Todos os anos, a festividade acontece na vila de Alter do Chão, em Santarém, e chama a atenção não só pelas danças, mas também pelas músicas, gastronomia e rituais religiosos
A questão da grafia começou no final dos anos 90. Na época, a ideia era reforçar tradições locais e atrair a atenção do país para as festividades. Por essa razão, a Festa do Sairé passou a ser grafada como Festa do Çairé, com o cedilha (ç).
Porém, segundo o historiador Sidney Canto, a grafia ‘çairé’ surgiu pela primeira vez em 1875, mas se popularizou cem anos depois como Sairé, com ‘s’. Assim, voltando para os anos 90, mais precisamente em 1997, o ‘s’ é substituído por ‘ç’, apesar de não ser tão famoso entre a população.
A justificativa para a escolha do ‘ç’ seria a de que o termo tinha origem na língua indígena nheengatu. Essa justificativa não encontra respaldo científico, uma vez que, de acordo com Sidney Canto, Sairé tem origem catequética, cristã e, portanto, europeia. Mas é verdade que, segundo a antropóloga Luciana Goncalves de Carvalho, a grafia Çairé reforça a concepção local da origem e da identidade indígena e amazônica.
Çairé é a única palavra que começa com ‘ç’?
Já a professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Ediene Pena Ferreira, explica que é verdade também que, na ortografia oficial da língua portuguesa, não há dicionarizada nenhuma palavra que comece com ‘ç’. Isso porque o ‘ç’ “é considerado um sinal diacrítico para marcar o fenonema sibilante /s/ entre vogais, como em maçã ou maçaneta”.
“Sem o diacrítico, teríamos o fonema /k/ (maca). O mesmo acontece com o dígrafo ‘ss’, que só existe para preservar a etimologia do sibilante /s/, (como em ‘massa’ e não ‘masa’, que ser pronunciaria com o som de ‘z’)”, esclarece.
Por fim, sairé ou çairé são significantes que designam o mesmo, ou seja, é um instrumento que simboliza o dilúvio e as três pessoas da Santíssima Trindade.
“Na qualidade de professora de língua portuguesa, escolho escrever sairé, mas aceito çairé e entendo a opção de marketing para chamar atenção para festa”,
destaca Ediene.