COP30 frustra expectativas e perde credibilidade

A baixíssima adesão ao TFFF decorre do baixo nível de confiança que o natimorto Fundo provocou junto aos 195 países integrantes da UNFCCC, a mãe das COPs.

Globo terrestre pendurado no teto de pavilhão da Blue Zone na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

As 29 COPs predecessoras da COP30, de Belém do Pará, regra geral alcançaram parcos resultados, incompatíveis com as necessidades do mundo onde a pobreza predomina ou de países em desenvolvimento. Sobretudo no que tange a políticas de combate ao aquecimento global, à proteção do meio ambiente ou à conservação de biomas estratégicos.

Uma das apostas alardeadas pelo presidente Lula da Silva, o Fundo de Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF) não despertou interesse do Reino Unido, Alemanha, nem da China. A ausência chinesa soma-se à estagnação de negociações com a Índia e Japão e os demais países com os quais o Brasil acreditava contar com seus apoios, que não oficializaram compromissos. Mesmo da América Latina, nenhum apoio de peso. A baixíssima adesão ao TFFF decorre do baixo nível de confiança que o natimorto Fundo provocou junto aos 195 países integrantes da UNFCCC, a mãe das COPs.

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Mesmo que supostamente administrado pelo Banco Mundial, não foi capaz de gerar credibilidade dos demais signatários. Também devido à falta de planos, programas e projetos destinados a estancar os problemas climáticos que ameaçam a estabilidade ambiental da terra e propostas de políticas públicas que conciliem esses objetivos em favor do desenvolvimento econômico.

Além do mais, o ambientalismo excessivamente preservacionista da década de 1990, defendido por ONGs e alas ambientalistas radicais, no Brasil lideradas pela ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, esgotou-se na Amazônia como modelo para a região por dupla razão: primeiro, porque não conseguiu barrar a expansão da agropecuária capitalizada; segundo, devido a que a conscientização crescente da população amazônica, que demanda melhores condições de vida, resultou na criação de mercado de trabalho e renda e, portanto, no uso do seu patrimônio natural que deveria estar sendo explorado sustentavelmente.

O cerne da questão: a Amazônia brasileira permanece um imenso desconhecido, frustrando expectativas em relação ao seu valor econômico estratégico para o desenvolvimento nacional estruturado na revolução científica e tecnológica em curso, em sistemas inovadores que permitam utilizar a natureza sem destruição, colocando a biodiversidade na fronteira da ciência.

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Na verdade, o discurso a respeito de sustentabilidade ambiental desconhece ostensivamente alternativas brotadas da pesquisa, de inovações disruptivas, como os sistemas agroflorestais (SAFs) que sustentam a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), largamente empregado na Europa, China, Japão, Austrália, Índia ou mesmo pelo setor agropecuário do Brasil; o Manejo Florestal Sustentável (MFS) e a exploração de minerais e na produção de alimentos em cadeias ambientalmente sustentáveis em toda sua extensão.

É premente a criação de alternativas tecnológicas e econômicas que possibilitem sair do discurso abstrato da bio(economia) para um modelo de uso sustentável da biodiversidade. A Cúpula de Líderes reuniu 143 delegações internacionais, mas apenas 17 chefes de Estado e Governo, o que expôs os limites da estratégia brasileira de se firmar como voz do Sul Global, ao celebrar 10 anos do Acordo de Paris sem a presença dos maiores emissores à mesa. De acordo com o WRI (World Resources Institute), estiveram ausentes chefes de Estado de 4 das 5 economias mais poluidoras do mundo: Estados Unidos, Índia, China e Rússia.

De acordo com o último balanço da organização, tomaram parte apenas 31 representantes nacionais, quase metade do ano passado, na COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, e com cerca de 100 países a menos do que em 2023, na COP28, de Dubai. A ausência mais emblemática, certamente, é a dos Estados Unidos, o maior emissor.

O governo de Donald Trump (Republicano), que já retirou o país do Acordo de Paris, optou por não enviar nenhum representante a Belém. Em consequência, caem por terra as expectativas de 28 milhões de amazônidas que clamam por desenvolvimento de tecnologias (não propostas) capazes de conciliar o trinômio produzir, conservar, desenvolver. Mas, como na peça do irlandês Samuel Beckett, o Setentrião brasileiro continuará, pacientemente, “esperando Godot”.

Leia também: COP30: Fundo Florestas Tropicais para Sempre, repetição do Acordo de Paris 2015, futuro incerto

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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