No primeiro trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto dos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico cresceu apenas 0,1% intertrimestral.
No primeiro trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países integrantes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico) – Brasil em fase de inclusão no bloco – cresceu apenas 0,1% intertrimestral. Para a Organização, houve uma forte desaceleração frente aos incremento de 1,2% do quarto trimestre de 2021 (gráfico em anexo).
No tocante ao G7, o crescimento intertrimestral do PIB foi negativo no primeiro trimestre de 2022. Caiu 0,1% em comparação com o aumento de 1,2% alcançado no quarto trimestre de 2021. Segundo a OCDE, o resultado do G7 no primeiro trimestre de 2022 reflete o crescimento negativo do PIB nos Estados Unidos, de menos 0,4%, Itália (menos 0,2%) e Japão (menos 0,2%); assim como um crescimento zero na França, e positivo, porém débil, no Reino Unido (0,8%) e Canadá (1,4%) relativamente ao trimestre anterior. A Alemanha foi o único país do G7 onde o ritmo de crescimento aumentou. Aqui, o PIB expandiu-se 0,2% no primeiro trimestre do exercício em curso face a uma contração de 0,3% no trimestre anterior.
Outros países da OCDE, que dispõem de dados relativos ao primeiro trimestre de 2022, Portugal e Áustria registraram os maiores incrementos do PIB comparativamente ao último trimestre de 2021 (2,6% e 2,5%, respectivamente), seguidos de Hungria e Letônia (2,1% em ambos os países). Dados da OCDE demonstram reduções do PIB na Noruega (menos 1,0%), Chile (menos 0,8%), Costa Rica (menos 0,5%), Israel e Suécia (menos 0,4% nos dois países) e Dinamarca (menos 0,1%).
Os dados em análise são um claro indicativo de que o quadro conjuntural internacional é muito preocupante, seriamente agravado pela invasão russa à Ucrânia e as interrupções das cadeias de fornecimento potencializadas durante a pandemia do Covid-19. Sem embargo, o principal fator responsável pelos crescimentos mais lentos ou negativos do PIB no Reino Unido, Estados Unidos e Japão. De acordo com os estudos conjunturais da OCDE, na França, as mudanças ocorridas na corrente de comércio e a acumulação de estoques proporcionaram uma contribuição positiva, porém a demanda interna freou o crescimento do PIB, reflexo de uma forte contração do consumo privado.
China
Quanto ao gigante asiático, um dos focos de análise do Boletim FGV IBRE, a expectativa é de um improvável crescimento econômico de 5,5% para o país em 2022, conforme a meta do governo. A pesquisadora da FGV IBRE, Lia Valls, considera, entretanto, que essa desaceleração não deve reduzir o papel da China no superávit comercial brasileiro este ano. Afinal, o que até agora se perdeu em volume exportado, compensou-se em preço.
Brasil
Dados do Boletim Macro da Fundação Getúlio Vargas – FGV IBRE, de maio, dão conta de que “a inflação pressionada, aumentar os juros é o mecanismo clássico para tentar frear esse dragão. Remédio amargo que encarece o crédito e traz impactos negativos sobre a atividade econômica, que vem andando de lado há algum tempo. A Selic, que é a taxa básica de juros da economia, já está na casa dos 12,75% ao ano”.
No próximo dia 2 de junho, o IBGE divulga os números do PIB do primeiro trimestre deste ano. A expectativa é de que a atividade econômica tenha se recuperado um pouco em relação ao ano passado, quando estávamos mergulhados na pandemia. Segundo o Monitor do PIB, calculado pelo FGV IBRE, “a atividade econômica deve ter crescido algo ao redor de 1,5% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2021, puxada pelo setor de serviços, que se recuperou, ainda que não totalmente, dos desastrosos efeitos da pandemia”.
Crescimento do PIB brasileiro
Como se pode inferir, o Brasil convive com PIBs negativos há décadas. Mas o país reage. Não fossem as incongruências, o oportunismo e a politicagem eleitoreira do Congresso e as tendências políticas oposicionistas da Suprema Corte, o Brasil teria sustentado vigorosamente o crescimento inaugurado com o Plano Real a partir de 2004. Por outro lado, segundo o estudo da FGV, “com a pandemia dando uma trégua, houve uma relativa normalização da atividade econômica cujo fôlego, no entanto, pode estar se esgotando pela inflação que está corroendo o poder de compra das famílias, pela escalada dos juros e pelo cenário externo que está cada vez mais incerto”.
