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No artigo anterior falamos sobre o nosso relacionamento com os ciclos naturais, não foi? E ainda o quanto a observação dos ciclos naturais é importante ser quisermos ter uma vida mais fluida.
Em toda e qualquer tradição xamânica sempre vai existir a observação dos ciclos naturais.
É muito importante lembrar que nos primórdios da humanidade, o homem vivia em contato direto e permanente com a Terra, o Sol, a Lua e as Estrelas, sintonizado com os ritmos cósmicos e altamente influenciado pelas forças e manifestações da natureza. Com isso, talvez, possamos perceber que nosso ritmo de vida sempre esteve e sempre estará estritamente ligado ao ritmo da natureza.
O ciclo é uma estrutura-forma do tempo, no qual ocorrem as mudanças pertinentes àquele período. Um ciclo tem um padrão de começo, meio e fim. Representando esses ciclos, esses movimentos naturais, temos as rodas de medicinas xamânicas – essas rodas trazem a representação de todos os ciclos, energias e estações naturais bem como as direções ou rumos (norte, sul, leste, oeste).
A Roda Medicinal surge porque os povos ancestrais começaram a observar as estações, os movimentos cósmicos, os fenômenos naturais de cada estação e passaram a relacionar esses fenômenos com as forças emocionais e psíquicas humanas.
Essa ferramenta conhecida também como Roda Xamânica serve como um grande calendário que baliza a vida do homem. Na Roda temos a representação da viagem circular da Terra ao redor do Sol, representando o eterno ciclo de nascimento e desabrochar, crescimento e florescimento, maturidade e frutificação, envelhecimento e decadência, morte e decomposição e, novamente renascimento, ou seja, o ciclo universal que rege a tudo e a todos.
Cada mudança de estação é um fechamento de ciclo que deve ser marcado por um rito de passagem específico. Praticar esses ritos em forma de festivais sazonais ou outra forma qualquer, nos permite compreender melhor a linguagem do inconsciente, permite que tenhamos uma comunicação a um nível mais profundo com nossa essência.
Então temos, como exemplo desses ritos de passagem, os festivais de solstícios e equinócios. O Solstício, para quem não sabe, é o fenômeno que ocorre quando o Sol atinge dois pontos de afastamento máximo em relação ao Equador, e marca o dia mais curto do ano (solstício de inverno) e o dia mais longo do ano (solstício de verão). Já os equinócios marcam dois momentos em que o Sol se encontra exatamente sobre o equador, e nesse momento o dia e a noite tem a mesma duração.
A sabedoria principal é observar que aquilo que acontece por fora, nos ciclos naturais externos, acontece também por dentro, nos nossos ciclos naturais internos.
O movimento cíclico das estações do ano, da primavera para o verão, do outono para o inverno e novamente a primavera, sempre sinalizam que essas mesmas energias sutis também estão operando no organismo e na psique humana. Entender essa sabedoria ancestral nos possibilita obter maior equilíbrio físico, emocional, mental, sexual e espiritual.
Tá confuso? Vamos lá! Eu explico! Vejamos, por exemplo, a estação do Outono. Essa estação é ligada a direção Oeste. Essa é a fase onde as folhas começam a cair e a se decompor, é um momento de parada, de silêncio e meditação, de digestão das coisas acontecidas. É o período ideal para o estudo de si, encontro consigo mesmo, para a observação e o processamento de todo o vivido. É o momento ideal para a introspecção, pois traz a energia arquetípica da Grande Ursa hibernando em sua caverna. Então, esse é o período ideal para escutar e observar o mundo interior, para olhar, entender e curar as feridas da alma. Observe emoções ou padrões que você não quer mais em sua vida e então, deixe morrer e se decompor aproveitando a energia do outono.
O Inverno está ligado a direção Sul e traz a energia da renovação. É um tempo em que as coisas parecem estar adormecidas. O inverno traz a energia do intelecto, a sabedoria dos sábios, anciões e ancestrais, é um bom momento para preces e agradecimentos. No inverno, temos o impulso de ficarmos mais quietos, mais reservados, como se poupássemos energia. E, é exatamente isso! Esse é o tempo de conservar energias e concentrar esses recursos no planejamento, na busca de visões e de novas ideias que serão aplicadas em projetos que florescerão na primavera.
A primavera está ligada a direção Leste e traz a energia da claridade, da luz que vence a escuridão do inverno. É neste momento, que tudo nasce, floresce, se ilumina. Esse é o momento de fertilização, de fecundidade, da união das energias do sagrado feminino e do sagrado masculino. É o tempo de florescimento e manifestação dos projetos que traçamos durante o inverno. É o tempo propício para colhermos os resultados materiais daquilo que semeamos. A estação da primavera também impulsiona a energia sexual e cria um momento propício a relacionamentos amorosos verdadeiros. Na verdade, a primavera fertiliza todas as nossas relações. Então aproveite esse período e fortaleça sua relação com seus amores, amigos, familiares, com o meio ambiente e com o Sagrado (Deus).
O Verão está ligado a direção norte e traz uma energia de leveza, de diversão, comunicação e espontaneidade. Nos conecta a nossa criança livre. Traz a energia das águas, das nossas águas internas, das nossas emoções. Aqui a energia vital está no seu auge, então é um excelente momento para estabelecer um compromisso, consigo mesmo, com o seu crescimento e desenvolvimento, seja material, emocional ou espiritual.
Meus amigos, o que me parece é que essa sabedoria é algo que faz parte do inconsciente coletivo da humanidade.
Vocês conhecem um livro ancestral chamado Bíblia? Então….a Bíblia já nos alertava, em Eclesiastes 3, o seguinte:
“1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4 Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
6 Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7 Tempo de rasgar, e tempo de cozer; tempo de estar calado, e tempo de falar;”
E, Caetano já intuía e cantava:
“És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho: tempo, tempo, tempo, tempo…”
A sabedoria popular também tem um ditado sobre o assunto:
“O tempo dá, o tempo tira, o tempo passa e a folha vira…“