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Esbanjando muita fofura e carisma, os tripas mirins tem se tornado cada vez mais presentes em eventos bovinos tanto na capital amazonense, Manaus, como em seu berço de origem, na ilha de Parintins. A garotada que tem mostrado cada vez mais gostar do item 10 do Festival Folclórico, em que uma pessoa traz movimento ao boi, tem mostrado também que “brincar de boi” é algo não só para os adultos, é também coisa de criança.
As crianças que tem aderido a este item tem demonstrado interesse e talento ao se apresentarem com suas mini indumentárias e evoluções performáticas que as destacam como verdadeiros itens mirins.
O Portal Amazônia conversou com alguns desses itens que já tem demonstrado que uma nova geração de tripas, no Caprichoso e no Garantido, tem se dedicado a dar vida aos bois com força e dedicação, e com a vontade de ir mais longe: se tornarem um item oficial e dar vida ao seu boi no Bumbódromo de Parintins.
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Tripas mirins do Caprichoso: do DNA ao protagonismo
Nonato Júnior, o Nonatinho, é declarado “fã número 1” do atual tripa do Caprichoso, Alexandre Azevedo. Além de fã ele carrega consigo uma carga genética muito forte: é tataraneto do fundador do Caprichoso, Roque Cid.
O pai de Nonatinho, Raimundo Nonato Matos Cid, conta que a primeira apresentação pública do filho brincando de boi aconteceu em um evento paroquial em Manaus, no bairro São José. “Eu achava que ele não iria aguentar, mas ele foi lá e deu conta do recado, dançou igual o tripa, e de lá pra cá foi só evoluindo. Mandei fazer um boi do tamanho dele para evoluir com mais segurança”, lembra o pai.
O músico Hamilton Azevedo Júnior lembrou a primeira vez que viu Nonatinho. Sem saber que ele era tataraneto de Roque Cid, o músico viu no menino uma capacidade impressionante de trazer movimentos ao boi.
“Lá na igreja do São José onde eu toco, tem o boi mirim com todos os itens. Mas um dia me chamaram pra tocar em uma praça que estava sendo inaugurada lá na comunidade e a mulher que me chamou disse que lá tinha um Caprichoso. Então eu já nem me preocupei em providenciar o boi. Quando eu cheguei lá, eu vi um menino pequeno, na época tinha uns três anos, dançando com um boizinho que era de tala. Eu fiquei impressionado”, destacou Hamilton.

Outro tripa do Caprichoso que tem chamado atenção é na verdade uma tripa. Sim, uma menina. Heloiza Zumaeta é a primeira tripa mulher a se apresentar como item mirim do Caprichoso. A mãe até brinca que sonhava em ver sua filha como um outro item – como a sinhazinha ou cunhã-poranga.
“Eu sempre levei ela e o irmão dela pro “bar do boizinho” e ela sempre gostou. Aí eu tive um dia a curiosidade de perguntar: ‘filha que item você gostaria de ser?’ e ela disse ‘mãe eu quero ser tripa, me dá um boi de presente?’. Eu sempre sonhei em ver uma filha cunhã, uma sinhazinha, uma rainha do folclore, algo assim. Mas aí eu encomendei um boizinho de presente no aniversário de nove anos e daí ela seguiu como tripa. Uma cunhada minha até brinca que ela quer ser é protagonista”, contou Cristiane Zumaeta.

Tripas mirins do Garantido: admiração e dedicação
E do lado vermelho do Festival de Parintins também tem quem goste de ser “tripinha”. Um desses jovens talentos que sonha em ser tripa do Garantido é o Benjamin Gael, de 8 anos, que tem marcado presença em vários eventos em Manaus como tripa mirim do boi do coração vermelho.
O pai, Carlos André, tem sempre acompanhado o filho. Ele disse que ser tripa mirim foi algo muito natural na vida do Benjamim.
“Desde que ele era muito criança, ele pediu naturalmente de mim e da mãe dele que comprássemos um boizinho. Ele ganhou então um boi Garantido da avó dele, menor, e era algo que ele sempre brincou. Conforme ele foi crescendo o boi foi ficando pequeno. Então como vimos que era algo natural dele e fomos arrumando outros boizinhos conforme ele ia crescendo”, destacou Carlos André.

Também do lado encarnado, outro torcedor obstinado é o tripa mirim Ângelo Aguiar. Do elenco do bumbá, a admiração é por Batista Silva e Denildo Piçanã. No caso de Ângelo, escolher o boi preferido foi um ato totalmente involuntário. “Eu aprendi as danças com o meu pai, que era tripa do Boi Caprichoso, mas a minha escolha foi pro Garantido”, revela.
Há quase dois anos, a escolha do pequeno artista ganhou rumos profissionais. “Foi no aniversário da madrinha dele, apaixonada pelo Garantido, que ele pegou um boizinho que tinha em casa e evoluiu. O pai dele postou no Instagram, o Hamilton viu e começou a chamá-lo para participar dos eventos”, revela a mãe, Patrícia Santos, que é torcedora do Caprichoso.
E a rivalidade?
Que a rivalidade entre os dois bois de Parintins existe isso é um fato. As provocações, sátiras, entre outras peças de apresentações, fazem parte da disputa. Mas entre as crianças, o músico Hamilton Azevedo Júnior garante que as apresentações os tripas mirins é sadia.
“Em momento algum a gente incentiva a rivalidade, até porque eles são crianças. E é legal ver que eles só querem se divertir. É muito diferente dos adultos”, afirmou o músico.
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A produtora de eventos Socorro Andrade, responsável por alguns eventos de apresentação de itens mirins, como os tripas mirins em Manaus, garante que não há rivalidades: “É até lindo de se ver, porque sendo de lados opostos é possível até ver um incentivando o outro”.

*Por Hector Muniz, do Portal Amazônia