Mudanças climáticas e segurança alimentar: para onde caminha a Amazônia?

“Grandes desafios resultantes das mudanças climáticas incluem a determinação de caminhos específicos para respostas aos impactos, em meio a riscos diversos".

Foto: Mauro Neto/Secom AM

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

Impactos climáticos, aponta a ciência, são, por natureza, interdisciplinares e estão associadas a questões atinentes a temperaturas extremas, chuvas intensas ou ausência delas, tempestades severas, enchentes, secas, aumento do nível do mar ou derretimento do gelo, queimadas e incêndios ao longo da história e nas mais diversas regiões do globo. Questões expostas e que aguardam respostas dos nossos sistemas biológicos (agricultura, pesca, ecossistemas, saúde humana), dos sistemas tecnológicos (edifícios, transportes, indústrias e outros) e dos sistemas sociais (deslocamentos de comunidades, mudanças no uso da terra, competições por recursos).

O cientista Alex Ruane, pesquisador no Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, a agência espacial norte-americana, onde codirige o Grupo de Impactos Climáticos, apresentou no final de agosto, na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a conferência “Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar – dos Modelos às Avaliações e Soluções”. O Projeto de Intercomparação e Melhoria de Modelos Agrícolas foi criado para permitir o trabalho colaborativo que integre escalas e disciplinas com abordagens de profundidade, baseadas na força de uma rede coordenada de cientistas. Para ele, “grandes desafios resultantes das mudanças climáticas incluem a determinação de caminhos específicos para respostas aos impactos, em meio a riscos diversos. Por exemplo, entender como calor, seca, inundação e enriquecimento de CO2 afetam o milho, isoladamente e em combinação, o contraste entre os sistemas de milho e os aspectos únicos de outras culturas, como em relação à biodiversidade amazônica”.

Múltiplos estudos nos informam sobre os limites de tolerância, identificam pontos críticos de risco e fornecem metas e limites para a adaptação. Para Ruane, também precisamos entender como as comunidades responderão às mudanças climáticas: quantos anos ruins são necessários antes que ocorra uma mudança? Isso requer mais informações sobre valores, mecanismos para minimizar riscos (por exemplo, seguros, subsídios, cadeias de suprimentos diversificadas) e a psicologia da tomada de decisões sob incerteza. Quase todo tipo de aplicação climática resulta de um envolvimento antecipado e sustentado e da colaboração com as partes interessadas, assevera.

Para o cientista há, efetivamente, enorme necessidade de “mais pesquisas sobre como choques alimentares por exemplo, queda na produtividade devido à seca) surgem em uma determinada região e reverberam via mercados globais, afetando uma gama de consumidores vulneráveis”. E adverte: “há poucos modelos publicamente disponíveis de cadeias de suprimento do sistema alimentar, estoques e reservas de alimentos e estratégias de gerenciamento adaptativo, dado os alertas iniciais de choques alimentares, abrangendo intervenções de mitigação e adaptação climáticas que possam ser implementadas com sucesso, mantidas e apoiadas, para se tornarem aspectos permanentes de comunidades mais sustentáveis”.

Difícil, nas circunstâncias, obter respostas convincentes e pragmáticas sobre esses eventos sem estreita colaboração entre a comunidade de pesquisa, governos em múltiplos níveis, o setor privado e a sociedade civil. Problema que avulta na Amazônia pelo distanciamento, ausência de conectividade e de governança do sistema de ensino e pesquisa regional. Pesquisadores locais questionam se “o desenvolvimento social e econômico se sobrepõe ao ambiente, qual exatamente a explicação das mudanças climáticas ou se, a continuar o ritmo do desmatamento, caminhamos para um inevitável colapso?”. Evidentemente, as respostas a essas indagações cabem à própria ciência. E elas somente advirão vis-a-vis a capacidade de interconectividade e governança do próprio sistema, nas seguintes condições: coesos, agregados, confiantes no futuro, avançamos; dispersos, isolados, involuímos ou, no mínimo, estagnamos.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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