O novo rei britânico, Charles III, é um ambientalista com longa história de campanhas pela proteção da natureza, agricultura orgânica e luta contra mudanças climáticas.
O rei Charles III, do Reino Unido, já veio ao Brasil algumas vezes, e ao Amazonas em duas oportunidades. A primeira em 1978, quando fez viagem de barco pelas cercanias de Manaus, visitou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Teatro Amazonas. Na segunda vinda, em 2009, fez-se acompanhar da esposa, a princesa Diana e todo seu charme e elegância. Desta feita, participou de discussões em torno de questões de preservação ambiental, em encontros com governadores e autoridades vinculadas a organismos de meio ambiente da região. Durante visita a comunidades indígenas, lideranças propuseram ao príncipe Charles um modelo de desenvolvimento sustentável para garantir recursos às próximas gerações.
Na verdade, o novo rei britânico, Charles III, é um ambientalista com longa história de campanhas pela proteção da natureza, agricultura orgânica e luta contra mudanças climáticas. Quando da Cúpula do Clima COP26 (31 de out. a 12 de nov. de 2021), em Glasgow, Escócia, o príncipe Charles fez discurso de abertura no qual pediu aos líderes mundiais que redobrassem seus esforços para combater o aquecimento global. “O tempo literalmente acabou”, avisou.
A COP26 tornou-se palco da luta da juventude e comunidades indígenas e tradicionais de todo o mundo por justiça climática. Mobilizadas, invadiram as ruas da cidade pedindo “compromissos sérios e ações efetivas de países e empresas para conter a crise climática, que já impacta milhões de pessoas e ameaça de forma catastrófica as próximas gerações”. Na ocasião, o Brasil foi acusado de violação dos direitos dos povos e comunidades tradicionais. A delegação brasileira, no devido tempo, respondeu com uma proposta concreta de se tornar carbono neutro até 2050 e cortar em 50% as emissões brasileiras de gases do efeito estufa até 2030.
Paralelamente, ao encerramento da Cimeira, mais de 100 países assinaram um acordo voluntário para o fim do desmatamento até 2030, com a mobilização de 19,2 bilhões de dólares para esse esforço, incluindo o Brasil. Considerando-se os US$ 100 bilhões comprometidos no Acordo de Paris, de abril de 2016, não se tem notícia de nenhum cent de dólar que tenha sido destinado a tais finalidades por qualquer país signatário, mesmo do lado dos líderes das causas ambientais. Promessas, na verdade, surgem e desaparecem no horizonte ambiental com a velocidade de um meteoro e se esvaem com a mesma intensidade ao lado de novas promessas a serem “discutidas e comprometidas” na próxima COP. No caso, por ocasião da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP27), a ser realizada de 6 a 18 de novembro de 2022 na exclusiva cidade balneária de Sharm El Sheikh, Egito.
Proclamado Rei no último sábado, 10, a par de causas sociais, educacionais e religiosas sobre as quais se debruça, o móvel em que o monarca é mais ativo centra-se na questão ambiental, assim o demonstra o papel por ele desempenhado durante a COP26, levada a cabo na Escócia ano passado. Além do mais, enquanto príncipe Charles, fundou instituições de caridade, como a Prince’s Trust, que ajudou aproximadamente a um milhão de jovens desfavorecidos, e defendeu causas como planejamento urbano sustentável e proteção ambiental muito antes delas entrarem na moda.
Bem a propósito, o Brasil mantém um memorando de cooperação bilateral para inovação com a agência britânica Innovate UK. A parceria tem por fim lançar uma “chamada” para empresas brasileiras e britânicas sobre o desenvolvimento de projetos de tecnologia para smart cities e ambientes urbanos sustentáveis, envolvendo internet das coisas, big data, smart grids, tecnologias de transporte multimodais e controle de tráfego, energia limpa, controle e gasto de água e infraestrutura blue-green. A iniciativa conta com recursos do britânico Newton Fund, destinado ao desenvolvimento científico; do BNDES e da EMBRAPII (Empresa Brasileira de Inovação Industrial). O Brasil e a ZFM tem muito a lucrar com essa parceria. Um desafio e tanto aos nossos governantes e instituições voltadas ao desenvolvimento regional do nível da Sudam e Suframa.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).
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