Desde fim de junho, pelo menos 30 mulheres quilombolas de Abaetetuba, no Baixo Tocantins, estão sendo orientadas pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) a manejar árvores nativas de bacuri, com o intuito de aumentar a produtividade e criar uma rede de comercialização, além da colheita para a subsistência.
O Projeto Putirum (em tupi, algo como “mutirão”) é uma iniciativa da Associação de Mulheres Quilombolas Agroextrativistas do Ramal do Bacuri (Raízes do Bacuri), com recursos da organização-não governamental (ONG) Cáritas Brasileira, o apoio do governo do Estado, e da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educação (Fase).
O objetivo imediato é, por meio de atividades coletivas de instalação e manutenção, observar e empreender tecnologicamente sobre três unidades demonstrativas (uds), cada uma com 2 mil e 500 m².
Sem as intervenções científicas devidas, como espaçamento, o bacuri dos territórios Cataiandeua e Ramal do Bacuri, no adentramento da rodovia PA-151, atualmente, não chega a atingir nem 1% do potencial de frutificação, conforme estimativa de especialistas da Emater. Ainda no apontamento da Instituição, a polpa é uma das mais caras do mercado regional de espécies amazônicas, o que repercute em margem significativa de lucro, na venda direta.
Uma das ameaças para a cadeia produtiva é o desmatamento, haja vista a madeira do bacurizeiro ser considerada nobre, com uso tradicional na construção de pequenas embarcações.
“Nossos antepassados focaram na madeira, e derrubaram e queimaram muito, o que enfraqueceu nossas terras. Mas hoje nossa visão é diferente: madeira a gente tira e só lucra uma vez; bacuri, não: a gente colhe, consome e comercializa das mais diferentes formas, todo ano; Fora isso, nossa intenção é preservação máxima da floresta”, destaca Marciane Pastana, de 36 anos, presidente da Associação de Remanescentes de Quilombos da Comunidade Ramal do Bacuri (Arquiba).
A agricultora vive sozinha com a filha, Maitê, de 8 anos. A família trabalha com açaí, cupuaçu, limão e mandioca. Poucos bacurizeiros são produtivos na propriedade. A colheita acaba destinando-se apenas ao próprio consumo.
Para o engenheiro agrônomo da Emater Flávio Ikeda, o manejo transforma a realidade: “A incidência na natureza, as plantas por acaso, por obra do ‘cara lá de cima’, é de muita proximidade, de cerca de meio metro entre cada uma. Quando espaçamos para 10 metros, e plantamos espécies de retorno rápido no caminho, tais quais abacaxi, o processo alavanca a produtividade”, explica.
O Projeto
O Projeto Putirum também é voltado ao plantio e beneficiamento de mandioca. Duas Unidades de Demonstração são implantadas pela Emater, a partir de duas estratégias desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): Jardim de Reciclagem e Plantio Direto Agroecológico.
*Com informações da Agência Pará