Foto: Oseias Martins/Rede Amazônica RR
Há mais de 30 anos, Washington Luís cultiva a terra na região do Cantá, Norte de Roraima. Atualmente, ele dedica a propriedade ao cultivo de cacau e banana, com planos de expandir a venda para o mercado local e outros estados.
Mas os desafios não têm sido poucos. A seca e a estiagem no início deste ano, causadas pelo fenômeno climático El Niño, prejudicaram o cultivo e trouxeram prejuízos. Por isso, ele resolveu investir na irrigação como saída para driblar imprevistos climáticos.
Ele explica que o baixo nível de água foi um dos principais problemas enfrentados em sua plantação: “Toda produção que a gente tem de plantio vai de água baixa. Já está dizendo, de água baixa, porque a água foi pouca”.
“Uma seca dessa que deu ano passado aqui, com um plantio desse, ele estava todo morto. Já era um investimento perdido, total”, lamenta Washington.
Para evitar novas perdas, Washington investiu em um sistema de irrigação. Ele criou um açude com capacidade de atender toda a propriedade. “Eu tenho um açude aqui de 50 metros por 25 de largura, com 3 de profundidade, que é o reservatório maior que eu tenho de água. A gente utiliza ele, dá cento e poucos metros daqui até lá”.
A água é distribuída por áreas divididas, e o sistema é usado todos os dias, principalmente durante os horários de maior calor. “A gente usa uma hora, uma hora e vinte em cada gleba. Então chega em torno de três, três horas e meia por dia. Mas assim, todo dia, no momento que o sol tá muito quente”.
Fenômeno climático afetou o estado
O El Niño é causado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico e, neste ano, aumentou o número de queimadas e provocou seca nos rios em Roraima. A expectativa de produtores e especialistas era pela chegada do La Niña, fenômeno oposto, que traria mais chuvas. Porém, até agora, ele não se confirmou.
Maria Clara, meteorologista, explica que a falta de chuvas está associada à ausência de “corredores de umidade”, que são zonas atmosféricas que favorecem a precipitação.
“Quando nós temos os corredores de umidade, aquelas zonas de convergência do Atlântico Sul que atravessam o Brasil e acabam conectando a umidade do Sudeste com a umidade da Região Norte, favorecem as chuvas em Roraima. Essa condição a gente está vendo muito pouco, ela tem acontecido muito pouco”, pontua.
Sem o La Niña e com as propriedades ainda se recuperando dos impactos do El Niño, o cenário preocupa agricultores. Para Haron Xaud, pesquisador da Embrapa, é essencial pensar em estratégias para reduzir os riscos nas culturas.
“Tudo que há de incêndio em Roraima, principalmente os grandes como foi no início desse ano, acabam trazendo menos água para todas as propriedades aqui. A gente tem que tomar cada vez mais cuidado com isso”.
Segundo Haron Xaud, sistemas de irrigação são fundamentais para lidar com as irregularidades climáticas. “A irrigação deve sempre ser uma alternativa para os produtores, mas deve ser feita de forma licenciada, dentro de todos os preceitos de utilização na propriedade”.
Washington acredita que os esforços já dão resultado:
“A gente olha a planta, vê a planta toda bonita, toda desenvolvendo. Não tem nada que entristeça a gente, porque nem a própria planta tá triste. Todo tempo ela alegra que tem água o suficiente. Ela tem como base dar 70% a mais da expectativa do produto. Porque, sem irrigação, ela tem um período que não vai desenvolver. Irrigada e adubada, todo tempo ela tá produzindo e tá desenvolvendo”.
*Por Naamã Mourão, da Rede Amazônica RR