seus territórios”, declara Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes.
A produção sairá de balsa de Manaus em direção a Belém, capital do Pará, onde ocorre o transbordo da balsa para um caminhão, que segue em direção à Igrapiúna, na Bahia. O material retornará a Manaus como insumo para a fabricação de pneus de motocicletas e bicicletas.
A chegada da borracha em Manaus representa uma grande vitória, diante das dificuldades de navegação dos rios amazônicos com a seca histórica, que assola o Estado. Algumas associações, não conseguiram escoar suas produções, como a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Município de Uarini (ATRAMP) – a 570 quilômetros da capital amazonense, que beneficia em torno de 80 famílias.
Eles produziram mais de oito toneladas de borracha, mas não conseguiram fazer o transporte da comunidade para a capital. Já as associações de Eirunepé produziram sete toneladas, que não podem sair de lá porque não há navegabilidade nos rios.
Natasha Mendes, Analista de conservação do WWF-Brasil, enfatiza que a iniciativa é um exemplo de geração de renda para as comunidades do Amazonas, incentivando práticas extrativistas sustentáveis para o território.
“O principal objetivo do projeto é valorizar a prática sustentável através de um pagamento justo para os seringueiros e que considere os serviços ecossistêmicos de impacto positivo para que a floresta continue em pé”, afirma.
Os seringueiros que moram nas Reservas Extrativistas (Resex) envolvidas no projeto, de retomada da borracha, têm a compra garantida e negociada a um preço justo. Tanto que, na composição do preço da borracha vendida para a Michelin, é considerado não apenas o valor de mercado similar ao látex coletado em florestas plantadas no Brasil, mas também são adicionados bônus referentes à sustentabilidade, comércio justo e prestação de serviços ambientais como a conservação da Amazônia. Além disso, também é revertido um valor para manter funcionando a estrutura e a mobilização das associações envolvidas na iniciativa.
“O projeto vem como uma resposta e alternativa de modelo de desenvolvimento sustentável, que gera renda e inclui o pagamento por Serviços ambientais (PSA), além de reconhecer os saberes tradicionais das comunidades que trabalham com a coleta da borracha nativa. O fortalecimento da cadeia da borracha gera uma rede robusta que conecta pessoas, clima, biodiversidade, território, negócios e oportunidades”, explica Bruna Mesquita, Gerente de Sustentabilidade para a Michelin na América do Sul.