O Boletim Macro FGV IBRE que circulou em maio considera que a guerra na Ucrânia, que já se estende por mais de três meses – até o momento sem previsão para terminar -, aumentou ainda mais as incertezas que pairam sobre as economias. A intenção da Finlândia e Suécia de entrarem na Otan jogou mais lenha na fogueira, com ameaças de retaliação russa aos dois países, mesmo com a Turquia se declarando contra a inclusão. Para isso ocorrer, deve haver unanimidade entre os países que fazem parte da Otan.
O cenário para este ano já era desafiador, como destacado nas edições anteriores do Boletim. Em relação a 2022, de acordo com previsões da FGV, “a perspectiva era de baixo crescimento do PIB e de uma taxa de inflação acima do limite superior do intervalo de tolerância, de 1,5 ponto percentual, além da meta de 3,5%. Era também incerto, em função da realização das eleições em outubro e da perspectiva de aperto monetário nas principais economias, em especial nos EUA, o que em geral impacta de forma relevante as economias emergentes”.
Energia renovável
O Boletim FGV IBRE considera, adicionalmente, que outro setor que deve entrar no radar brasileiro é o energético. Com a guerra na Ucrânia, “os países europeus decidiram buscar sua segurança de suprimento investindo prioritariamente em energias renováveis. E a esperada desaceleração da transição energética global rumo a uma economia carbono zero, devido à alta de preços dos combustíveis fósseis, agora ganha novo fôlego”.
Análises da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) apontam, todavia, que “o país tem vocação para esse setor e pode se posicionar globalmente, com uma agenda de desenvolvimento socioeconômico não só no segmento de geração como também no de biomassa”.
Plano real
O Plano conseguiu reduzir a inflação a níveis aceitáveis. Mas a estabilização não foi suficiente para sustentar o crescimento econômico, que continua sendo um problema da economia brasileira até hoje. No início de 1994, a inflação estava em 40% ao mês, ou três mil por cento ao ano. Os preços subiam sem parar – gasolina, alimentos, prestações… A cada hora o cruzeiro valia menos em relação ao dólar. Era o caos da hiperinflação. O truque dos economistas foi criar em fevereiro uma espécie de dólar virtual, a URV, Unidade Real de Valor.
O gráfico a seguir dá bem a ideia das flutuações inflacionárias do período precedente ao Plano Real:
De acordo com estudos do Ministério da Economia, a roda-viva dos preços continua corroendo o cruzeiro, mas não atinge a URV. Em julho, a URV perdeu as letras U e V, permanecendo o R, de real. A nova moeda nasceu sem a doença da hiperinflação. Finalmente tínhamos uma moeda forte: um real valia o mesmo que um dólar. Aos poucos, sem congelamento de preços, chegaríamos a uma inflação de país desenvolvido: apenas 1,5 por cento em 1998. Os juros, todavia, continuavam de terceiro mundo: o Banco Central jogou a taxa básica nas alturas, desestimulando o consumo e atraindo investidores para equilibrar as contas externas.
Inflação baixa e juro alto resultaram em pouco crescimento econômico, sedimentado em boa medida pelas exportações. O Produto Interno Bruto (PIB), que mede a riqueza produzida no país, crescia quase seis por cento no lançamento do real. Quatro anos depois, em 1998, a economia brasileira praticamente parou de crescer. A estagnação coincidiu com as crises externas da Ásia e da Rússia, entre 97 e 98. Com a queda nas exportações e o fantasma da recessão, o governo desvalorizou fortemente o real no início de 1999. O dólar, que custava um real, passou a custar mais de dois reais, voltando depois para R$ 1,75. O Banco Central adotou o câmbio flutuante e o sistema de metas para a inflação.
A despeito de todas as tentativas, até hoje o Brasil aguarda acontecer, e se consolidar, o crescimento econômico sustentado com distribuição equânime de benefícios sociais e econômicos duradouros à população.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).
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