Imersão em arqueologia pública e educação patrimonial em Costa Marques, Rondônia. Foto: Divulgação/UNIR
Durante o mês de novembro, o Quilombo Forte Príncipe da Beira, localizado no município de Costa Marques (RO), foi palco do evento A Terra é Meu Quilombo. A iniciativa promoveu uma imersão em arqueologia pública e educação patrimonial, unindo moradores e moradoras do quilombo, pesquisadoras da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), além de parceiros, em uma série de atividades que incluem escavações arqueológicas comunitárias, oficinas e rodas de conversa.
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O principal objetivo do evento é utilizar a arqueologia como instrumento de luta e fortalecimento identitário. A proposta vai além da pesquisa acadêmica tradicional, adotando uma prática decolonial e antirracista, na qual o conhecimento científico dialoga de forma horizontal com os saberes tradicionais da comunidade.

Trata-se de uma iniciativa da Associação Quilombola do Forte Príncipe da Beira (ASQFORTE), em parceria com a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), por meio do curso de Arqueologia, e está vinculado ao projeto de pesquisa “Arqueologia Histórica em Porto Velho, Rondônia: Coisas, Pessoas, Conflitos, Apagamentos e Resistências”, sob a coordenação da professora Juliana Santi (UNIR).
As escavações ocorrerão em quintais familiares e em uma área coletiva, com participação direta dos quilombolas, transformando-se em um espaço de troca, aprendizado e reconstrução da memória.
“Não estamos apenas procurando fragmentos do passado. Estamos desenterrando as provas materiais da nossa longa existência aqui, resgatando uma história que foi sistematicamente apagada. Cada fragmento encontrado no nosso quintal é um fio que tece a narrativa da nossa resistência e fortalece o nosso direito a esta terra”, afirma Lulu, presidente da ASQFORTE.
Programação aberta à comunidade

Além das escavações, o evento contou com uma programação diversificada e aberta ao público. Veja o que aconteceu na programação abaixo:
- Oficinas de Audiovisual “Nós por Nós Mesmos”: Jovens quilombolas serão capacitados para produzir um documentário contando sua própria história.
- Círculo de Mulheres “A Força que Vem da Terra”: Um espaço seguro para debater o papel central das mulheres na defesa do território.
- Cine-Diálogo no Dia da Consciência Negra: Exibição de filmes seguida de debate sobre resistência e cultura negra.
- Criação de um “Mapa da Memória”: Um painel coletivo que integrará os achados arqueológicos com as histórias de vida e os lugares sagrados da comunidade.
Sobre o Quilombo Forte Príncipe da Beira
É uma comunidade tradicional formada a partir do século XVIII por africanos e africanas escravizados, indígenas que estavam presentes no período da construção do Forte Príncipe da Beira e pessoas que fugiram de outros quilombos destruídos na região, como o Quilombo do Piolho.
Localizado às margens do Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia, o quilombo é um dos nove territórios quilombolas oficialmente reconhecidos pela Fundação Palmares no estado de Rondônia.
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Sua história é marcada pela resistência à escravidão e, atualmente, pela luta contínua pela titulação de suas terras tradicionais, essenciais para a preservação de seu modo de vida, que inclui agricultura itinerante, pesca, coleta e a manutenção de saberes ancestrais. O quilombo é, portanto, um guardião vivo da história afro-brasileira e um símbolo de resistência cultural na Amazônia.
*Com informação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
